Entrevista: «Que a Guarda não seja só um sítio de passagem turística», afirma o novo bispo da diocese

D. José Miguel Pereira assume a coordenação de uma diocese com 800 anos de história, sonha construir «uma realidade assente na comunhão» que tem na sinodalidade «a oportunidade do caminho necessário» para «encontrar espaços de comunhão e de partilha de responsabilidades», numa região com «potencialidades para a vida acontecer»

Foto Agência ECCLESIA/PR, D. José Miguel Pereira

Quem é o novo bispo da Guarda que tem raízes familiares no Fundão e e vocacionais nas Penhas Douradas? Há aqui uma aproximação ás raízes que agora é definitiva?

Parece que sim e graças a Deus! Nosso Senhor assim quis e é com alegria e entusiasmo que iniciamos esta etapa.

Fazia encontros do pré-seminário de Lisboa na Casa de Manteigas, na colónia de férias de Manteigas, nas Penhas Douradas, e a minha mãe é do Fundão. Até aos 14 anos passava, algumas vezes, férias de Verão, na casa dos meus avós no Fundão. E é assim, parece que Nosso Senhor vai dispondo as coisas…

Como é que foi articulando essa ligação a meios mais rurais, nomeadamente aqui desta região, com a cidade de Lisboa, onde vivia?

Como lhe digo, era sobretudo no Fundão. Nós, na altura, nem sequer carro tínhamos: apanhávamos o comboio em Santa Apolónia e saíamos na estação do Fundão e era pelo Fundão que ficávamos. O Fundão era uma vila grande, mas não era propriamente assim uma aldeia rural. Eu nunca tive muito a experiência de aldeias rurais, a não ser em determinadas viagens de visita. A articulação era sobretudo em Lisboa e depois nos meus avós que, ainda por cima, faziam o inverno em Lisboa e o verão no Fundão.

A vida escolar foi na cidade de Lisboa?

Sim, sempre estudei na cidade de Lisboa.

Como foi o despertar vocacional?

O despertar vocacional aconteceu no ritmo normal da vida na comunidade paroquial, onde comecei a acolitar, em São João de Brito. O padre Lereno, de vez em quando, falava no assunto para os jovens acólitos e a questão foi trabalhando dentro do coração. Fui resistindo, mas ao mesmo tempo achando que Nosso Senhor sabia melhor o que é que havia de ser bom para mim. A dada altura, já não bastava perguntar e depois não ir à procura da resposta. Começaram a vir convites para ir a um encontro vocacional, etc, perguntei ao padre a quem me confessava se não era de ir ouvir o que Nosso Senhor tinha para me dizer. Fui ver, fiquei num percurso de formação.

É já no secundário que decide entrar no seminário…

No secundário… Só entrei no seminário já depois para a faculdade. Esse percurso no secundário é feito em ritmo externo: estou na família, estou na escola Rainha Dona Leonor e depois na Escola nº 2 dos Olivais, vou aos encontros do pré-seminário e é aí que aprece a decisão de passar para o seminário, já quando termino o secundário.

A formação no seminário foi no ambiente de Lisboa e pensou que o seu sacerdócio ia ser no Patriarcado de Lisboa, no ambiente da cidade, na zona mais a oeste. Era para aí que estavam os seus horizontes?

No Patriarcado de Lisboa era. Foi para aí que me ordenei e era esse o horizonte. O ser na cidade ou ser mais no Oeste: sempre achei mais estimulante o Oeste. Aliás, no pré-seminário cheguei a fazer alguns campos apostólicos na Diocese de Bragança, na Diocese de Lamego, em Nave e Vila Boa na Diocese da Guarda e achei que era muito estimulante a vida junto das comunidades, no concreto, e não na grandeza da cidade de Lisboa onde é tudo mais anónimo. Sempre achei que o horizonte era no Patriarcado de Lisboa, até que Nosso Senhor, agora, me abriu esta zona da Diocese da Guarda.

O rebuliço da cidade de Lisboa levou-o mesmo a fazer sonetos a pensar no que ia acontecendo cada dia?

