Escuteiros querem «Sentir… Guiné-Bissau»

Caminheiros de Caxarias enviaram seis toneladas de material. Em Setembro, partem para uma «acção de ajuda e voluntariado»

A Escola-Orfanato de Canchungo e o Hospital de Cumura são os beneficiários da iniciativa «Sentir… Guiné-Bissau», promovida por dez escuteiros e um dirigente do Agrupamento de Caxarias (Ourém), bem como pelo pároco, Pe. Sérgio Henriques. A primeira parte do projecto concretizou-se a 22 de Agosto, através do embarque de um contentor com medicamentos, equipamento hospitalar e informático, livros para o ensino da Língua Portuguesa e um parque infantil.

A segunda fase da missão decorrerá entre 6 a 19 de Setembro, quando o grupo for ao encontro das duas instituições, para conhecer e trabalhar numa realidade que, até agora, só conhece através da comunicação social. A estadia tem como objectivos assegurar que os bens são entregues, realizar acções de formação para técnicos hospitalares e professores, e contribuir para a montagem do parque infantil.

Tudo começou pelo desejo de servir

“O que nos despertou inicialmente para este tipo de iniciativa foi um serviço de voluntariado”, explicou à Agência ECCLESIA o dirigente Gonçalo Marques. “A componente do serviço é uma forma de crescimento que se pretende que o caminheirismo manifeste”, acrescentou, aludindo às características da secção que, no escutismo, abarca os jovens mais velhos.

O passo seguinte consistiu na escolha do local. Depois de ter decidido que a iniciativa se iria realizar num dos PALOP, o grupo optou pela Guiné-Bissau. O site do projecto descreve algumas das condições de vida da população: “A pobreza absoluta atinge ainda dois em cada três guineenses. As pandemias do HIV/SIDA, paludismo e tuberculose continuam a progredir”; “uma em cada seis crianças não atinge os cinco anos de vida”; “em média, cada mulher guineense ‘dá à luz’ sete vezes, sendo aos 15 anos de idade que ocorre o primeiro parto”; “a extrema fragilidade da situação humana e a fraca cobertura do país em termos serviços sociais resulta numa esperança de vida de apenas 44 anos”.

Antes de passar à acção, faltava seleccionar as entidades abrangidas. Foram designadas a Escola-Orfanato de Canchungo, que acolhe mais de 600 crianças e jovens, e o Hospital de Cumura, que, apesar dos seus escassos recursos, se distingue por estar em funcionamento há várias décadas e por oferecer condições que não existem noutras instituições homólogas. Ambos os organismos são geridos pelos Franciscanos.

O projecto não pretende ter uma dimensão política. Mas sempre que a iniciativa foi apresentada, “as pessoas foram alertadas para o facto de a Guiné viver há muito tempo numa situação muito delicada”. Por isso, acrescenta Gonçalo Marques, é necessário “que as autoridades competentes olhem para esta situação e tentem ajudar o país a encontrar a paz e o rumo de desenvolvimento”.

Generosidade acima das expectativas

Os resultados da campanha superaram as expectativas em relação à quantidade e qualidade dos equipamentos reunidos. Desde que o projecto começou, em Setembro de 2008, houve “um grande apoio ao nível da nossa comunidade e das paróquias vizinhas”, reconheceu Gonçalo Marques.

Parte dos bens foi oferecida por empresas e particulares. O restante material, assim como os custos logísticos do projecto, foram financiados através dos lucros obtidos no concerto realizado a 17 de Abril, em Fátima, em que participaram Luís Represas, João Gil, Pedro Vaz, Rao Kyao e a banda Humus. Os escuteiros recorreram igualmente à venda de t-shirts e a outras acções de angariação de fundos.

Uma das primeiras preocupações do grupo foi a de “dar a cara”, assumindo a responsabilidade pela concretização da campanha diante das comunidades e empresas. Por isso, e porque pretenderam envolver a diocese – o projecto foi apresentado a cerca de 20 paróquias – submeteram previamente o plano de acção ao bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto: “Foi com bastante agrado que ele acolheu a nossa iniciativa e nos o deu apoio para ela”, referiu o dirigente do agrupamento de Caxarias.

Depois do adeus

A terceira e última parte do projecto ocorrerá após o regresso da Guiné. O grupo compromete-se a divulgar a lista dos bens reunidos e a comprovar a entrega do material. Os escuteiros pretendem igualmente testemunhar a experiência vivida em Canchungo e Cumura.

Depois das contas prestadas, Gonçalo Marques gostaria a iniciativa tivesse continuidade, através de um novo grupo de caminheiros, ou mesmo com outro agrupamento.

Foto: Hospital de Cumura (pavilhão 3)

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