Encontros de reflexão: Sínodo 2021-2024

Carlos Torres Almeida, Diocese de Lamego

A Igreja católica está a viver um dos momentos mais decisivos da sua história recente. O Papa Francisco convocou toda a Igreja para o Sínodo, procurando envolver todos os fiéis num processo de oração, reflexão, diálogo e decisões sobre a Igreja de hoje e do futuro próximo. Porque é importante não ficar à margem deste processo sinodal, a Paróquia da Sé tomou a iniciativa de promover encontros de reflexão sobre o Sínodo. Partindo do documento “Uma Igreja Sinodal em Missão”, procurou-se ao longo de cinco sábados fazer uma caminhada sinodal, seguindo a metodologia do “Diálogo no Espírito”, onde todos foram convidados a partilhar a oração, a tomar da palavra, a escutar a palavra dos outros e a identificar os pontos-chave que foram surgindo, de modo a recolher os frutos do trabalho conjunto. Dada a diversidade e a profundidade dos temas a analisar dividiram-se os capítulos do documento em análise por cada sessão focando-nos, apenas, em alguns pontos previamente selecionados.

Por uma Igreja Sinodal
(Eucaristia, os Sacramentos de iniciação cristã; os pobres como protagonistas)

A Sinodalidade representa uma Igreja a tentar ser fiel a si própria, a envolver todos os Cristãos na procura da melhor forma de compreender e assumir que a Igreja é missão e caminho de salvação. Assim, promove-se uma participação mais ampla e ativa dos fiéis na vida e missão da Igreja, fortalece-se a comunhão eclesial e possibilita uma resposta mais eficaz aos desafios pastorais e sociais. É, por isso, uma Igreja mais próxima e acessível aos seus membros, procurando despertar e responsabilizar todos para a construção de uma Igreja viva.

Mas nenhum caminho se trilha sem riscos, sendo a dificuldade em alcançar consensos em questões complexas um dos primeiros sinais. É também difícil encontrar um ritmo confortável de caminhada, há sempre quem vá depressa demais ou demasiado devagar, no entanto, a grande convicção que saiu desta reflexão é que o fundamental é manter uma profunda espiritualidade centrada em Jesus Cristo, na sua palavra, na participação dos sacramentos, na prática da caridade e uma grande abertura à ação do Espírito Santo, que nos manterá no caminho de Deus.

Falando de Sacramentos, realçou-se a Eucaristia como centro da vida cristã. Somos alimentados pela Palavra de Deus e é importante que ela nos continue a interpelar.  Para isso deverá existir uma adaptação da linguagem na Eucaristia podendo, por exemplo, as homilias serem dirigidas a quem está a assistir à Eucaristia (Crianças, Jovens, Idosos, etc). Deve, ainda, merecer uma preparação cuidada de modo a que cada momento tenha o verdadeiro significado. Assim, sacerdotes, leitores, cantores e outros intervenientes devem preparar devidamente cada função, cada momento.

Quanto ao Batismo, é por este sacramento que somos incorporados na Igreja e feitos filhos de Deus pelo que nunca devemos rejeitar o Batismo a ninguém.  Deve promover-se um sentimento de corresponsabilidade da comunidade cristã, podendo por vezes tornar as cerimónias mais comunitárias no sentido de mostrar que essa comunidade está disposta a acolher a criança e a auxiliar a sua formação na fé cristã. É, ainda, importante reduzir a disparidade entre paróquias nos critérios de aceitação e preparação deste Sacramento, devendo os conselhos de presbíteros debruçarem-se sobre o assunto.

Por fim, uma Igreja para ser próxima tem de dar atenção aos mais pobres e excluídos e um primeiro passo será colocá-la como serviço de escuta e acolhimento de todos. Hoje são inúmeras as situações de pobreza e exclusão: pobreza “monetária”, de espírito, idosos em solidão, emigrantes ou refugiados, crianças e jovens em dificuldades.  A Igreja tem de estar na linha da frente criando espaços de escuta, aconselhamento e caridade que permitam dar resposta às necessidades dos outros, salientando que a função é ajudar e nunca julgar.

  • Todos discípulos, todos missionários

Apesar de se voltar a refletir sobre a Igreja enquanto Missão, a reflexão centrou-se na questão: como pode a Igreja responder ao pedido de um maior reconhecimento e valorização do contributo das mulheres em todas as áreas da vida e da sua missão?

Foi consensual que as mulheres são e sempre foram protagonistas, desempenhando um papel importante e visível na Igreja.  A Igreja não defende a sua discriminação. É, por isso, importante não falar das mulheres como “uma questão” ou “um problema”; importa, sim, promover uma Igreja em que homens e mulheres aparecem juntos como protagonistas. No entanto, não deixou de se levantar algumas questões que pedem reflexão: porque será que nem sempre as mulheres se sentem valorizadas? A sua visão feminina não estará demasiado afastada dos locais de decisão (conselhos pastorais, órgãos de gestão paroquiais, diocesanos)? Sendo as estruturas decisórias da Igreja compostas por Padres, Bispos, Cardeais, onde está a visão feminina?

A ordenação de mulheres também foi tema abordado. A Tradição/Lei não o tem permitido, no entanto, há que refletir sobre se as razões que fundamentas a decisão fazem ainda sentido na sociedade atual.  Quais as razões para que as mulheres vejam vedado o acesso a um tipo de chamamento… Porque poderá Deus só chamar os Homens ao sacramento da ordem? Esta impossibilidade não será, em si, uma desvalorização do papel feminino?

  • Tecer laços, construir comunidade

Nesta sessão centramo-nos na necessidade de desenvolver “uma Igreja que escuta e acompanha” e que se preocupa com todas as pessoas no geral, mas que não esquece aquelas que se sentem excluídas por causa da sua afetividade e sexualidade (divorciados recasados, pessoas LGBTQ+). Foi consensual que a Igreja deve preocupar-se com o acolhimento de todos independentemente da sua condição, ideal ou orientação. A Igreja não exclui ninguém. Num mundo cada vez mais complexo mais do que fazer juízos de valor, mas do que excluir devemos ser capazes de escutar, acolher e apontar um caminho, indo de encontro ao exemplo e aos ensinamentos de Jesus: O Amor deve ser a base do acolhimento a todos.

Por fim salienta-se que estes encontros foram excelentes momentos de reflexão e partilha que realçaram a necessidade de aumentarmos a nossa formação Cristã. É preciso que sejamos cristãos esclarecidos, para podermos ser firmes na fé e para isso a catequese ao longo da vida tem de ser uma realidade.

Carlos Torres Almeida, Paróquia da Sé

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Agência ECCLESIA

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