Não sabia que sabia disso. Sim, eu uma vez…

Nós ouvimos o programa em Ecclesia, onde declamou o soneto…

Ah, é verdade, é verdade, eu disse lá…

Uma vez, num passeio de seminário, viemos à Serra da Estrela, e havia um concurso, na camioneta,  e eu fiz um soneto na Serra da Estrela. E depois, quando regressámos ao Seminário da Almada – o Seminário da Almada tem aquela vista sobre o Tejo que tem a cidade em frente – fiz uma segunda parte, um segundo soneto, para compor uma canção que depois dediquei a um colega meu que fazia anos. E esse segundo soneto é que era sobre o rebuliço de Lisboa. Da cidade de Lisboa.

O primeiro era sobre a Serra da Estrela?

O primeiro era sobre a Serra da Estrela…

E ainda se lembra de que forma é que se referia a esta região?

Eu podia tentar dizer de cor, mas acho que me engasgava. Mas eu acho que tenho aqui no telefone, porque às vezes os seminaristas pedem, e eu, para depois não me engasgar… Tenho aqui:

Aqui no alto da serra
Onde o céu envolve a terra,
No abraço do Criador
Me abandono com amor.

Onde Deus, com grande encanto,
Sobre a terra estende o manto
A fé me impele a cantar
Não pode o fim aqui estar.

Então vejo nesta tela
Sombra da futura vida
Fruto do amor de Deus.

Que a serra de nome Estrela
Não é mais do que mão estendida
Do Pai que nos chama aos céus.

 

É nomeado para a Diocese da Guarda, seis anos depois de D. Manuel Felício ter pedido a resignação. Terá sido um tempo de espera muito longo para que a Diocese recomece com um novo bispo?

Nos tempos de Deus… Nosso Senhor dispõe as coisas e permite as coisas, e a gente desde que se ponha à escuta é sempre tempo para agarrar e trabalhar. Creio que há alguma expectativa, vou percebendo que há alguma expectativa, também porque houve uma reflexão diocesana acerca de alguns desafios pastorais que começaram a ser implementados em alguns sectores e falta toda a outra dimensão que ainda não foi pegada. Creio que que sim, que há aqui uma oportunidade para que em conjunto vermos os caminhos que Deus abre.

Na primeira entrevista ao Jornal A GUARDA diz que vem abraçar uma missão “talvez não tão imediatamente óbvia para tantos”. Porque?

Porque creio que, durante o último ano, alguns alimentavam a expectativa que eu pudesse ser chamado ao episcopado, mas na Diocese de Lisboa, na equipa dos bispos auxiliares. Não foi o que Nosso Senhor quis, muito bem!

E abraça esta missão…

Com toda a confiança de ir atrás de Nosso Senhor.

É um bispo que chega a uma nova diocese: que projetos?

Os projetos são a evangelização nos desafios do tempo de hoje: uma evangelização que seja missionária e sinodal. Esse projeto tenho. Como? Não vou impor ideias ou pensamentos. Vamos ouvir, vamos escutar e vamos caminhar. Claro que não é no sentido ‘venho sem ter ideia nenhuma’… Venho com a ideia dos desafios que a Igreja precisa, hoje. Agora, há uma realidade concreta da Igreja local, que eu conheço mal e, portanto vou ouvir, vou aprender, vou escutar.

Nessa primeira entrevista ao Jornal A GUARDA repetiu uma afirmação que diz aos sacerdotes: quando chegam a uma comunidade nova não se põe lá um letreiro a dizer ‘abre com nova gerência’. Não é isso que vi acontecer aqui na Diocese da Guarda?

Vou tentar que não. Da minha parte até seria mau (‘bem prega frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz’). Não quero abrir com nova gerência! Há uma Igreja que caminha aqui, um povo santo que aqui caminha e que também é sujeito da ação do Espírito Santo e, portanto, vamos entrar, vamos escutar… Claro que trago os aspetos próprios da minha pessoa e depois, em conjunto, vamos caminhar.

O Trabalho no Seminário é essencialmente comunitário. De que forma é que essa marca vai continuar na Diocese da Guarda?

A importância da comunhão como um sinal fundamental da expressão e da ação do Espírito Santo. O Espírito Santo não é o espírito da divisão é o espírito da comunhão. Nós humanos, muitas vezes, temos desencontros, mas como é que somos capazes de fazer das diferenças, e às vezes dos desencontros, oportunidade para a unidade e para a comunhão? A comunhão há de ser muito um fermento importante.

Do trabalho realizado na Diocese da Guarda na descoberta de prioridades para a missão o documento saído da Assembleia Diocesana aponta algumas prioridades e sonha com unidades pastorais. Está aí uma marca desse trabalho comunitário que deseja para a Diocese?

