Raquel Assis, Diocese de Lamego
A morte é o maior mistério e a única certeza que temos na vida.
Nas notícias, a semana que passou foi trágica, foram várias as personalidades que partiram, no entanto, a mais badalada foi a morte do Diogo Jota e seu irmão.
Todos os que partiram seriam boas pessoas, todos eles farão muita falta aos seus.
Nada do que consta no texto que se segue é contra todos os sinais de tristeza evidenciados pelo Diogo.
Talvez pelo tipo de morte, talvez por ser um desportista do mundo do futebol na atualidade, talvez por ser jovem, ter casado há uns dias, e ter deixado três crianças pequenas, por ter falecido no mesmo acidente que vitimou o seu único irmão.
No entanto, deixo uma questão: se as condições tivessem sido outras e apenas daqui por uns anos, as vozes de saudades pelo Diogo teriam tido a mesma projeção? Talvez não… mas ele continuaria a ser pai de filhos e filho de pais, um excelente jogador, uma boa pessoa, um belíssimo ser humano…
Ainda agora, algures, está outra mãe que perdeu o seu filho, jovem e com a vida pela frente, outra esposa perdeu o seu recente marido, uma criança que perdeu o seu pai e/ou mãe num acidente de viação ou de trabalho.
A morte traz consigo a saudade, independentemente do tipo de pessoa, idade, profissão… saudade que nos arranca o coração e nos faz duvidar do sentido da vida, independentemente do tipo de morte, ou da idade ou com quem ela ocorreu.
A morte leva consigo o pedaço de alguém que por aqui permanece, numa espera de um reencontro que nos eleva ao expoente da loucura nesta ânsia de sentir, novamente, o abraço, o beijo, o cheiro… até de ouvir, outra vez, os gritos da nossa mãe ou avó quando fazíamos asneiras, as ameaças do pai ou quando sabíamos que já devíamos ter chegado a casa horas antes.
Quem parte, nunca sabemos o que sentirá, ou com quem estará… como cristãos, acreditam nos que estão, finalmente, em paz e alegria com o Pai… para os que aqui ficam, um lugar fica vago, um lugar que em cada respiração nossa é sentida a sua ausência. Quantas vezes imaginamos o nosso ente querido novamente à mesa connosco, a brindar, ou a dar-nos colo quando estamos mais tristes.
De nada vale dizer, agora, o quanto quem partiu era importante para nós… as palavras e as ações cairão por terra. É enquanto aqui estamos, cada um de nós, que devemos amar e perdoar sem deixar para amanhã.
O amanhã pode ser tarde demais, pode nunca chegar.
A morte pode estar ao virar da esquina, mesmo para os jovens, mesmo para os saudáveis, mesmo para aqueles que se julgam imortais.
A nossa morte chegará, é certo, mais que certo, a única e verdadeira certeza que temos na vida.
Estejamos preparados para partir em paz quando ela chegar, mas também sem remorsos quando chegar a morte de alguém que nos é próximo.
A forma de lidar com ela, quando chega, é algo muito pessoal e que jamais deve ser julgado… a dor não se mede pela presença no velório ou no funeral, no tamanho do arranjo de flores que levamos, na quantidade de lágrimas ou no volume dos gritos de dor.
Às vezes, a dor magoa muito mais naqueles que aparentemente não sofrem, saibamos respeitar o modo como cada um vive cada situação em que se encontra.
O que dizer a alguém que perde um pedaço de si é uma tarefa complexa, apenas porque não há palavras possíveis, muito menos poções mágicas… antes houvesse! Um abraço, a maioria das vezes, é quanto basta para dizer que ‘estou aqui’, seja ele físico ou através da oração, porque o verdadeiro amor sente-se, independentemente da sua forma.
Raquel Assis
Paroquiana de Tabuaço, membro da Equipa Diocesana da Coordenação Pastoral
(Os artigos de opinião publicados na secção ‘Opinião’ e ‘Rubricas’ do portal da Agência Ecclesia são da responsabilidade de quem os assina e vinculam apenas os seus autores.)