Emigrantes exigem mais atenção do Estado

As comunidades de emigrantes portugueses exigem mais atenção do Estado para os problemas que afectam um terço dos cidadãos, que pelos mais variados motivos vivem e trabalham longe da pátria, cuja história corre risco de se perder. A mensagem foi deixada ontem por José Machado, presidente da Federação das Associações Portuguesas em França, na abertura da Convenção Cívica das Comunidades Portuguesas, em Fafe, que ficou marcada pela apresentação do Museu da Emigração e das Comunidades (texto junto). «Até agora Portugal ainda não tomou a iniciativa de assumir a preservação da história da emigração», afirmou o presidente da Federação das Associações Portuguesas em França, notando que esta atitude contrasta com outras grandes nações emigrantes como Israel, os EUA e a França, sendo que esta assumiu recentemente a missão de reunir a história das sua diversas comunidades. José Machado notou que a memória e a história da epopeia da emigração portuguesa «estava a perder-se, porque estão a desaparecer os actores da emigração », ou seja, aqueles que viveram mais directamente esse fenómeno e que melhor podem fazer a história desta terça parte da nação portuguesa. «A emigração arrisca-se, assim, a perder a sua própria memória», pelo que era importante que o Estado assumisse a sua salvaguarda, assinalou. Neste sentido, o representante das Associações Portuguesas em França enalteceu a iniciativa da Câmara de Fafe de avançar com a criação do que pretende ser reconhecido como o Museu Nacional da Emigração. «Qualquer cidade deveria orgulhar-se de ter um museu dedicado à emigração », notou, lamentando que por vezes se gaste dinheiro em coisas secundárias, em vez de reconhecer à emigração o papel que ela merece. Manifestar o seu reconhecimento pelo investimento que a autarquia dedica à emigração foi, por isso, o motivo porque decidiram realizar em Fafe a “Convenção Cívica das Comunidades Portuguesas”, que teve na sua génese o impulso de ex-exilados como Emídio Guerreiro e José Augusto Seabra e que pretende ser um fórum aberto de debate sobre os problemas da emigração, juntando durante o dia de hoje diversos responsáveis e especialistas naquela cidade. Portugal cresceu sempre que saiu além fronteiras José Machado reconheceu, contudo, que o futuro não exige só maior empenho do Governo, mas também uma maior articulação de associações de emigrantes espalhadas por todo o mundo. «Somos milhões e temos centenas de associações, mas temos ainda pouca visibilidade », referiu, desejando que a Convenção possa ser no futuro ainda mais abrangente. No mesmo sentido, manifestou- se a ex-deputada pelo círculo da emigração Manuela Aguiar que assinalou o facto de Portugal ser «a única grande não emigrante que não tem uma estrutura internacional que agregue as diversas comunidades». Manuela Aguiar felicitou a autarquia pela iniciativa do museu, considerando que este está muito melhor em Fafe do que em Lisboa» e desejando que se torne uma centro de estudo da emigração portuguesa. Infelizmente, «a emigração raramente faz parte do discurso político, pelo que está-se a pensar no futuro sem utilizar a força de uma terço dos portugueses », lamentou. Também o ex-deputado Carlos Luís enalteceu o papel da emigração, considerando que «Portugal cresceu sempre que olhou além das fronteiras do continente e regrediu quando se reduziu ao espaço europeu». O ex-parlamentar notou que «não há nenhuma família que não tenha emigrantes», realçando que «sempre que calcorreamos todos os oceanos e continentes crescemos enquanto nação e hoje que nos fechamos dentro das fronteiras estamos quase a regredir». Museu da Emigração A Autarquia de Fafe apresentou ontem publicamente o novo museu virtual da Emigração e das Comunidades, que passa a estar disponível em www.museu-emigrantes. org «Há quatro anos que a autarquia de Fafe decidiu avançar com a ideia de criar um Museu da Emigração e das Comunidades, já que até então o país não tinha dado a atenção devida aos seus emigrantes», amou o edil José Ribeiro, na abertura da Convenção Cívica das Comunidades Portuguesas. O autarca fafense notou que o objectivo é que este «seja um museu nacional, que faça a história da emigração portuguesa», notando que desde então «muito foi feito» sob a coordenação de Miguel Monteiro, sendo que neste momento a autarquia «está em negociações para a aquisição de um edifício», para dar existência física a um museu, que já disponibiliza pela Internet um importante espólio histórico-documental. «Este é um projecto que queremos realizar com todo o rigor científico e sem pressas », referiu ainda o presidente da autarquia, entidade que é até agora a única financiadora do museu. Neste sentido o projecto espera também obter apoio financeiro da Secretaria de Estado da Emigração e das Comunidades e de outras autarquias que se associem ao projecto, para além da colaboração do Instituto Português dos Museus e de instituições congéneres nacionais e estrangeiras. Embora ainda naturalmente muito centrado em Fafe, o museu virtual reúne já um grande volume de informação, organizada por seis salas – áreas temáticas – a começar pela “Sala dos Indivíduos”, organizada por áreas geográficas, onde pode ser encontrada a identificação e biografia; a “Sala da Ascendência”, onde se procura construir a genealogia, a partir da base de dados do Núcleo de Estudos de População e Sociedade da Universidade do Minho, e aceder ao historial de famílias, a partir de registos paroquiais e de outras fontes documentais. Este espaço virtual, acessível em qualquer ponto do mundo, é composto também por uma “Sala da Memória”, que dá visibilidade às expressões materiais e simbólicas da emigração; a “Sala das Comunidades”, com divulgação das actividades e a manutenção de laços com os territórios de origem; a “Sala do Conhecimento”, que divulga trabalhos científicos nos diferentes domínios da colonização e da emigração; e a “Sala da Historia e da Lusofonia” que revela a vida e a obra de figuras significativas associadas a construção do território da Lusofonia.

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