Crescimento «desordenado» da oferta pública e financiamento baseado em «critérios quantitativos» preocupam instituição
Lisboa, 04 fev 2012 (Ecclesia) – A Universidade Católica Portuguesa (UCP), que comemora este domingo 45 anos de existência, quer promover uma “reflexão alargada” com o Governo, para perceber melhor o futuro que está reservado para o ensino superior privado no país.
Em declarações à Agência ECCLESIA, esta sexta-feira, durante a sessão solene comemorativa do “Dia Nacional da UCP”, o reitor Manuel Braga da Cruz salientou que “sem um conjunto de reformas no ensino superior, que tenham a ver com a racionalização da rede e com a lei do financiamento”, a universidade “corre o risco de perder a sua capacidade competitiva no contexto europeu e internacional”.
A cerimónia, que chamou centenas de estudantes ao auditório Cardeal Medeiros, contou com a presença do cardeal-patriarca de Lisboa e magno chanceler da UCP, D. José Policarpo, do núncio apostólico (representante diplomático da Santa Sé) em Portugal, D. Rino Passigato, e do secretário de Estado do Ensino Superior, João Filipe Queiró.
Saudando a presença do representante do Governo, Manuel Braga da Cruz defendeu a criação de uma rede de ensino superior mais adequada às “necessidades do país” e que considere o “contributo que a sociedade civil e a Igreja podem dar”.
Só “nos últimos 15 anos” e com o “protecionismo” do Estado, “a oferta de ensino superior público subiu 32 por cento, enquanto que a oferta privada foi obrigada a regredir outros tantos 32 por cento”, salientou.
Um processo que, segundo o reitor da UCP, abriu portas à “concorrência desleal” no setor educativo, ao mesmo tempo que favoreceu o aparecimento “desordenado e errático” de instituições de ensino, contrário a “uma planificação racional das necessidades” e desrespeitando o “principio da subsidiariedade”.
Na sua intervenção, Manuel Braga da Cruz deixou ainda críticas às regras que norteiam a atribuição de financiamento no ensino superior, “que ao basearem-se em critérios quantitativos, têm tido o efeito perverso de fomentar o crescimento acrítico de cursos e de alunos” e são responsáveis pelo “crescente desemprego de jovens saídos das universidades”.
Confrontado com o repto lançado pela Universidade Católica, no final da sessão, o secretário de Estado do Ensino Superior recusou “fazer comentários de fundo” sobre estas matérias, optando por “sublinhar o papel muito importante” que a instituição católica tem desempenhado no país.
“É uma instituição muito prestigiada, que muito contribuiu para a qualidade do panorama do ensino superior em Portugal e se há aqui um problema, podemos dizer que a Universidade Católica faz parte da solução”, disse João Filipe Queiró, em declarações aos jornalistas.
Seguindo uma decisão da Conferência Episcopal Portuguesa, o “Dia Nacional da UCP” vai ser assinalado este domingo, um pouco por todo o país, subordinado ao lema “UCP: Um projecto da Igreja com 45 anos”.
O ofertório das missas celebradas em todas as igrejas nacionais reverte a favor da Universidade, destinando-se à atribuição de bolsas aos “alunos mais carenciados” da Faculdade de Teologia, respeitando assim o “lugar e papel especial” do ensino teológico na identidade e missão da Universidade Católica, criada em 1967.
JCP