Educação: «Todos precisamos de uma pessoa que seja louca por nós; essa pessoa pode ser um professor» – Nuno Archer

Formador e investigador em Educação e Desenvolvimento Pessoal e Social, Nuno Archer olha para as oportunidades no ensino, para a aposta no desenvolvimento integral do ser humano e para o investimento na cidadania dos alunos

Foto: Agência ECCLESIA/HM

Lisboa, 10 set 2025 (Ecclesia) – Nuno Archer, investigador na área da Educação e Desenvolvimento Pessoal e Social, disse à Agência ECCLESIA que “as crianças têm de perceber que o comboio tem lugar para elas, que a sua voz é importante”.

“Muitos psicólogos e muitos educadores têm desenvolvido a ideia de que todos nós precisamos de uma pessoa que seja louca por nós. Uma pessoa que reconheça esse valor, e isso pode ser muito bem o professor. Como é que a criança percebe que esse comboio tem um lugar para ela, que a sua voz é importante e que faz sentido?”, explica à Agência ECCLESIA o educador, formador e investigador, atualmente ligado à ‘Associação Competências para a Vida’.

Com experiência pedagógica diferenciada, o responsável entende ser necessário valorizar oportunidades nos “recreios, nas bibliotecas, nos campos de jogos, no refeitório e menos nas aprendizagens formais”.

“Eu sempre fui incentivado a estudar mas há muitos meninos que para estudar têm de fazer um esforço de gestão e o estudo é um esforço hercúleo. A realidade do outro exige alguma humildade da minha parte. Identificar oportunidades permite criar novidade, e a novidade que às vezes está escondida e que não conseguimos ver. Na educação há limites que estão muito definidos, mas que nem sempre precisam ser assim. Nós podemos pensar a escola, podemos pensar a educação de uma maneira diferente”, explica.

O espaço escolar deve ser alvo de uma construção “conjunta” que escute, acolha, possa promover uma educação integral e ser lugar de cidadania.

“A vocação para o crescimento integral: a dimensão física, a dimensão social, afetiva, cognitiva e espiritual. E muitas vezes temos tudo muito espartilhado – a escola dá muita importância ao desenvolvimento cognitivo e ficam outras dimensões por desenvolver, faltam oportunidades e falta este foco noutras dimensões que são igualmente importantes”, traduz.

Nuno Archer sublinha as referências ao longo da vida, a “abertura ao crescimento” e destaca a importância do otimismo.

“Apostar no desenvolvimento integral implica também acreditar no potencial que existe neste crescimento integral, logo à partida. O otimismo é hoje um presente bom para o mundo, e ser otimista não é ser parvo, mas é ter consciência de que melhor é possível, e esta consciência muda tudo”, indica.

“As dificuldades das famílias, as dificuldades que os miúdos trazem, os recursos que nós não temos – estamos aflitos, os problemas ultrapassam-nos *- mas quando vemos os miúdos pequeninos a chegar e à espera de encontrar aquilo que precisam para a sua vida, mesmo que não saibam pedir, o que é que nós vamos fazer? Nós sabemos que não temos os recursos que são precisos, sabemos que eles têm problemas, sobretudo aqueles que têm maiores vulnerabilidades, sabemos que têm problemas que se calhar não vamos conseguir resolver, sabemos que vamos enfrentar tudo isso, mas o que é que eu faço? É uma opção concreta, e aqui o otimismo é uma opção concreta”, aponta.

Nuno Archer está a implementar, a partir do Programa Escolhas (IPDJ), a iniciativaa iniciativa «Escolhas em debate» que visa juntar alunos em debates que permitem trabalhar diferentes dimensões do ser humano em crescimento, e em contexto educacional.

“O projeto permite que o jovem descubra a sua voz, a apresente, dá-lhe confiança para expressar as suas ideias, desenvolver a empatia, capacidade de ouvir e de compreender o que os outros trazem e desenvolver o pensamento crítico e criativo. Podemos desenvolver aqui muitas perspetivas a nível de metodologias ativas, de atividades que permitem aos alunos levar mais longe, envolver-se mais no seu processo de aprendizagem, aprender mais e adquirir estas ferramentas para aprendizagem, continua”.

Esta iniciativa tem na base um projeto desenvolvido a nível europeu com o Centro de Estudos de Povos e Culturas de Expressão Portuguesa (CEPCEP) da Universidade Católica Portuguesa (UCP), apresenta Nuno Archer.

O investigador recorda ainda o último relatório da Unesco, «Reimagine Our Futures Together» e as pistas para ultrapassar uma sentida “crise” na missão educativa.

“Nós neste momento temos um acesso generalizado a uma educação de baixa qualidade e depois temos uma educação de qualidade com acesso restrito. Colocar o direito à educação: cada criança quando nasce, do ponto de vista educativo, tem direito ao pleno desenvolvimento da sua personalidade e do seu potencial. Não é aprender muitas coisas, mas o pleno desenvolvimento. Como é que nós estamos a garantir isto?”.

A conversa com Nuno Archer pode ser acompanhada esta noite no programa ECCLESIA, emitido na Antena 1, pouco depois da meia-noite, e disponibilizado no podcast «Alarga a tua tenda».

LS

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