Responsáveis católicos destacam atualidade da mensagem de Bento XVI para o Dia da Paz 2013
Lisboa, 31 dez 2012 (Ecclesia) – O bispo das Forças Armadas e de Segurança afirmou que o Governo português devia “ler e meditar muito” a mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz 2013, na qual se critica a “erosão da função social do Estado”.
D. Januário Torgal Ferreira diz à ECCLESIA que há um “ataque à vida” na sociedade e que entre os “direitos e deveres sociais” mais ameaçados está o “direito ao trabalho”.
“O justo reconhecimento do estatuto jurídico dos trabalhadores não é devidamente valorizado”, indica.
O prelado refere mesmo que, ao ler o documento, ficou com a impressão de que “Bento XVI veio a Portugal nos últimos dias”.
“Estamos a falar de uma plataforma social onde a vida está a ser lesada, assassinada: há muita gente que acha que a vida perdeu sentido, sabor. Nós acreditamos que a vida não acabou, que ainda haverá forma de reconstituir este tecido social”, acrescenta.
D. Januário Torgal Ferreira fala num Estado Social “de rastos”, convidando à “contemplação dos grandes valores e princípios” defendidos pela Igreja neste campo.
Na sua mensagem para a celebração anual de 1 de janeiro, o Papa sustenta que além da diminuição do papel dos organismos estatais no apoio às pessoas mais desfavorecidas, “as ideologias do liberalismo radical e da tecnocracia insinuam, numa percentagem cada vez maior da opinião pública”, a mesma atitude para as “redes de solidariedade da sociedade civil”.
O texto vinca que é “imprescindível” a “estruturação ética dos mercados monetário, financeiro e comercial, que devem ser “melhor coordenados e controlados, de modo que não causem dano aos mais pobres”.
Para Maria do Rosário Carneiro, vice-presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, é essencial colocar a pessoa como “centro da construção da comunidade”.
“Este é um discurso [de Bento XVI] de desinstalação”, observa, frisando que o combate à pobreza e desigualdade exige “uma militância constante”.
Margarida Saco, do movimento ‘Pax Christi’, frisa os exemplos de “gestos de paz” dados pelo Papa que devem ser concretizados nos momentos concretos de cada dia e elogia a alusão ao direito ao trabalho, essencial para respeitar a “integridade” de cada pessoa.
Bento XVI escreve que é necessário encarar como “prioritário o objetivo do acesso ao trabalho para todos”, um dos “direitos e deveres sociais atualmente mais ameaçados”.
O padre João Lourenço, diretor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica, sublinha que a paz é “uma construção que nasce do coração”, exigindo uma “harmonia interior” que leve ao encontro com os outros.
“Temos uma desarmonia universal, neste momento, muito grande, muito profunda”, lamenta.
Isabel Bento, da comunidade católica de Santo Egídio, destaca por sua vez a transversalidade do texto papal, dirigido a crentes e não crentes, admitindo que é particularmente dirigida à Europa num momento em que os Estados se “têm de questionar”.
“O que é que queremos fazer para o futuro, politicamente?”, pergunta, pedindo “homens e mulheres com coragem” para poder “dar a volta” à atual situação.
A mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial da Paz está em destaque no programa ECCLESIA rádio pública (Antena 1, 22h45) entre hoje e segunda-feira.
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