Encíclica de Bento XVI defende dimensão espiritual do desenvolvimento

Papa pede um lugar para Deus na esfera pública A encíclica "Caritas in veritate" advoga um desenvolvimento que inclua "o espiritual", para evitar alguns dos males que afligem as sociedades ditas desenvolvidas.

"A alienação social e psicológica e as inúmeras neuroses que caracterizam as sociedades opulentas devem-se também a causas de ordem espiritual. Uma sociedade do bem-estar, materialmente desenvolvida mas oprimente para a alma, de per si não está orientada para o autêntico desenvolvimento", escreve o Papa.

"As novas formas de escravidão da droga e o desespero em que caem tantas pessoas têm uma explicação não só sociológica e psicológica, mas essencialmente espiritual. O vazio em que a alma se sente abandonada, embora no meio de tantas terapias para o corpo e para o psíquico, gera sofrimento", prossegue.

A encíclica considera que "uma certa proliferação de percursos religiosos de pequenos grupos ou mesmo de pessoas individuais e o sincretismo religioso podem ser factores de dispersão e de apatia".

"Um possível efeito negativo do processo de globalização é a tendência a favorecer tal sincretismo, alimentando formas de «religião» que, em vez de fazer as pessoas encontrarem-se, alheiam-nas umas das outras e afastam-nas da realidade", aponta.

Para o Papa, a religião cristã e as outras religiões só podem dar o seu contributo para o desenvolvimento "se Deus encontrar lugar também na esfera pública, nomeadamente nas dimensões cultural, social, económica e particularmente política".

"A doutrina social da Igreja nasceu para reivindicar este «estatuto de cidadania» da religião cristã", recorda.

Bento XVI explica que "viver a caridade na verdade leva a compreender que a adesão aos valores do cristianismo é um elemento útil e mesmo indispensável para a construção duma boa sociedade e dum verdadeiro desenvolvimento humano integral".

"Um cristianismo de caridade sem verdade pode ser facilmente confundido com uma reserva de bons sentimentos, úteis para a convivência social mas marginais", indica.

Bento XVI considera que "não há desenvolvimento pleno nem bem comum universal sem o bem espiritual e moral das pessoas".

O documento chama a sociedade actual a uma "séria revisão do seu estilo de vida" que, em muitas partes do mundo, "pende para o hedonismo e o consumismo, sem olhar aos danos que daí derivam", apelando também à "responsabilidade social do consumidor".

Por tudo isto, Bento XVI defende que "o desenvolvimento implica atenção à vida espiritual". "O humanismo que exclui Deus é um humanismo desumano. Só um humanismo aberto ao Absoluto pode guiar-nos na promoção e realização de formas de vida social e civil", pode ler-se.

Os media são outro alvo das considerações. O Papa afirma que "os meios de comunicação social não favorecem a liberdade nem globalizam o desenvolvimento e a democracia para todos, simplesmente porque multiplicam as possibilidades de interligação e circulação das ideias".

"Para alcançar tais objectivos, é preciso que estejam centrados na promoção da dignidade das pessoas e dos povos", precisa.

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Agência ECCLESIA

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