VI Encontro Nacional de Docentes e Investigadores do Ensino Superior reconheceu a Academia como espaços de «saber», «diálogo», «esperança» onde cristãos devem saber estar em espirito de abertura e não fechamento
Fátima, 04 mar 2023 (Ecclesia) – O padre jesuíta Bruno Nobre disse hoje que a Universidade, enquanto “instituição única no mundo”, deve ser um espaço de “caminho conjunto”, de “diálogo” e de afirmação de esperança.
“É preciso que a Universidade seja Universidade, no sentido de dialogar. As estruturas devem ser democráticas, sinodais, colaborativas. Isso significa discussão, trabalho, geração de consensos. Isso está na génese da Universidade. Acontece nos processos, também deve acontecer na investigação, de sua natureza especializada, mas que não impeça o diálogo com outros saberes”, reconheceu o jesuíta docente da Universidade Católica Portuguesa, no polo de Braga.
O espaço universitário deve ser “um lugar de esperança”, pois, indica, “é uma casa da juventude” e assinalou que este é um dever dos católicos – “afirmar a esperança na universidade”: “Se fizermos isso, já não é pouco”.
O VI Encontro Nacional de Docentes e Investigadores do Ensino Superior, alusivo à temática «Caminhar Juntos no Ensino Superior», mobilizou este sábado agentes da Pastoral Universitária e de Ensino Superior de diferentes dioceses do país, apostados a reconhecer o lugar central da Universidade na esfera contemporânea.
Bruno Nobre alertou para a tentação de “fechamento”, de “caminho isolado, juntos enquanto grupo, mas isolados dos restantes” que os cristãos podem sentir, contrariando a missão a que estão chamados: “Isso já é estar fora da Universidade. A sinodalidade faz parte do imaginário da Universidade, mesmo que uma que não seja católica. É uma experiência de sinodalidade”.
Clara Almeida Santos, jornalista e professora da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, descreve a universidade como o lugar do “encontro, que permite troca de ideias, partilha e conhecimento maior do outro”.
“Pode ser uma porta para onde as pessoas convirjam e não divirjam. É um espaço de tradução para as várias linguagens que as pessoas falam. A secularização progressiva mostra que o peso da população que se assume católica é cada vez mais reduzida, mas isso não deve ser fator de desânimo, antes de aprofundamento, seriedade e exigência”, indica.
O assistente nacional do Ensino Superior quer ver a pastoral da igreja nesta área a contribuir para fazer da universidade um espaço onde “a dimensão humana, espiritual e relacional estejam também presentes”.
“Se há tantas instituições que estão em falência – olhamos para a dimensão religiosa e percebemos a sua transformação, também a instituição família e as alterações em curso. A Universidade guarda intacto o seu poder critico e é, por isso, uma instituição que faz frente aos tempos. Guarda em si ventos frescos que recolhe de várias partes, dialogando com várias culturas, e à medida que se vai abrindo, e trazendo novas ideias e novas formas de compreensão, vai resistindo às intempéries da contemporaneidade”, reconhece o padre Eduardo Duque.
Para o assistente nacional do SPES a Igreja enfrenta “grandes desafios” e um deles, indica, “passa por perceber a sua importância”.
“Isso é um desafio: perceber que as pessoas precisam da Igreja para viver. Não é algo em falência, que desapareceu, as pessoas precisam da Igreja, uma Igreja que caminhe com elas. O problema é se se recolhe e fecha e não caminha com a sociedade. O lema de hoje é caminhar juntos, queremos uma Igreja que caminhe com as pessoas e que não se feche no seu circuito, na sua própria importância. Queremos uma Igreja que caminhe ao lado. As pessoas querem e precisam disso, de uma Igreja que acolha, inclusiva, de braços abertos, autêntica”, precisa.
O padre Miguel Gonçalves Ferreira, jesuíta, da pastoral universitária da arquidiocese de Évora alertou para uma hiperespecialização que acontece no mundo científico ao qual o campo espiritual não está imune.
“O catolicismo apela ao universal e há um momento em que catolicismo e universidade coincidem na sua génese e missão. Perceber como progredir no saber e na interdisciplinaridede pode ser reconhecido na Universidade. A hiperespecialização do mundo científico pode também acontecer no mundo relacional, também no campo espiritual”, indica.
O arcebispo de Évora apontou a “convergência” entre a maneira de estar católica e a maneira de ser e viver a universidade, apontando para o caráter “sinodal” de ambas as instituições.
PR/LS