Arcebispo emérito de Braga passa em revista a questão do diálogo entre cristãos e deixa outros olhares sobre a realidade católica
Arcebispo emérito de Braga, viveu de perto o II Concílio Ecuménico do Vaticano, nas sessões finais, então como bispo de Vila Cabral, em Moçambique. Na segunda parte da entrevista à Agência ECCLESIA, o único prelado português ainda vivo a ter participado no evento passa em revista a questão do ecumenismo e deixa outros olhares sobre a realidade católica
Agência ECCLESIA (AE) – O ecumenismo e o diálogo inter-religioso foram temas que atravessaram o seu múnus episcopal. Basta recordar que quando esteve nos países lusófonos ia às mesquitas e dialogava com os crentes de outras confissões religiosas. Esta área tem avançado de forma progressiva?
D. Eurico Dias Nogueira (EDN) – Não. Sempre pensei que avançasse mais depressa e de forma mais rápida. Considero que o próximo concílio deverá ter como um dos temas principais o ecumenismo. Há muitos aspetos que poderiam avançar. O caso das celebrações com o Anglicanismo poderia avançar e até se unirem. A Igreja Anglicana ficava sempre com características próprias, mas ligada à Igreja Católica. Tal como acontece com as Igrejas de rito oriental que estão ligadas ao Papa, mas têm características próprias. Nomeadamente, a nomeação dos bispos que se faz de modo diferente. Eles elegem, enquanto no Ocidente a nomeação é da responsabilidade do Papa, através das nunciaturas. Nas Igrejas Orientais Católicas a escolha é feita por eles e depois comunicam ao Papa.
AE – Neste caso, é apologista da forma oriental ou ocidental?
EDN – Entendo que somos demasiados dependentes da Santa Sé e, consequentemente, da Nunciatura Apostólica porque, no fundo, quem nomeia os bispos é o núncio apostólico, o representante do Papa em cada nação.
O núncio tem a sua maneira de pensar e consulta outros bispos, mas no fundo, no fundo, a sua posição é decisiva. As conferências episcopais deviam intervir mais na eleição dos bispos. Sei que é difícil 30 ou 40 bispos estarem a discutir nomes…
AE – Podia ser uma tarefa dos conselhos permanentes das conferências episcopais?
EDN – Sim. Esse grupo podia intervir mais na escolha. Depois de discutir os nomes, propunha ao Papa.
AE – Diretamente?
EDN – Diretamente ou através do núncio. Isso é secundário. Podia ser o presidente do conselho permanente a transmitir ao Papa ou dizer ao núncio para lhe transmitir. Devia haver mais interferência da Igreja particular.
AE – Isso era retirar poderes à Nunciatura Apostólica?
EDN – A nunciatura tem uma função diplomática que é representar o Papa junto do Governo. As nunciaturas por esse mundo fora são membros do corpo diplomático.
AE – Voltando às questões ecuménicas. O que fazer para que estes passos dialogais sejam mais largos e visíveis?
EDN – Primeiro, a Santa Sé não centralizar tanto. Não assumir tanto poder como tem. Devia deixar que algum poder ficasse na periferia, nos episcopados. Devia consultar pessoas competentes que estão dentro dos assuntos e que conhecem o país e os problemas de cada nação melhor do que o núncio que vem de fora.
Há determinados países que estão muito ligados a uma Igreja cristã não-católica onde é difícil trabalhar, mas não é impossível. Hoje, há mais relacionamento entre os cristãos, apesar das divergências teológicas. Outrora tivemos guerras entre os cristãos…
AE – Em Portugal, excluindo a Semana do Oitavário, as questões ecuménicas ficam num plano secundário…
EDN – É verdade, no Oitavário nota-se uma certa divulgação – em todas as igrejas se reza -, mas depois esquece-se. As preocupações ecuménicas deviam estar mais vivas e permanentes. A começar por aqueles que são e estão mais próximos: primeiro pelos anglicanos e depois pelos da Igreja Oriental.
A questão dos padres casados é secundária, porque a Igreja Católica Oriental também os tem.
LFS