Sim, eu creio que sim! Até pela realidade de várias paróquias – são 360 paróquias na nossa Diocese da Guarda, mas algumas muito pequeninas e muito rurais – e depois, em termos da capacidade humana de assistir e de guiar a comunidade, é difícil. Temos de encontrar espaços de comunhão e de partilha de responsabilidades. Vou ouvir as conclusões desse documento, entretanto houve uma pandemia que afetou muito as comunidades, algumas pessoas que faleceram, as pessoas estão mais velhinhas, a participação sacramental e nas comunidades também se reconfigurou nalguns aspetos… Vamos continuar a fazer essa reflexão e vamos ouvir o que é que hoje ainda se mantém, o que é que precisa de alteração e tentar vermos o espaço.

Será fácil romper com tradições que por vezes estão muito enraizadas na história de um povo, de uma comunidade, de uma freguesia?

Eu penso que o importante é a gente ser capaz de integrar as pessoas no sentimento de que não estamos uns contra outros. Não há aqui uns que sabem e que vêm agora fazer uma revolução. Há um caminho de, todos juntos, procurarmos a melhor maneira de cuidarmos uns dos outros, como Igreja, como comunidade e como anúncio evangelizador.

A partir desse documento, D. Manuel Felício, no início do ano, falava em duas prioridades que encontra para a Diocese: a pastoral vocacional e a formação permanente seja de diáconos, seja de novos ministérios. Tem-nas também entre as suas prioridades?

Com 28 anos a trabalhar na formação, não só nos seminários, mas mesmo na pastoral das vocações, no acompanhamento de raparigas, no acompanhamento de algumas comunidades religiosas e de algumas freiras na direção espiritual e algumas famílias, eu acho que isso é decisivo: o sentido vocacional da existência, o sentido vocacional da transmissão da fé. Se enraizarmos isto, começam a surgir as inquietações depois de qual é o meu lugar concreto e específico. Se não trabalharmos isto, é só a ver se angariamos alguns recursos humanos e é uma estratégia errada.

E acompanhou também casais?

Sim, equipas de casais. Nas paróquias, famílias que se reúnem em determinados movimentos, em determinados cultos.

Neste desafio da formação nas lideranças dos sacerdote e diáconos, também para os ministérios laicais. Essa é uma porta que está por abrir?

Sim e não só ministérios litúrgicos. Os que estão neste momento instituídos são ministérios litúrgicos. Mas encontrarmos, mesmo que informalmente, formas de liderança e formas de serviço nas várias áreas na construção comunitária, da caridade, da relação com a sociedade onde haja pessoas que vão assumindo lugares de liderança e de condução, sempre na comunhão com o ministério ordenado, mas onde os leigos assumam a sua missão de ser a guarda avançada da presença da Igreja no mundo e de testemunho cristão.

As tais unidades pastorais podem ajudar a essa nova dinâmica?

Julgo que sim, sabendo que vamos ter ritmos diferentes: comunidades mais pequenas e rurais, comunidades de grandes vilas, pequenas cidade, depois temos três ou quatro grandes cidades e, portanto, vai haver ritmos diferenciados e encontrarmos melhores formas de responder de acordo com a realidade.

Nas últimas jornadas de formação do clero das dioceses do centro o tema da comunicação esteve no centro dessa jornada. É um tema que também levará por diante aqui na diocese, tendo como forma de hoje chegar a mais público?

Sim. A comunicação externa e a comunicação interna, que é muito importante. Eu tive oportunidade só de passar na primeira manhã dessa formação, não a acompanhei a fundo, mas é, de facto, um assunto importante. Nós somos anunciadores de uma boa notícia, de uma Noa Nova e, portanto, a comunicação é fundamental. Temos de encontrar as maneiras, aquelas que são mais profissionais e aquelas que são mais voluntárias, juntarmos os dois ritmos, que também é importante, e saber anunciar uma alegria que vem de dentro e que acreditamos que é boa notícia para todos.

Isso acontece através de meios tradicionais – aqui na Guarda existe um jornal diocesano que é centenário – e também com novas apostas sabendo que o púlpito não está só dentro das igrejas?

O jornal tem presença nas redes, também existe uma página do Facebook, e as maneiras que temos de encontrar para comunicar para o tempo de hoje.

