Numa Europa que se proclama de direitos humanos e de justiça e de ser exemplo para fora, “aqui temos o caso de cidadãos portugueses, europeus em condições precárias de vida e de trabalho”, explicita o Pe. Rui Pedro, director da Obra Católica Portuguesa de Migrações, acerca da situação dos 79 portugueses em Espanha que viviam em condições penosas de habitação e trabalho, situação descoberta e denunciada ontem. Esta quinta-feira a Guarda Civil espanhola desmantelou uma rede em várias localidades de Navarra e libertou 91 trabalhadores, 79 dos quais portugueses, que se encontravam em Espanha a trabalhar “sazonalmente”, vivendo em condições precárias. A operação resultou em 17 detenções, sendo que 13 dos detidos têm nacionalidade portuguesa. Além dos portugueses estavam a ser explorados oito espanhóis, dois angolanos, um moçambicano e um polaco. Uma situação que não é novidade, “em 2005 no encontro mundial denunciámos estas situações”, aponta o Pe. Rui Pedro, que sublinha a contradição existente e a vergonha “que estando nós no ano europeu da igualdade de oportunidades, temos aqui uma prova muito concreta e evidente de como cidadãos europeus em mobilidade de direito na vizinha Espanha, estão enganados por compatriotas e recrutados por agências ambíguas”, esclarece. O preconceito recai em africanos, brasileiros, cidadãos de leste, mas “estes são portugueses”, trabalhadores rurais que procuram melhores condições. Por isso a OCPM e a Igreja têm “de continuar a dizer às pessoas que se querem ir para outro país preparem bem a sua partida, informem-se bem, procurem lugares com informações plausíveis”, sublinha o ainda responsável pela OCPM que mais uma vez aponta “a exigência de que, tal como se faz para os emigrantes nos Centros Locais de Apoio aos Imigrantes”, é preciso dar a conhecer também os Gabinetes de Apoio aos Emigrantes “destinados aos portugueses que querem partir”. Esta estrutura já existe nos municípios mas “há um total desconhecimento e uma burocracia crescente que não deixa lugar à operacionalidade”, adianta o Pe. Rui Pedro, sendo por isso necessário agilizar estes gabinetes nas regiões de maior partida de imigrantes. “Os fluxos de partida estão a aumentar”, contacta e há que “dar uma resposta hoje a esta necessidade”, devendo também haver um reforço da campanha de sensibilização e informação. “Estarmos iludidos com as emigrações qualificadas, mas temos exemplo de portugueses agricultores, desempregados e de Lisboa”, que deitam por terra alguns estereótipos que temos. Existe também um negócio paralelo à procura de melhores oportunidades. “Não há fiscalização nas empresas de trabalho temporário, muitas delas são até fantasmas”. “O mercado de trabalho é o grande desregulador da mobilidade”, aponta o Pe. Rui Pedro. Estava agendado um encontro bilateral entre a Conferência Episcopal portuguesa e espanhola, que este ano não se realizou, “mas que se torna imperativo, de forma a estreitar os laços de cooperação e de maior sintonia”, adianta o director da OCPM. O Padre Rui Pedro está de partida para a Holanda, em companhia de D. António Vitalino, Presidente da Comissão Episcopal para a Mobilidade Humana, para a Festa dos Povos, que este ano está agendada para Haia, na Holanda, “precisamente porque no ano passado na Holanda também se denunciaram situações semelhentes a esta a acontecer em Espanha”. Entre os dias 20 e 22 acontece o encontro anual dos Coordenadores das Comunidades Católicas de Língua Portuguesa na Europa sobre “Missões Linguísticas e Igreja Local: que relação, hoje?”, organizado pela OCPM. “Vamos estabelecer contactos locais com os nossos missionários onde existem três comunidades portuguesas, em Haia, Amesterdão e Roterdão, e onde vamos contactar os conselheiros da comunicada protuguesa para que a Igreja possa perceber melhor o que se passa e passou na Holanda, e de modo a mobilizar as nossas comunidades e agentes pastorais para dar uma resposta de solidariedade e justiça e denúncia”, manifesta o Pe. Rui Pedro.