Empresários cristãos devem recuperar dimensão do serviço

Após o Congresso de empresários cristãos de todo o mundo, reunidos em Lisboa de 25 a 27 de Maio, a Agência ECCLESIA falou com Mons. João Evangelista, um dos «pais» da ACEGE. Agência ECCLESIA (AE) – Passados 40 anos como vê o crescimento deste «filho» com o nome de Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE)? Mons. João Evangelista (JE)– A esperança e a alegria dominam porque sinto-me um pouco a voz do passado. Trabalhei noutro ambiente e com condições mais limitadas. Apesar destas, mantivemos sempre a mesma linha de conduta: fidelidade à Doutrina Social da Igreja e fidelidade à empresa como instituição abrangente. AE – Quando resolveu dar vida à ACEGE o mundo empresarial era diferente? JE – Muito diferente… Ainda vivíamos no tempo do paternalismo exaltado onde se faziam grandes elogios «bons patrões». Homens que tinham uma grande generosidade com os seus trabalhadores e lhes resolvia os problemas da habitação. Quando nasceu a UCIDT – União Católica dos Industriais e Dirigentes do Trabalho – começamos com a construção de bairros auto-construídos em vários pontos do país. A função dos empresários passava também pelo olhar pela situação degradada de muitos trabalhadores. AE – Passados mais de 40 anos, a situação alterou-se e este «olhar» desapareceu? JE – Não sei dizer se está melhor ou pior porque fomos sempre afectados pelo relativismo da leitura. No meio das crises temos sinais de vida. AE – Continua a acreditar que é possível aplicar a Doutrina Social da Igreja (DSI) no mundo empresarial? JE – A DSI está nas encíclicas. Qualquer pessoa a pode ler, ensinar e traduzir os conceitos que ela veicula mas depois passar daí para a realidade prática é muito mais complicado. É uma função cultural… A cultura não é a teoria mas as duas coisas integradas. Há uns anos atrás, algumas empresas fizeram o seu marketing dizendo que apostavam e situavam-se na aplicação da DSI. Depois desapareceram totalmente do horizonte. Não foram nem modelares nem exemplares. AE – Não há o perigo das conclusões deste encontro mundial ficarem apenas no papel? JE – Este congresso situa-se no dinamismo cultural que eu referi anteriormente. A intervenção no domínio da cultura é lenta e morosa mas temos de ter referências bem feitas. É preciso dizer às pessoas que a DSI defende os valores primordiais da pessoa humana e que não é aceitável colocar as prioridades nos valores económicos. AE – Os empresários têm essa consciência? JE – Eles têm consciência que isto não caminha com lutas. Precisamos de retomar e colocar no devido sentido a dimensão do serviço. Estar numa posição de chefia é um enorme serviço que se presta à humanidade. O empresário competente não é aquele que sabe bem o que quer mas aquele que sabe deixar-se influenciar pelos seus colaboradores. AE – Recentemente, a ACEGE lançou um código de ética. Um manual para ser lido, saboreado e depois aplicado? JE – Como Código de Ética é apenas uma referência normativa. Não tem atrás de si uma estrutura policial e uma exigência de castigos ou penalizações para quem os não pratique. É uma referência doutrinária prática que já tem produzido os seus frutos e continua a ser objecto de reflexões. Este código será mais vivo quando aparecer uma comissão de vigilância. AE – Depois deste congresso – reuniu empresários do mundo inteiro – há um sonho? JE – Gostaria que a ACEGE assumisse uma posição verdadeiramente construtiva na sociedade portuguesa e que os valores que ela veicula fossem verdadeiramente tomados a sério.

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