Que contacto foi mantendo com esta diocese, com esta cidade, com esta região, que marcas já tem presente que definem este território?

Desde o dia 2 de Janeiro, tenho vindo pontualmente cá, primeiro para alguns encontros, seja com o senhor D. Manuel Felício, tive oportunidade de ser recebido pelo senhor presidente da Câmara… Depois fui aproveitando vir cá com alguns grupos de seminaristas que me ajudaram a fazer as mudanças e fui visitando o Carmelo, fui visitando uma ou outra realidade, fui ouvindo uma ou outra pessoa, mas ainda é tudo muito o início. Agora é que eu vou ganhar uma consciência mais claro do que é a realidade e do que são as necessidades da região.

Através do conhecimento das pessoas e do contacto sempre direto…

O que é bonito é que, desde que saiu a notícia, no dia 20 de Dezembro, em Lisboa, a quantidade de pessoas que me abordam e dizem: ‘padre Zé, senhor bispo, eu também tenho raízes na Guarda, os meus pais ainda estão lá na Guarda, eu tenho os meus tios, os meus avós’… Fui ouvindo também dizer que ‘há muito frio mas é terra de boa gente, vai ser bem recebido’. Isso também é ânimo, é esperança. Mas agora é ouvir e caminhar com as pessoas.

E que potencialidades tem, e falemos primeiro a nível social e económico, esta região, muito em volta do turismo, mas também dos produtos regionais?

Na Covilhã, temos um Polo Universitário importante, aqui temos o Instituto Politécnico, também é uma presença, o Fundão sei que é um polo industrial com presença, Seia sei que tem algum movimento cultural. Há estas realidades que também são importantes para que a Guarda não seja só um sítio de passagem turística, porque tem bons produtos regionais e pronto é só uma curiosidade. Não! Creio que há aqui potencialidades para vida, para a vida acontecer, comunidades acontecerem, com os desafios de um território do interior, envelhecido, é verdade, mas vamos encontrar os caminhos que for possível percorrer.

As muitas realizações de festivais gastronómicos de produtos regionais acredito que sejam uma atracão permanente para esta região. Que provocação deixam também às estruturas da Igreja Católica?

Posso dizer que um dos traços importantes da vida da fé é a relação fraterna. Os produtos regionais, as feiras regionais gastronómicas, a refeição, é um lugar por excelência de encontro. E o encontro gera oportunidades de comunicação, de tocarmos a vida uns dos outros, de falarmos primeiro as coisas mais imediatas e corriqueiras e, a pouco e pouco, vai gerando a confiança e falar das coisas decisivas e importantes. Eu creio que tudo isso, no registo próprio, mas tudo isso são oportunidades para nos encontrarmos e a partir do encontro a confiança, a fraternidade, o serviço com quem tem fé, com quem não tem fé, com quem quer crescer na fé, com quem se afastou, mas mantém alguma chama… Vamos caminhar

Falou das universidades, este território foi também o ponto de entrada para muitos jovens na Jornada Mundial da Juventude, com o forte dinamismo de preparação e de vivência da jornada. É um dinamismo que perdura, deu para verificar isso? Como é que pensa dar continuidade a essa experiência?

Como digo, vou conhecer. Mas, por exemplo, estive na iniciativa, em Lisboa, ‘Copos com Fé’ onde estavam 350 jovens do pós-missão e lá houve um grupinho a dizer ‘nós somos um grupo de jovens da Guarda’. Estão a estudar em Lisboa, mas vêm ao fim de semana e já marcámos para nos encontrarmos, depois. Já tenho também combinado poder acompanhar o grupo de jovens que vai ao Jubileu, a Roma, no fim de Julho, princípio de Agosto, e, se Deus quiser, estarei a acompanhá-los. Espero ir encontrando também quem está a trabalhar no terreno e, a partir, daí vermos qual é o dinamismo que vamos continuar.

É um território cheio de mobilidade, também cheio de ralação com outras comunidades, nomeadamente católica, também de Espanha. Que pontes é necessário ir fazendo, seja a nível local, seja a nível regional, para este caminho em conjunto?

Para já sei que o senhor bispo de Ciudad Rodrigo, está anunciado no nosso jornal da diocese, estará presente com todo o gosto e alegria fraterna. Vou aprender com os meus irmãos mais velhos! Sei que a zona raiana tem muita proximidade e relação com as comunidades do lado de lá. Vamos ver o que já há, o que é que se pode fazer.

