Educação: Helena Carmo torna-se a primeira doutorada surda da Universidade Católica Portuguesa (c/vídeo)

Recém-doutorada em Ciências da Cognição, Linguagem e Neurociências fala num percurso do qual tem «muito orgulho» e lamenta que Língua Gestual Portuguesa não seja vista «como uma verdadeira língua»

Foto: Universidade Católica Portuguesa

Lisboa, 12 fev 2025 (Ecclesia) – Helena Carmo tornou-se a primeira surda a obter o doutoramento pela Universidade Católica Portuguesa e a segunda pessoa surda doutorada em Portugal, tendo na passada sexta-feira recebido a carta doutoral como conclusão do percurso.

A recém-doutorada explicou, em declarações à Agência ECCLESIA, que finalizar o doutoramento foi “um alívio” depois de um caminho de “muito trabalho”, do qual tem “muito orgulho” por ter superado “tantas dificuldades”.

A obtenção do doutoramento trouxe a Helena Carmo a convicção de que é possível alcançar objetivos, algo que antes achava não ser possível, realçando a “boa orientação” e as “boas sugestões” fundamentais para terminar etapa.

Sozinha teria sido “impossível” concluir o doutoramento, sublinha, destacando o apoio da Universidade e as ferramentas disponibilizadas pela instituição para conseguir alcançar feito.

A doutorada lamenta que a sociedade ainda não veja a Língua Gestual como “uma verdadeira língua” e que não perceba bem a importância que tem.

Helena Carmo ganhou uma bolsa de investigação pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, doutorou-se em Ciências da Cognição, Linguagem e Neurociências e apresentou a tese “Aspetos Fonológicos, Morfossintáticos e Semânticos da Negação em Língua Gestual Portuguesa: O Caso do Gesto NÃO_HAVER”.

O trabalho académico aprofunda os mecanismos linguísticos da negação da Língua Gestual Portuguesa (LGP), clarificando padrões gramaticais e contribuindo para o avanços dos estudos sobre a LGP.

A investigadora da Faculdade de Ciências da Saúde e Enfermagem fala do percurso pela UCP, que começou na década de 2010, quando obteve a licenciatura, tendo feito parte de duas turmas só para pessoas surdas, algo que fez com que a um processo de adaptação e aprendizagem por parte dos professores.

Depois do mestrado, seguiu-se o doutoramento, que para Helena foi o “mais difícil”, uma vez que exige um “trabalho muito próprio e muito isolado”, ressaltando ainda assim a ajuda que teve para ultrapassar todas as barreiras.

Sobre os desafios que os estudantes surdos enfrentam, Helena defende uma maior preparação da universidade e escolas, defendendo um bom ensino que seja verdadeiramente bilíngue, com Língua Gestual, para acessibilidade ao conhecimento.

“Se não houver essa base anterior, claro que vai haver sempre problemas, porque vai ser muito difícil chegar ao fim”, reforça.

A recém-doutorada acredita que a sua história pode inspirar e dar “esperança” a outros alunos surdos, vincando ainda assim que “é preciso lutar”.

A sessão solene do Dia Nacional da Universidade Católica Portuguesa, que se realizou no dia 7 de fevereiro, no Auditório Cardeal Medeiros da UCP, em Lisboa, incluiu a imposição das insígnias e entrega das cartas doutorais aos novos doutores, entre eles Helena Carmo.

LJ

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