Conferência Episcopal convoca assembleia extraordinária para analisar dados
Madrid, 27 out 2023 (Ecclesia) – A Provedoria da Justiça de Espanha apresentou hoje um relatório com dados sobre abusos sexuais na Igreja e na sociedade, perante o Congresso dos Deputados, após um inquérito a 8013 pessoas.
O documento, intitulado ‘Uma resposta necessária’, indica que 11,7% dos inquiridos disse ter sofrido abusos sexuais antes dos 18 anos de idade.
Quanto ao contexto eclesial, 0,6% dos inquiridos disse ter sofrido abusos por parte de um sacerdote ou religioso católico, “número semelhante ao encontrado em estudos realizados noutros países”, indica o relatório.
A percentagem sobre 1,13% quando se incluem instituições de ensino pertencentes à Igreja Católica.
A maior taxa de resposta refere-se ao âmbito familiar (34,1% dos abusos), seguidos da via pública (17,7 %), instituições educativas não religiosas (9,6 %), âmbito social não familiar (9,5 %), âmbito laboral (7,5 %), internet (7,3 %), âmbito educativo religioso (5,9 %), âmbito religioso (4,6 %), espaços de lazer (4 %), instituições desportivas (3 %) e instituições de saúde (2,6 %), entre outros.
Para realizar a investigação, a Provedora de Justiça recolheu dados das vítimas através de inquéritos e testemunhos diretos.
A Unidade de Assistência às Vítimas – criada para dar resposta ao trabalho – entrevistou pessoalmente 457 vítimas, que deram o seu testemunho; o estudo incluiu um inquérito encomendado à empresa GAD3, às referidas 8013 pessoas, por via telefónica e online.
Segundo a relatório, “a prevalência é maior à medida que aumenta a idade” das vítimas, na atualidade: 3% dos abusos cometidos por membros do clero e institutos religiosos, nos testemunhos de pessoas entre 18 e 29 anos, face a 10% na faixa etária superior aos 65 anos; no campo educativo religioso, há 2% de vítimas dos 18 aos 29 anos, contra 11% com mais de 65.
“Este resultado pode indicar que o fenómeno vem diminuindo”, pode ler-se.
Ángel Gabilondo, provedor de Justiça, falou em conferência de imprensa, evitando interpretar ou extrapolar os dados do inquérito encomendado à GAD3.
O responsável propôs um fundo estatal de indemnização para as vítimas, que “merecem ser ouvidas, cuidadas e retribuídas”, criticando “o silêncio daqueles que poderiam ter feito mais para evitar” os casos de abusos, na Igreja.
Segundo o documento, a resposta da Igreja Católica passou “pela negação ou minimização do problema”, tendo as medidas e posições “mais firmes”, na sequência de diretrizes da Santa Sé, sido “mais orientadas para a prevenção do que para a reparação”.
“Algumas vítimas tiveram deenfrentar não só a negação e ocultação, como até pressões e reações dos seus representantes, nas quais foram responsabilizadas pelos abusos sofridos”, assinala o texto.
O relatório recomenda a realização de um evento público para reconhecer as vítimas, a criação de um fundo estatal para pagar indemnizações, que a Igreja forneça meios para ajudar as vítimas no processo de recuperação e reformas regulamentares para prevenir abusos e reparar as vítimas.
A Conferência Episcopal Espanhola (CEE) convocou para a próxima segunda-feira uma assembleia plenária extraordinária, com dois pontos na agenda: o estudo e avaliação do relatório apresentado pelo provedor de Justiça e o estudo do pedido do Escritório Cremades & Calvo Sotelo para “prorrogar o prazo de entrega dos trabalhos” que está a realizar em nome do episcopado católico, neste campo.
A 29 de março, o presidente da CEE, D. Juan José Omella, referiu que a Igreja Católica entregara ao provedor de Justiça seis volumes com todos os dados recolhidos pelas dioceses e congregações religiosas sobre casos de abuso de menores.
OC