Arcebispo assassinado em 1980 vai ser canonizado este domingo pelo Papa Francisco
El Salvador, 11 out 2018 (Ecclesia) – A canonização de D. Óscar Romero, antigo arcebispo de El Salvador, marcada para este domingo, reavivou os protestos no país no sentido das autoridades trazerem finalmente à justiça os responsáveis pela morte deste responsável católico, assassinado em 1980.
De acordo com a agência France-Press, centenas de pessoas marcharam esta quarta-feira pelas ruas da capital, São Salvador, para exigir “julgamento e punição” para todos os que estiveram envolvidos na morte de D. Óscar Arnulfo Romero.
Munidas de retratos do antigo arcebispo, e de bandeiras onde se podia ler “Marcha pela justiça” e “queremos ver julgados os assassinos de D. Romero”, as pessoas seguiram desde a praça Salvador do Mundo rumo ao campus de justiça, situado no centro da principal cidade salvadorenha
D. Óscar Romero (1917 – 1980) serviu as comunidades católicas de São Salvador num periodo em que esta nação da América Central estava dominada por um regime militar repressivo.
Durante três anos, o arcebispo afirmou-se como a voz do povo, na defesa dos direitos e da dignidade das pessoas, muitas delas vítimas da violência praticada pelos esquadrões da morte.
A 24 de março de 1980, D. Óscar Romero acabaria por ser morto a tiro enquanto celebrava missa na capela de um hospital no norte de San Salvador.
Esta quarta-feira, durante a referida manifestação pelas ruas da cidade, uma das participantes aludia à figura do militar Roberto D’Aubuisson, entretanto já falecido.
Fundador da Aliança Nacionalista Republicana, Roberto D’Aubuisson, é apontado num relatório da ONU como o alegado mentor do assassinato de D. Oscar Romero.
Já no campus de justiça, os participantes na marcha entregaram ao juíz Rigoberto Chicas um pedido escrito para que se “acelere” o processo penal envolvendo a morte do antigo arcebispo de El Salvador, cujo caso foi reaberto em maio de 2017.
Óscar Arnulfo Romero nasceu em agosto de 1917 numa família modesta em Ciudad Barrios (El Salvador); aos 14 anos, entra no seminário, mas seis anos depois afasta-se para ajudar a família que estava com dificuldades e passa a trabalhar nas minas de ouro, com os irmãos.
Após retomar os estudos, recorda a biografia disponibilizada pela Santa Sé, é enviado para Roma, onde estuda Teologia, na Universidade Gregoriana; ordenado sacerdote em 1942, regressa a El Salvador e assume uma paróquia do interior, antes de ser transferido para a Catedral de San Miguel, onde fica durante 20 anos.
Em 1970 é nomeado bispo auxiliar de San Salvador e, em 1974, Paulo VI designa-o bispo da Diocese de Santiago de Maria, no meio de um contexto político de forte repressão, sobretudo contra as organizações camponesas.
Em 1977, D. Óscar Romero é nomeado arcebispo de San Salvador; pouco tempo depois, é assassinado o jesuíta padre Rutílio Grande, figura próxima do futuro santo, que passa então a denunciar a repressão, a violência do Estado e a exploração imposta ao povo pela aliança entre os setores político-militares e económicos, apoiada pelos EUA, bem como a violência da guerrilha revolucionária.
D. Óscar Romero vai ser canonizado este domingo em Roma, pelo Papa Francisco, depois de ter sido aprovada em março deste ano a publicação do decreto que reconhece um milagre atribuído à intercessão do antigo arcebispo de El Salvador.
Na mesma celebração será também canonizado o Papa Paulo VI, que liderou a Igreja Católica entre 1963 e 1978, ainda os padres Francesco Spinelli (1853-1913) e Vincenzo Romano (1751-1831); as religiosas Maria Catarina Kasper (1820-1898) e Nazária Inácia de Santa Teresa de Jesus (1889-1943); e o jovem leigo italiano Nunzio Sulprizio (1817-1836).
JCP