“A Catedral, sinal da unidade da Igreja Diocesana”
1. Quisestes fazer coincidir o encerramento das celebrações do meu Jubileu com a Solenidade da Dedicação da nossa Catedral. Isso tocou-me profundamente pois em cinquenta anos de ministério sempre me senti profundamente ligado a esta Catedral, onde fui consagrado sacerdote. Aqui fui associado ao sacerdócio apostólico, daqui fui enviado em missão, sentimento renovado e aprofundado em cada missão que recebia, até ao dia em que a ela fui reenviado para presidir, na plenitude do sacerdócio apostólico, a esta Igreja que precisa de se alimentar continuamente da Palavra, dos Sacramentos, para ser um Povo unido na caridade. Ao longo da sua história a Igreja sempre teve consciência de que o amor é a sua vocação, a comunhão a sua força, a fé o seu alicerce. Para se solidificar nesta vocação, precisa de esclarecimento doutrinal, que deve ter sempre a forma de anúncio, e de símbolos. O símbolo, iluminado pela doutrina, abre mais amplamente para uma outra compreensão do mistério. A Catedral é um dos símbolos marcantes da caminhada da Igreja no tempo, símbolo rico de doutrina, pois nos abre para o mistério do templo como lugar onde Deus congrega o Seu Povo, sublinha a centralidade do sacerdócio apostólico no ministério do Bispo, que aí tem a sua cátedra para anunciar a Palavra; aí abre para toda a Igreja diocesana as fontes da graça sacramental; aí convoca a Igreja para a comunhão e para a caridade. A Catedral sugere a unidade do presbitério, do Bispo com os presbíteros, que têm de espelhar na sua unidade de comunhão, a unidade que querem construir em toda a Igreja diocesana.
2. O símbolo da Catedral lembra-nos que a Igreja é o templo do Senhor, lugar para onde Deus convoca o Seu Povo, a sua montanha santa, que hoje é a Igreja, o definitivo Monte Sião, anúncio da reunião definitiva de todos, em Deus, participando da unidade da comunhão trinitária. A Igreja é sempre essa reunião festiva para que Deus nos convoca: “hei de conduzi-los à minha montanha santa, hei de enchê-los de alegria na minha casa de oração” (Is. 56,7). A Igreja, templo do Senhor, é sempre festa, essa alegria adorante daqueles que Deus chamou.
Jesus, no Evangelho que lemos, lembra-nos que Ele é o templo definitivo. Isso significa que é n’Ele, o Filho, que Deus nos convoca e reúne, unindo-nos a Ele, fazendo de toda a Igreja reunida na fé e na caridade, um só com Cristo. A história da arte das catedrais evoca bem essa centralidade de Jesus Cristo. A Catedral é símbolo evocativo dessa unidade da Igreja em Cristo. A Catedral tem de ser, em todas as suas expressões, anúncio de Jesus Cristo. Só n’Ele a Igreja diocesana é assembleia santa, Povo Sacerdotal.
3. Lugar do ministério do Bispo como Pastor da Igreja diocesana, ela simboliza uma das principais manifestações da construção da Igreja-comunhão, a unidade do presbitério. Com o Bispo, todos os sacerdotes participam do sacerdócio de Cristo, Cabeça da Igreja. São chamados a viver aquela unidade a Cristo; eles convocam em nome do Senhor, presidem à assembleia festiva onde acontece a salvação. São mais do que funcionários do templo; são, eles mesmos, o templo do Senhor. Na Catedral foram consagrados, daí são continuamente enviados para convocarem o Povo e alargarem as dimensões do templo do Senhor.
No ritmo pastoral da nossa Diocese temos valorizado alguns momentos que em se exprime visivelmente esta relação dos presbíteros com a Catedral: a celebração de Quinta-Feira Santa, este dia da Dedicação da Catedral, a Solenidade do Corpo de Deus, em que a procissão do Santíssimo Sacramento parte da Catedral e a ela regressa. No presbitério não há comunhão com o Bispo que não os leve à Catedral, ela que nos lembra sempre que todo o nosso ministério é construção do templo do Senhor.
4. Símbolo da unidade do presbitério, a Catedral sugere a união de todos os templos da Diocese, que dão visibilidade à Igreja como templo do Senhor, de modo particular as Igrejas Paroquiais, para onde o Senhor convoca o Seu Povo para celebrar a Páscoa de Jesus. Nelas preside um presbítero, em nome do Bispo. A Palavra que anuncia, os sacramentos a que preside, a caridade para onde encaminha a comunidade, têm de ser expressão de uma única Igreja, Corpo de Cristo. Se o presbitério estiver unido ao Bispo, as Igrejas Paroquiais estão necessariamente unidas à Catedral, são um prolongamento desta, porque todas constituem o único templo para onde o Senhor congrega o Seu Povo. Não há lugar para autonomias ou autarcias: a Liturgia como modo de celebrar, a proclamação da Palavra, sobretudo na Homilia, as prioridades pastorais decididas para toda a Diocese, serão possíveis nesta busca da unidade que, no fundo, é procurar sermos todos um só, com Cristo, o templo definitivo de Deus.
5. É por isso que, na Diocese, a Catedral é o lugar da evangelização e a fonte sacramental donde jorram, para toda a Diocese, rios de água viva. O Santo Padre Bento XVI, através do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, propõe a 12 Igrejas europeias, entre as quais a de Lisboa, uma experiência de Nova Evangelização a partir da Catedral, a realizar na Quaresma de 2012. Nós aceitamos esse desafio e um programa está já em preparação. Sugere como concretizações: catequeses do Bispo na Catedral orientadas para públicos específicos; celebração do Sacramento da Penitência; celebração da Eucaristia; proclamação completa do Evangelho de Marcos; uma concretização da caridade, através da partilha cristã, comum a todas essas Igrejas.
Muitas das sugestões feitas vêm ao encontro de práticas já consolidadas na nossa Diocese: as Catequeses Quaresmais feitas por mim, na Catedral, durante a Quaresma; a leitura seguida do Evangelho de São Marcos; a partilha com outras Igrejas através da “Renúncia Quaresmal”. Esta experiência envolverá toda a Diocese se, para nós, sacerdotes e Povo de Deus, a Catedral for símbolo da unidade de uma Igreja que quer ser comunhão, na caridade.
6. Encerramos as celebrações do meu Jubileu Sacerdotal. Nos diversos momentos celebrativos, o presbitério, os diáconos, o Povo de Deus, ajudaram-me a sentir de novo a alegria do meu sacerdócio, a descobrir outra vez que a razão de ser dele é a Igreja e reconduziram-me ao amor por esta Catedral onde, há cinquenta anos, tudo começou. A presença dos Senhores Bispos nesta celebração, faz-nos perceber que uma Igreja comunhão só o será verdadeiramente se estiver em comunhão com as outras Igrejas e ao abrirmo-nos a essa dimensão universal sentimos a força interpelante e unificadora do Sucessor de Pedro, a quem Jesus pediu que confirmasse sempre a Sua Igreja na unidade da fé e da caridade.
Sé Patriarcal, 25 de outubro de 2011
D. José Policarpo, cardeal-patriarca de Lisboa