Entre o sonho e a morte, imigrantes africanos são preocupação para a Igreja

O “Diário do Minho” anuncia na sua edição de hoje que Portugal vai ter, em breve, uma casa dos “Hermanos de la Cruz Blanca” – um instituto religioso Franciscano, fundado por Isidoro Lezcano Guerra e reconhecido, em 1975, pelo então bispo de Tânger, Carlos Amigo Vallejo. A localização não está ainda definida, mas sabe-se que na casa habitarão três Irmãos, sendo um deles o único português que pertence ao Instituto. A missão, essa está claramente demarcada: trabalhar com os sem-abrigo e os imigrantes que, por vezes em situação ilegal, correm o risco de cair nas mãos de mafias perfeitamente organizadas. A notícia da vinda dos Franciscanos da Cruz Branca para Portugal foi adiantada por Isidoro Macías Martin (“Padre Patera”), que estes dias esteve reunido em Montariol, Braga, com jovens das províncias Franciscanas de Espanha e Portugal. «Nós, os Irmãos Franciscanos da Cruz Branca, nascemos para ajudar a quem não tem nada. Fizemo-lo em Marrocos, junto dos espanhóis em risco por razões políticas, que não deveriam existir mas existem; e fazemo-lo agora, respondendo à massificação de imigrantes que chegam da África subsaariana, sobretudo da Nigéria – donde vêm, maioritariamente, mulheres grávidas. Chegam desfeitas ou já com crianças nos braços”, revela o religioso. O frade Franciscano não esconde que a sua actividade lhe pode causar alguns calafrios, pois há o risco de ser acusado de acolher clandestinos ou ilegais. Argumenta, porém, que «um bom frade ou um bom cristão têm de testemunhar o seu amor aos outros, sem considerações de ordem política ou credos religiosos». A visibilidade do trabalho do Padre Patera tornou–se notória no ano 2000, quando às costas do sul de Espanha começaram a aportar jangadas e mais jangadas de africanos. Ao drama, o religioso responde com dois meios, que enuncia com grande serenidade: «A fé move montanhas e os meios de comunicação social movem corações. A visibilidade deste drama, na TV e nos jornais, há-de acabar por sensibilizar quem tem nas mãos a capacidade de decidir. Hão-de acabar por ver!…», refere ao DM. João Aguiar, Diário do Minho Dignificação dos imigrantes No último Encontro Nacional dos Secretariados Diocesanos da Pastoral das Migrações ficou claro que a Igreja Católica em Portugal e na Espanha quer ver em prática uma atitude de acolhimento e integração para com os estrangeiros que procuram estes países em busca de melhores condições de vida, protegendo de modo especial os que se encontram sem documentos ou em situação irregular. Todos os anos milhares de imigrantes africanos atravessam o Estreito de Gibraltar em embarcações frágeis, e milhares morrem no caminho. Gabriel Delgado Alvarez, director do Secretariado diocesano das migrações de Cádiz e Ceuta, lida de perto com o drama dos africanos que tentam cruzar o Estreito de Gibraltar, em busca do “el Dorado” espanhol. O trabalho da Igreja e de outras organizações, nestas ocasiões, é segundo este responsável, o de “mostrar o rosto de uma Europa solidária, humana, acolhedora”. “Fazemos o que podemos fazer, que é a primeira atenção às necessidades mais urgentes. Se pudermos ajudar para a integração dos imigrantes, é certo que o faremos”, assegurou à Agência ECCLESIA. Estima-se que cerca de 4.000 pessoas tenham morrido ou desaparecido desde 1997 no Estreito de Gibraltar e nas águas do Atlântico entre a África e as Ilhas Canárias, que pertencem à Espanha. O Secretariado diocesano das migrações de Cádiz e Ceuta vai agora lançar uma nova iniciativa para fazer face a estas situações: trabalhar directamente no Norte de Marrocos, em colaboração com organizações locais. O novo programa da Igreja espanhola pretende passar uma mensagem muito específica: “não façam esta viagem clandestina, pelos perigos que ela representa”. “Em Espanha, a situação de irregularidade também trará problemas de pobreza, desemprego, de falta de habitação: estar sem documentos é estar sem direitos”, referiu este responsável. “O que mais nos choca é estarmos tão perto de Marrocos, a menos de 15 quilómetros, e que os imigrantes, ao não conseguirem passar de forma legal para Espanha, utilizem outros meios para chegar à costa, em condições muito difíceis que provocam, regularmente, grandes tragédias”, revelou. O facto de os imigrantes se apresentarem em situação de irregularidade não irá, contudo, fazer com que a Igreja se afaste deles. O nosso entrevistado assegurava que “o imigrante é uma pessoa, acima de tudo, documentado ou não, regular ou irregular, legal ou ilegal, e nós iremos lidar com a pessoa”.

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