Encara este trabalho episcopal como um trabalho feito em conjunto, seja com outros bispos, seja com outras lideranças?

Tem de ser! Primeiro, somos introduzidos no colégio episcopal, na comunhão do ministério e depois temos uma missão específica e concreta. Se a comunhão é com o povo de Deus na diocese também tem de ser sempre dentro da comunhão dos bispos, presididos pelo Santo Padre.  Há de ser sempre! Vou aprender com os meus irmãos mais velhos… Depois cada um é cada um, mais assim… Mas é nesse ambiente de colégio que vamos trabalhar. E depois também com o presbitério. O bispo não existe sem o presbitério. O bispo é a cabeça do presbitério, mas só com o presbitério é que ele caminha. Eu vou ouvir com os irmãos padres que são de cá, que têm gasto a vida cá, têm-se entregado cá e também é com eles que eu vou aprender a trabalhar, é com eles que eu vou aprender a ser bispo, com o povo de Deus, com os irmãos padres, com os irmãos bispos.

Inicia este ministério num ano jubilar, numa caminhada sinodal também. São duas grandes oportunidades?

São oportunidades e não só oportunidades que têm de ser agarradas: são oportunidades que não se podem adiar porque não há outro caminho. A dimensão sinodal não é uma moda do tempo, é o modo de ser Igreja em cada tempo. É verdade que os tempos depois vão matizando e potenciando, às vezes abafando um bocadinho. Mas a dimensão sinodal não é agora uma questão apenas de ficar bem, é a forma de sermos comunidade, é a forma de sermos povo que caminha, é forma de todos tomarmos parte. Nosso Senhor disse a São Pedro ‘se não te lavar os pés não tomarás parte comigo’. Todos somos chamados a deixar que o Senhor nos reconfigure, nos renove e tomar parte na missão d’Ele. A sinodalidade não é uma oportunidade possível é a oportunidade do caminho necessário e a esperança é sempre aquilo que anima. Nós não estamos a viver de um talvez ou de uma hipótese. A nossa esperança não é um talvez ou uma hipótese, é uma certeza inaugurada e que, por ser tão grande e tão intensa, não está tudo claro, vamos à procura do que falta clarificar.

De que forma é que, nesta região, está pensado assinar o Jubileu?

Para já, o que sei é que vão acontecer, nos domingos a seguir, as peregrinações dos arciprestados à Sé, que é a igreja jubilar da nossa diocese. Sei que já está marcado. Depois haverá o Jubileu dos Jovens em Roma. Tenho de perceber melhor se há outras realidades que também marcaram a ida a Roma ou não, e depois, com os diferentes conselhos da diocese, o que é que já está previsto e o que é que se pode prever.

Isto tudo acontece numa Diocese com mais de oito séculos, que herança sente que está agora a seu cargo?

Outro dia, falando com um irmão bispo, que é de uma diocese recente, uma diocese com 50 anos, ele dizia: olha tu tens uma graça enorme. Tu tens por trás de ti uma história e isso, mais que o peso, é uma configuração, é um sustento, é uma raiz que não cria imobilismo, mas dá densidade. Isso é o que eu creio que abraço, é com essa atitude que abraço. E agora vamos ver os caminhos que se abrem. A densidade e a história não são fixismo, mas são raiz que permite conhecer quem somos e poder construir para onde vamos.

E permite também sonhar esta diocese nos próximos tempos, que sonho tem para ela?

Tenho o sonho de querer construir uma realidade assente na comunhão, não na ilusão de que não vai haver tensões, não vai haver gente que tinha expectativas mas… Isso vai acontecer, na fragilidade e na circunstância de cada um. Mas tenho o sonho de que possamos construir unidade, na diferença. Que a diferença, que a diversidade seja oportunidade de complementaridade, de comunhão. E, a partir daí, a alegria da certeza de que Deus é bom, é sempre bom, nunca deixa de ser bom, mesmo quando às vezes parece que se escondeu Ele está próximo a abrir-nos outros caminhos e a sustentar-nos de outro modo.

E algum projeto em concreto que possa tornar expressiva essa certeza?

Não tenho nenhuma coisa para tirar da manga, isso não tenho. Vou ouvir muito nos primeiros tempos e construir em conjunto.

Partilhar:
Scroll to Top