Não é virtude. É feitio. Nunca me agarrei muito ao passado. Ao longo do meu sacerdócio os projectos foram chegando e partindo consoante a Igreja me pedia e a minha aptidão os concretizava. Desde o início fui enviado para a comunicação. Nunca, enquanto me preparava para ser padre, pensei dedicar-me à pastoral das comunicações sociais. Sempre me imaginei num recanto escondido, a dizer, na pequena aldeia, o que aprendi, sobretudo a partir do Concílio Vaticano II. Vim parar à aldeia global. Primeiro a nível diocesano e depois a nível nacional, fui lançado na cova dos leões ou na cratera onde explodem todos os vulcões – imprensa, rádio, televisão e anexos, com crítica de cinema à mistura. E por aí tenho andado. Sempre perguntei a Deus o que queria Ele de mim. Ele sempre responde. Mas a resposta não é tão óbvia quanto desejaríamos. Ao celebrar-se os vinte e cinco anos do “Setenta Vezes Sete” (e os vinte e seis do “Toda a Gente é pessoa”) – sou naturalmente questionado sobre a história e histórias destes dois trabalhos que ainda se mantêm no ar, ao Domingo, na RTP e na RDP. O Setenta Vezes Sete teve várias fases. Até 1989 com o Manuel Villas Boas e comigo; em 1992 com a responsabilidade do António Estanqueiro e, numa última etapa integrado no estatuto da Ecclesia. Ao longo dos seus vinte e cinco anos foi sempre editado pelo Secretariado Nacional das Comunicações Sociais. Antes do Setenta Vezes Sete tinha realizado um programa semanal de televisão que muito me ajudou a conjugar as linguagens da fé e do audiovisual. Pertenci a um Grupo de Pesquisa Audiovisual (Carlos Paes, Lopes Morgado, Carlos Capucho e Manual Villas Boas) que nos ajudou a aprofundar as correlações simbólicas entre a pastoral catequética e as potencialidades do audiovisual. Não podemos esquecer Mestre Pierre Babin que a todos nos ajudou a visitar este universo com um outro olhar, sem medo do “espectáculo de Deus”. A Lyon – França – desloquei-me durante mais de seis anos como aluno e como professor, para aprofundar esta saudável tensão e harmonia entre a inteligência e a emoção, teologia e vida, a ritualidade televisiva e anúncio da Boa Nova. Continuamos num permanente recomeço e no ensaio incessante de dizer Deus ao homem do nosso tempo. Foi isso o “Setenta Vezes Sete”. Nada está encontrado em definitivo. Saúdo as novas gerações que mantiveram e recriaram esta aventura evangelizadora. António Rego Ex-Realizador do 70×7 Dir. Secretariado Nacional das Comunicações Sociais