Só assim se ultrapassa o comodismo da sociedade – alertou D. Carlos Azevedo que espera ver na greve geral mais do que folclore
Para a alteração do rumo dos acontecimentos vividos na sociedade portuguesa, D. Carlos Azevedo, presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, elege a área da educação como a grande prioridade para a mudança de mentalidades. “Sem termos pessoas com uma mentalidade nova e com um sentido novo da responsabilidade não conseguimos corrigir aquilo que é o futuro diferente para a economia e para a política” – disse à ECCLESIA à margem do debate sobre «O desafio da mudança urgente – caridade, verdade e uma encíclica”.
Organizado pela Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), este debate realizado hoje (20 de Novembro), na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, contou com agentes sociais e pessoas interessadas nestas áreas. “O Bem Comum deve estar sempre horizonte das decisões, seja políticas seja económicas” – pediu o presidente da referida comissão. Por sua vez, José Dias da Silva alerta também para a mudança “nos pequenos gestos da nossa vida”.
A mobilização para “ideias novas que possam construir” é algo que ajuda também a ultrapassar a crise. “Se Jesus viesse cá tinha de arranjar mais uma palavra na cruz: tudo está acomodado, em vez de tudo está consumado” – disse D. Carlos Azevedo. E acrescenta: “o comodismo das pessoas é evidente”. As pessoas estão “acomodadas” e “não se revoltam contra todo um conjunto grave de situações”. E adianta: “à Igreja compete mobilizar as pessoas”.
Joaquim Franco, elemento da CNJP e coordenador deste debate, alertou na sessão de abertura deste colóquio sobre a última encíclica de Bento XVI que já se percebeu que “as «macrosoluções» para a mudança não passam directamente pelas nossas mãos, mas o desafio da mudança – urgente – está nas nossas mãos”. E acrescenta: “A mudança que se exige, e que vamos projectando nos padrões da nossa cultura, passa em primeiro lugar pelo indivíduo, pela «micromudança» que pode transformar-se e transformar o todo comunitário”.
Apesar da greve geral marcada para o próximo dia 24 deste mês, D. Carlos Azevedo lamenta que “isso seja mais um acto de folclore ou romantismo” e “não seja verdadeiramente no cerne a vontade de mudar”.
A quatro dias da “anunciada manifestação geral de indignação”, Joaquim Franco sublinha que esta manifestação é “um grito constitutivo dos direitos democráticos – legítimo, portanto – mas que se deseja construtor de uma nova dinâmica de participação e responsabilidade política. Se não for com este propósito, é em vão” – conclui