Primeiro foi a formação em Política Social, mas a Psicologia foi sempre um objetivo de Isabel Sousa, que hoje, assume, está no sítio certo a acompanhar idosos e as suas famílias, através da psicogerontologia e neuropsicologia.
A demência é a sua área de eleição e o seu caminho é o combate ao estigma que pacientes e cuidadores sofrem envolvidos em falta de informação que os atira, antecipadamente e de forma desconhecida, para uma fase final da doença. Mas há muito para se viver até lá: em estímulos, promoção de autonomia, valorização das pessoas e das suas vidas até ao fim.
Co-autora do livro «Viver com Demência», Isabel Sousa preconiza a implementação de «Comunidades amigas da Demência» e literacia alargada como forma de combater estigmas e alargar cuidados a pacientes e cuidadores.
«Ainda há uma representação social da demência como a pessoa completamente incapaz. Mas sendo esta condição evolutiva e degenerativa, os primeiros sinais acontecem quando a pessoa está autónoma, com a sua voz e capacidade muito mantida. A sociedade – e os meios de comunicação social têm um papel preponderante – representam as pessoas com demência já não conhecendo os seus familiares, sem memória da sua vida. Estamos a empurrar as pessoas para a fase final, que é real, mas há anos da evolução da doença antes disso. Quase como se a pessoa deixasse de ser pessoa; e a pergunta que é faço é quando é que as pessoas deixam de ser pessoas? E nunca deixam de ser pessoas. Porque o ser pessoa não depende se eu tenho ou não memória. A pessoa está lá, continua lá, o cérebro é que já não faz a ligação».
«É importante aceitar que a velhice tem uma dimensão de solidão mas também de possibilidade do que está para vir e isso dá esperança. Envelhecer bem convida a ter os olhos postos no futuro, desfrutar ainda do que se tem pela frente e, se não for muito tempo, que seja desfrutando o melhor possível».
«Estamos a tirar autonomia a quem está a perder autonomia, quando devíamos cuidar do que as pessoas ainda conseguem fazer, quer cognitivamente como no seu dia-a-dia. A perda de capacidade muitas vezes é precoce porque não se permite à pessoa continuar a fazer o que ainda consegue fazer com autonomia. A pessoa tem de ser o mais autónoma possível, em cada momento e de acordo com as suas capacidades. O que estamos a dizer é «tu não sabes fazer». Estamos a esquecer que a pessoa consegue fazer e a achar que é melhor não o fazer».
«Hoje estamos um pouco mais à frente do que estávamos há 10 anos quando iniciei o meu trabalho nesta área. Uma das orientações da OMS é que os países tenham planos nacionais para a demência e Portugal não tinha, entretanto publicada há uns anos – Estratégia nacional da saúde para as demências, ou seja, estamos um passo à frente, mas ainda não saímos do papel. Foi pedido às administrações regionais de saúde que fizessem os seus planos locais, foram feitos e aprovados mas tanto quanto tenho conhecimento, ainda não saíram do papel.»