Educação/Madeira: Irmãs da Apresentação de Maria foram «empreendedoras sociais», diz historiador

Rui Carita sublinha papel desenvolvido pelas religiosas na educação de várias gerações, ao longo de 100 anos de presença no arquipélago

Funchal, Madeira, 08 jul 2025 (Ecclesia) – O historiador e investigador Rui Carita, da Universidade da Madeira, sublinhou hoje o papel das Irmãs da Apresentação de Maria como “empreendedoras sociais”, no arquipélago.

“São mulheres do mundo, são mulheres abertas a novas ideias, prontas a reciclar, a fazer de novo, são verdadeiramente empreendedoras sociais, no verdadeiro sentido da palavra”, disse à Agência ECCLESIA, falando durante o centenário da presença das religiosas na região.

O entrevistado destaca que, ainda hoje, as religiosas “continuam a conseguir encontrar mercado para o seu ensino, são mulheres que se adaptam”.

A congregação chegou ao arquipélago pela mão de uma madeirense, Leontina de Ornelas e Vasconcelos, natural de Machico, que emigrou para a Suíça, e viria a assumir o nome religioso de irmã Maria da Santíssima Trindade.

Rui Carita destaca que, na ilha, as Irmãs da Apresentação de Maria conseguiram mobilizar as “classes nobres mais importantes para o pagamento das propinas”, em favor das meninas vindas de classes mais desfavorecidas.

O investigador diz que a região deve muito a estas religiosas e “vice-versa”.

“A Madeira constitui a experiência de lançamento delas, é a partir daqui que vão para a Lourenço Marques [Moçambique], é a partir daqui que depois que da África do Sul passam também para o Canadá, etc. A Madeira foi sempre um ponto de comunicação do mundo inteiro, como ainda é hoje”, assinala.

Lembrando a irmã Maria da Santíssima Trindade como uma “grande empreendedora”, o historiador realça que as religiosas assumem uma “missão de vida”, oferecendo “um serviço efetivamente cívico, religioso, dentro do seu âmbito”.

“Estas mulheres têm um sentido de missão, uma inspiração que sentem como inspiração divina e transmitem isso para o ensino, cria uma mais-valia excecional”, sustenta.

O congresso global ‘Educação, Solidariedade e Evangelização: Da Europa para a Madeira, da Madeira para o Mundo’, que assinala os 100 anos da chegada das Irmãs da Apresentação de Maria à ilha, decorre no Funchal entre segunda e sexta-feira, com a presença de especialistas e investigadores de 23 países, entre 400 participantes.

Cristina Trindade, historiadora do Centro de Estudos Globais/Universidade Aberta, assinala à Agência ECCLESIA que as religiosas promoveram uma “revolução” com a sua aposta na educação feminina.

“Até essa altura, as meninas da elite eram educadas em conventos tradicionais, de freiras, de clausura, elas próprias passavam uma espécie de período de clausura e ficavam lá internadas”, recorda.

A entrevistada sublinha que as Irmãs da Apresentação de Maria abriram, na Madeira, “a possibilidade da formação para muitas jovens que, de outra forma não teriam acesso, a qualquer espécie de educação”.

“Desse ponto de vista é revolucionário e há muitas alunas que ficaram muito agradecidas à congregação por terem tido a oportunidade de estudar”, acrescenta.

Cristina Trindade considera que a chegada das religiosas à região representou “uma lufada de ar fresco em termos de formação de mulheres e de formação para a área social”, com uma ação “pioneira na área da educação”, em Portugal.

As Irmãs da Apresentação de Maria foram fundadas em 1796, por Marie Rivier, e inserem-se “no movimento de renovação da vida consagrada orientada” como “empreendedorismo educativo, social e pastoral de timbre feminino”, assinala o Centro de Estudos Globais, instituição científica promotora do congresso global.

PR/OC

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