Se em todas as idades a música é um elemento capaz de satisfazer uma componente cultural da formação das pessoas, é certo que os estilos apreciados vão evoluindo com o tempo, sendo a juventude a que é capaz de dar projecção aos conjuntos de música ligeira dos mais diversos géneros. E foi assim que Ian Curtis, nascido em 1956, conseguiu ascender rapidamente como cantor e viola eléctrica, sendo a força principal do conjunto Joy Division. Anton Corbijn, fotógrafo holandês de renome com alguns pequenos trabalhos cinematográficos, decidiu assumir a responsabilidade da realização da biografia deste cantor. E, como a vida não é feita só de sucessos, preferiu seguir as várias vertentes da sua existência, evitando a simples descrição do êxito musical. Consegue-se assim uma análise de natureza social em que se procuram explicações, mesmo que não se sugiram soluções, para um desequilíbrio total, capaz de levar ao suicídio de uma pessoa que teria todas as condições para ser feliz e dispor de uma vida abastada e equilibrada. O que afinal está em causa é como a desmedida ambição de quem é engolido pela fama permite destruir uma vida familiar, potencialmente feliz, em troca de um excesso de digressões e desvios comportamentais que apenas poderão trazer uma alegria efémera. Ficamos assim com o retrato de dois mundos contraditórios por onde passou Ian Curtis, o da sua pacata vida familiar e a loucura do êxito em espectáculos capazes de se fazer sentir um ídolo da multidão. E tal era a influência nos resultados obtidos pelo conjunto Joy Division que, após a sua morte, este foi renomeado passando para a nova designação New Order. O filme toma por base a biografia “Touching from a Distance”, de Deborah Curtis, que ficou viúva de Ian, em que se revela o seu próprio sofrimento, mas também o do marido afectado pela epilepsia e cada vez mais dependente do álcool. Francisco Perestrello