Erradicar a pobreza

João César das Neves

«Pobres sempre os tereis convosco» (Jo 12, 8)

Esta palavra de Jesus, apesar de continuamente confirmada nos últimos 2000 anos, deixa muita gente incomodada. Alguns, mais voluntaristas, chegam mesmo a revoltar-se contra ela. Como pode ser isso, se vamos erradicar a pobreza? No entanto o nosso tempo é o primeiro que pode confirmar a perspicácia e realismo económico da sentença.

Durante milénios a humanidade esperou que, se um dia se resolvessem os velhos problemas estruturais e houvesse riqueza suficiente para todos, a pobreza desapareceria. Esses anseios embatiam sempre contra a dura realidade produtiva, mas o sonho ia permanecendo. Nos dias que correm, graças ao desenvolvimento global, pela primeira vez na História o mundo atingiu o velho anseio. Hoje existem bens que chegam e sobram para todos, não só a nível planetário mas, ainda mais, dentro dos países modernos como o nosso. Os nossos bens ultrapassam em muito o necessário para dar a cada um o indispensável. Apesar disso a pobreza permanece. As entusiásticas proclamações política de erradicação da pobreza têm embatido contra algo mais profundo e influente que a realidade produtiva.

É verdade que esse desenvolvimento teve excelentes efeitos sobre as carências sociais. Foram eliminadas as formas mais dramáticas e profundas de pobreza e elevou-se o nível de vida de toda a sociedade, mesmo das classes inferiores. Aquela antiga miséria endémica que dominou largos extractos da população é hoje, felizmente, uma memória evaporada. Há serviços públicos de saúde e educação e apoio à habitação e alimentação. Mas surgiram novas formas de pobreza, urbanas e sofisticadas, não menos dolorosas e paralisantes. Hoje podemos dizer com maior segurança que conseguimos provar objectivamente que pobres sempre os teremos connosco.

Isto não significa que devemos desanimar ou desistir de combater a pobreza. Mas diz-nos que a pobreza, tal como a doença, o crime e a corrupção, é um mal humano profundo, que teremos sempre de atacar e vencer, sem nunca completamente o erradicar. Os meios de combate tem de compreender esta evidência.

A verdadeira causa da pobreza não está na produção mas no coração. Assim, a única política verdadeiramente eficaz é o arrependimento dos pecados e a conversão de vida. Precisamente aquilo que o nosso tempo está ainda mais renitente a fazer que os antigos. Só mesmo dizer que a cura da pobreza é religiosa é impossível nos dias que correm. Não admira que a pobreza prolifere.

A causa da pobreza é o pecado. Por isso a verdadeira forma de a erradicar está n’Aquele que disse que pobres sempre os teremos connosco. O seguimento de Jesus Cristo, numa vida de fé, esperança e caridade, pode mudar a sociedade. A justiça não floresce sem o adubo da crença. Mas a sociedade, não só se recusa a ouvir isto, mas persegue aqueles que o dizem. Como Jesus também previu. Por isso é que pobres sempre os teremos connosco.

João César das Neves

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top