Quando em Novembro do ano passado, o vice-secretário geral da ONU afirmou que a pior situação humanitária no mundo se encontrava no Uganda, com uma população massacrada por 18 anos de guerrilha, seria legítimo esperar que a opinião pública internacional acordasse para a tragédia. Quase sete meses depois, um outro responsável internacional afirma que “a situação no norte de Uganda é actualmente a mais grave emergência humanitária em todo o mundo”. O responsável da AVSI (Associação Voluntários para o Serviço Internacional) para os projectos na África e no Médio Oriente, Giampaolo Silvestri, refere à agência do Vaticano para as missões que basta um dado para nos fazer compreender a gravidade da situação: “95% da população vive em campos de refugiados na sua própria terra”. A guerra no Uganda causou pelo menos 20.000 vítimas civis, outras tantas crianças sequestradas e perto de um milhão de pessoas deslocadas no Norte, o que representa 2/3 da população local. “Somente as cidades ainda estão povoadas, as aldeias estão completamente vazias. A população vive no terror dos ataques da guerrilha; mulheres e crianças nos campos de refugiados mais próximos às cidades passam a noite nos hospitais, onde estão relativamente seguros”, afirma o responsável da AVSI. Em Gulu, capital da região, cerca de 7 a 8 mil crianças dirigem-se todas as noites para os hospitais da cidade para dormir. De manhã, voltam para os campos, que às vezes se encontram a 10 km de distância. “Estes são os afortunados, pois quem vive nos campos, longe das cidades, sofre os ataques nocturnos da guerrilha. Todas as noites são registados mortos, feridos, mutilados e crianças sequestradas para serem usadas pela guerrilha”, relata Silvestri. “Este drama tem de ser do conhecimento da opinião pública. Não é possível ficar calado diante das vítimas dessa violência”, conclui.
