Todas as tragédias têm sobre o ser humano o efeito de o fazer partir em busca de respostas. O mundo uniu-se ao sofrimento e à busca de sentido dos habitantes da região italiana de Abruzzo, que de um momento para o outro viram ruir, à sua volta, uma vida que tanto custara a construir: entes queridos, casas, negócios, tudo desabou num instante, sem que nunca se chegue a perceber o motivo para tal. Ao longo dos dias que se seguiram à catástrofe provocada pelo terramoto, o Papa “adoptou” esta situação e foi deixando vários gestos de solidariedade para com as vítimas, confortadas no seu sofrimento pela certeza de que o mesmo não era indiferente, não passava despercebido no mundo, não era apenas mais um episódio no espectáculo mediático em que muitas vezes se transforma a vida de milhões e milhões de seres humanos. A Páscoa, com todo o seu esplendor, abre uma porta para quem busca respostas. A fé, disse o Papa, é fonte de esperança e de luz, mesmo nos tempos mais tenebrosos e, sobretudo, mesmo debaixo dos olhares cépticos ou escarnecedores de quem não entende nem quer entender como é que aquilo que não se vê pode dar um sentido a esta vida. Cada Páscoa é um recomeço e, apesar de toda a dor e do desespero que possa ter tomado conta da vida de quem foi afectada pelo sismo, a vida em L’Aquila também deverá recomeçar. Com o apoio material e espiritual de que tiverem necessidade e que deve continuar presente, mesmo quando o sismo já não for notícia e outras histórias do quotidiano tomarem o seu lugar na primeira página. Situações como estas, aliás, são noticiáveis apenas até certo ponto: o drama individual, a perda de um filho ou o milagre da sobrevivência não se quantificam, mesmo que queiramos, não se explicam. De certa forma, perante toda a informação que nos chega, só a noção de que estamos unidos nesta busca de respostas, na fragilidade do quotidiano, permite estar efectivamente junto destas pessoas. A “sombra” do terramoto, por outro lado, serviu este ano para encher jornais e enquadrar as celebrações de Semana Santa, sem necessidade de recorrer a polémicas sobre Dan Brown, Mel Gibson ou um suposto Evangelho de Judas, como aconteceu em anos anteriores. Sem terem culpa disso, as vítimas italianas foram o cordeiro sacrificado no circo mediático que não consegue encontrar nesta quadra respostas para além do óbvio e da futilidade.