O director geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas do Ministério de Cultura espanhol, Rogelio Blanco, anunciou que em breve a Espanha poderá completar o seu arquivo do Tribunal da Inquisição graças a um acordo de intercâmbio de documentos com a Santa Sé. Balnco informou que em Setembro haverá uma reunião com D. Alejandro Cifres, director do arquivo do Santo Ofício, “para completar os processos mais relevantes do Tribunal da Inquisição na Espanha, já que estes se iniciavam aqui, mas as apelações e recursos perante a Santa Sé ficavam no Vaticano e não voltavam”. “Hoje dispomos de uma informação incompleta sobre os mesmos que pretende desculpar-se com esta troca de documentos microfilmados: nós facilitamos ao Arquivo da Santa Sé os inquéritos da parte espanhola dos quais carece, e este proporciona ao Estado espanhol a parte romana, fechando um círculo de informação extremamente interessante para o conhecimento da História”, explicou. Blanco indicou ao jornal ABC de Madrid que “toda a informação que possamos obter neste intercâmbio passará a engrossar a Secção de Inquisição do Arquivo Histórico Geral de Salamanca. Além disso, temos a intenção de incorporá-la ao Plano de Arquivos Estatais em Rede (AER), projecto que precisa de ser impulsionado e melhorado, para que, através da Internet, esses recursos possam ser consultados pelos pesquisadores de qualquer parte do mundo”. O Vaticano publicou em Junho um volume com mais de 800 páginas relativas ao período da Inquisição, fruto do trabalho de um Simpósio Internacional convocado em 1998. No ano 2000, por ocasião da Jornada do Perdão e Purificação da Memória a questão da Inquisição foi classificada como uma forma de contra-testemunho e de escândalo, um método de intolerância e de violência no serviço da verdade que deforma o rosto da Igreja. O dossier do Vaticano reconhece que “os procedimentos previsto foram aplicados com um rigor excessivo que, em certos casos, degenerou num verdadeiro abuso”. Apesar disso, o responsável pelo volume sobre a Inquisição, Agostino Borromeo, explica que o recurso à tortura e à pena de morte “não foi tão frequente como se acreditou durante muito tempo”. Para Borromeo, é importante manter a atitude dos historiadores contemporâneos, “que já não utilizam este tema para defender ou atacar a Igreja”. Neste sentido, considerou que a abertura dos arquivos secretos da antiga Congregação do Santo Ofício, em 1998, permitiu “prescindir de lugares comuns e preconceitos”. O historiador explicou que na Espanha, por exemplo, 3,5% dos processos levados a cabo entre 1540 e 1700 resultaram em penas de morte. Os números mais altos são os da Inquisição portuguesa, com quase 6% de condenações à morte. Em Portugal existiu uma Inquisição de Estado. Tinha tanto o objectivo de defesa da fé como a defesa da unidade política e da estabilidade interior. O Inquisidor-mor era um súbdito do rei e os confiscos impostos aos condenados eram em proveito da coroa. O Papa Clemente VII opôs-se à instalação da Inquisição em Portugal com o argumento de que os cristãos novos portugueses eram convertidos à força e também por suspeitar que o objectivo dessa instalação era mais político e económico do que religioso. Apesar disto, eleito em 1535, o Papa Paulo III autoriza em Maio do mesmo ano a instalação da Inquisição e a Bula é publicada em Évora, onde residia a Corte, num Domingo, 22 de Outubro de 1536. Particularmente activa nos séculos XIII e XIV a Inquisição destinava-se a combater os movimentos heréticos medievais e, mais tarde, nos séculos XVI e XVII, viria a assumir maior poder, sobretudo, na Península Ibérica, com a fundação de novos tribunais. Foi também nessa época que foi constituída a Sagrada Congregação do Santo Ofício, inicialmente concebida como instrumento de luta contra a difusão do protestantismo.