Doentes mentais precisam de respostas integradas para processo que não se reduz a «tratamento médico» Mais que uma presença, os familiares podem ajudar a contrariar a estigmatização da doença mental na sociedade. Esta é uma das grandes conclusões do I Encontro Nacional de Associações de Família na área da Saúde Mental. A psiquiatria não se pode reduzir a tratamento médico” e a intervenção psico social é cada vez mais importante, indica a directora da Casa de Saúde de Barcelos, Isabel Bragança. A presença deve fazer-se sentir desde o primeiro dia, onde se começa a trabalhar o “modelo para a alta do paciente”, desata a enfermeira à Agência ECCLESIA. As famílias, ou o cuidador privilegiado, têm de ser os primeiros a aceitar a doença mental como outra doença e fazer com esta realidade passe para o seu ambiente familiar e social. Apesar este ter sido o primeiro encontro, a reflexão sobre o papel das famílias na saúde mental não está no princípio. A Casa de Saúde São João de Deus junto com a Associação dos Familiares e Amigos dos Utentes da Casa São João de Deus desenvolver esta reflexão que aposta numa estratégia que não é nova, pois a proposta do Instituto de São João de Deus visa incluir os familiares tanto na abordagem aos utente como no processo de tratamento. A recente reorganização dos cuidados de saúde mental relança a pertinência “pois sem uma família sensibilizada para as questões e presente, não é possível consolidar reformas em curso”. Recentemente, o governo lançou medidas que visam a protecção dos direitos humanos das pessoas com problemas de saúde mental e que chamam a atenção para a necessidade da sua integração, assegurando o acesso equitativo a cuidados e a aproximação destes cuidados às pessoas, facilitando a participação das comunidades, dos utentes e das famílias. Através da integração dos cuidados de saúde mental no sistema geral de saúde, pretende-se facilitar o acesso e a diminuir a institucionalização. Na perspectiva da casa São João de Deus, Isabel Bragança destaca que gostariam de ter as famílias mais presentes, estando a trabalhar nesse sentido, em parceria com a Associação. Nessa conformidade, seguem também as grandes linhas de orientação para o Plano de Saúde mental que colocam uma grande tónica na sociedade e família. “Será uma nova era de abordagem ao doente mental”, destaca. O papel das associações não se limita à partilha de experiências comuns, mas é um passo em frente na “ajuda entre familiares”, indica Isabel Bragança. Numa fase onde as pessoas estigmatizam o doente mental, a família é central neste quadro. “Poder-se-ão criar forças se houver um esforço e uma abordagem comum”. A mudança de paradigma dos doentes mentais obriga a um reposicionamento das famílias e requer uma resposta efectiva de cuidado. Para as preparar, “as associações têm um papel fundamental”. Isabel Bragança, enquanto directora da Casa de Barcelos, assume que percebe que os familiares já estão despertos para essa necessidade. Mas este trabalho requer continuidade e “que se seleccione as melhores estratégias para passar a mensagem”, aponta, porque acredita que o pólo familiar é essencial ao ser humano, no geral e não se pode demitir. A directora da casa de Barcelos espera que daqui a uns anos se possa falar das famílias “como uma peça fundamental neste processo”. Experiência em hospitais públicos Também nos hospitais públicos se desenvolvem estratégias de integração. Um comunicado enviado à Agência ECCLESIA, dá conta que três Hospitais portugueses lançaram um programa de integração de doentes mentais na sociedade. “Equipas de médicos visitam os doentes em casa para prestar apoio e prevenir recaídas”, aponta o comunicado. . O Departamento de Psiquiatria do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, o Serviço de Psiquiatria do Hospital Amadora-Sintra e o Serviço de Psiquiatria do Hospital S. Teotónio, em Viseu, são três serviços hospitalares nacionais que desenvolvem esta experiência, a partilhar no III Congresso Nacional de Psiquiatria, a decorrer entre 13 e 16 de Novembro. Tratam-se de programas desenvolvidos por equipas multidisciplinares de médicos que actuam junto da comunidade. Estes programas de integração têm como objectivo diminuir a frequência e a gravidade das recaídas dos doentes mentais graves, aumentando a sua adesão à terapêutica através de um seguimento mais próximo. “Em 2006, fizemos 1.496 visitas a doentes mentais graves. As equipas são constituídas por dois médicos, um psicólogo, uma assistente social, dois enfermeiros, um coordenador de projecto e uma técnica de psicomotricidade”, refere Graça Cardoso, Directora do Serviço de Psiquiatria do Hospital Amadora-Sintra. As actividades terapêuticas desenvolvidas promovem a adesão dos doentes à sua medicação, uma maior ligação à equipa comunitária, melhoram as relações familiares e permitem a reabilitação e reintegração sócio-ocupacional.