Os secretários de 27 Conferências Episcopais da Europa reuniram na cidade de Leopoli (Lviv), na Ucrânia, de 9 a 13 de Julho, numa iniciativa promovida pelo Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE) em que esteve em destaque a apresentação da nova encíclica de Bento XVI, "Caritas in veritate".
O secretário da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), Pe. Manuel Morujão, foi um dos participantes no encontro e refere à Agência ECCLESIA que esta é "uma Encíclica realista e optimista ao mesmo tempo".
"O facto de o Papa, há poucos dias, ter oferecido pessoalmente este documento ao Presidente Obama, é significativo do que a Igreja espera do mundo político para reorientar o centro da economia e do desenvolvimento na pessoa humana, promovendo uma verdadeira e genuína caridade, «caritas in veritate»", acrescenta.
Na Ucrânia, o documento foi apresentado pelo Pe. Hans Langendörfer, secretário da Conferência Episcopal Alemã, o qual evidenciou três prioridades desta Encíclica: a centralidade da pessoa humana; a dimensão social da economia; e a globalização.
"Bento XVI sublinha, com meridiana clareza, que a orientação central da economia e da técnica tem que ser o bem comum e o desenvolvimento integral da pessoa humana. A economia de mercado tem necessidade de uma ética amiga da pessoa. Neste sentido a religião cristã pode seguramente contribuir para o desenvolvimento dos povos, com a condição de que se dê lugar a Deus na vida pública", indica o Pe. Manuel Morujão, a este respeito.
Para este responsável, "a dimensão social da economia significa que é uma economia centrada o bem da pessoa e que não admite exclusões de ninguém. Toda a pessoa tem o direito de participar no mundo do mercado e do trabalho".
"O Estado deve estar aberto a uma maior participação da sociedade civil, dos sindicatos e de outras instâncias sociais como a Igreja. Desta crise temos que aprender que o mercado não pode ficar entregue somente às suas próprias leis e interesses, mas tem que inspirar‑se e regular‑se pela ética do serviço da pessoa humana. O desenvolvimento mais do que uma questão técnica é um assunto antropológico". Acrescenta.
Os secretários das Conferências Episcopais da Europa reflectiram sobre as causas do subdesenvolvimento, que "não são primariamente de ordem material, mas têm raiz na vontade, no pensamento e na falta de fraternidade entre os homens".
"O fenómeno incontornável da globalização deve tornar‑se um instrumento de solidariedade e de integração dos países pobres. A globalização precisa de uma orientação personalista e comunitária, aberta à transcendência", precisa o secretário da CEP.
Este responsável destaca o acolhimento das duas Conferências Episcopais Católicas na Ucrânia, que convidaram e hospedaram os visitantes: o Sínodo dos Bispos Greco-Católicos, de rito bizantino, e a Conferência Episcopal dos Bispos de rito latino.
"A presença de representantes das várias Conferências Episcopais da Europa, oriental e ocidental, era uma confirmação da fé de quem teve que suportar a perseguição durante os decénios da dominação soviética. Para nós, visitantes, foi uma lufada de ar fresco contactar com uma Igreja viva, jovem e sem complexos de expressar publicamente a sua fé", confessa.
Eutanásia, família, Igreja e Media
Outros temas abordados neste encontro, segundo comunicado do CCEE enviado à Agência ECCLESIA, foram questões como a eutanásia, a família ou a relação com os media.
Na Europa, pode ler-se, "assistimos à difusão de fenómenos que lesam gravemente a dignidade da pessoa, que preocupam a Igreja, por causa do modelo antropológico que veiculam, muito afastado da cultura da vida e do modelo natural da família".
Os secretários dos episcopados europeus analisaram o caso de Eluana Englaro, italiana falecida no passado mês de Fevereiro após ter sido retirada a sua sonda de alimentação.
A reunião também abordou a situação das agências inglesas católicas de adopção, que se negaram a gerir processos de adopção de crianças para uniões homossexuais, pelo que foram obrigadas a fechar.
As jornadas começaram com uma apresentação da Igreja católica na Ucrânia, a cargo do Cardeal Lubomyr Husar, Arcebispo maior de Kiev, e das relações entre o Estado e a Igreja Ortodoxa, a cargo do núncio apostólico, D. Ivan Jurkovich.
Sobre a relação com os media, os participantes afirmam que é necessário "reforçar o profissionalismo num meio que é, por vezes, muito hostil". Os preparativos para as Jornadas Mundiais da Juventude de Madrid, em 2011, foram outro tema do encontro.
Estiveram representados os episcopados da Albânia, Alemanha, Áustria, Bielorrússia, Croácia, Escócia, Eslovénia, Espanha, França, Holanda, Hungria, Inglaterra e País de Gales, Irlanda, Itália, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Polónia, Portugal, República Checa, Roménia, Rússia, Suíça, Turquia, as duas conferências da Ucrânia e a conferência internacional dos Santos Cirilo e Metódio. A organização foi do CCEE, cujo secretário é o sacerdote português Duarte da Cunha.
O próximo encontro dos secretários das Conferências Episcopais da Europa acontecerá em Roma, de 10 a 13 de Junho de 2010.