Emoção marca homenagens a João Paulo II

Celebrações continuam ao final da tarde Foi num verdadeiro mar de luz que a Praça de São Pedro reviveu, ontem à noite, os momentos da morte de João Paulo II. Mais de cem mil peregrinos participaram numa vigília mariana de reflexão e oração, coroada com a homenagem de Bento XVI ao seu predecessor. Um pouco por todo o mundo sucederam-se as evocações à memória do polaco, tendo em comum a grande carga emocional com que ainda hoje as pessoas se referem à vida e obra de Karol Wojtyla, que liderou a Igreja durante mais de um quarto de século, assumindo-se como figura incontornável na cena internacional – verdadeiramente um gigante do nosso tempo. Nenhuma cara seria tão familiar, no conjunto dos cinco continentes, como a deste homem de branco que recebeu milhões de pessoas no Vaticano – seja em celebrações litúrgicas, seja em audiências públicas e privadas -, e foi ao encontro delas, nos seus países, nas suas 129 viagens fora da Itália. Milhares de milhões habituaram-se, por outro lado, à sua presença nos meios de comunicação social e foi através dos media que acompanharam o desenrolar do estado de saúde do Papa. Mais do que nunca, João Paulo II pareceu ser um familiar de homens e mulheres de todo o mundo, que assistiram ao agravamento das suas condições e ao anúncio do seu falecimento. Bento XVI prestou homenagem a esse “grande Pontífice”, assegurando que a sua memória continua “viva” e destacando a coragem do Papa polaco perante o sofrimento. Ao recordar a “fidelidade a Deus e a dedicação, sem reservas, à missão de Pastor da Igreja universal” do seu predecessor, o Papa assegurou que essa dedicação foi “mais convincente e comovente nos últimos meses” de vida de Karol Wojtyla. “Já passou um ano desde a morte do Servo de Deus João Paulo II, acontecida a esta hora, mas a sua memória continua viva, como testemunham as várias manifestações programadas em todo o mundo. Ele continua presente na nossa mente e nos nossos corações, comunicando o seu amor por Deus e os homens; continua a suscitar em todos, particularmente nos jovens, o entusiasmo de servir o bem”, afirmou. Os peregrinos de todo o mundo, quando interrogados pelos jornalistas, foram unânimes no agradecimento pelo “dom” que representou o pontificado de João Paulo II. Presença em destaque foi a de milhares de polacos, para quem o “seu” Papa foi bem mais do que um homem de Igreja, mas também um líder carismático que ajudou na transformação do país. Por isso mesmo, Cracóvia este ligada por videoconferência à vigília da Praça de São Pedro e mereceu uma palavra especial de Bento XVI. Poucas horas antes, por ocasião da recitação do Angelus, o actual Papa prestou homenagem “à enorme herança” do seu predecessor, lembrando os momento de enorme emoção que se viveram há exactamente um ano, no Vaticano. “Este grande Papa, que nos deixou há um ano, legou-nos uma herança enorme”, afirmou, sem esconder a emoção, falando aos milhares de peregrinos reunidos na Praça de S. Pedro. “A mensagem do seu longo pontificado pode ser resumida com as palavras que pronunciou no início, aqui, na Praça de S. Pedro, em 22 de Outubro de 1978: abri, escancarai as portas a Cristo!”. Segundo Bento XVI, “esse inesquecível chamamento foi personificado por João Paulo II com toda a sua pessoa e com toda sua missão de sucessor de São Pedro, especialmente com o seu extraordinário programa de viagens apostólicas”. O Papa, que durante décadas foi um dos mais próximos colaboradores de João Paulo II, recordou que “a 2 de Abril (de 2005), tal como hoje, o amado Papa João Paulo II vivia a esta mesma hora, nesta mesma sala, a última etapa da sua peregrinação na terra: uma peregrinação de fé, de amor e de esperança, que deixou uma marca profunda na história da Igreja e da humanidade”. “Nos últimos anos, o Senhor foi a pouco e pouco privando-o de tudo, para que se lhe assemelhasse. A sua morte foi o cumprimento de um testemunho de fé que tocou o coração de tantos homens de boa vontade”, acrescentou. Em especial, o Papa destacou os momentos que precederam a morte de Karol Wojtyla e lembrou vários episódios dos seus últimos dias. Além disso, ressaltou a imagem da Páscoa do ano passado, quando João Paulo II deu “a bênção Urbi et Orbi, sem poder falar, apenas com o gesto da sua mão”. “Foi a bênção mais sofrida e emocionante, que deixou um testemunho extremo da sua vontade de cumprir o Ministério até o fim. João Paulo II morreu como tinha vivido sempre, animado pela indómita coragem da fé”, disse. O discurso papal foi interrompido por diversas vezes pelos aplausos dos fiéis. Hoje, ao final da tarde, Bento XVI preside a uma Missa em sufrágio de João Paulo II, sendo esperados milhares de peregrinos no exterior da Basílica de São Pedro.

Partilhar:
Scroll to Top