Homilia do Bispo de Aveiro no início da Semana Nacional da Educação Cristã 1.Inicia-se hoje em Portugal a Semana Nacional Da Educação Cristã. Nesta manhã de domingo- o 27.º domingo do Tempo Comum – reúnem-se crianças, jovens, mulheres e homens cristãos em torno do Altar da Eucaristia para celebrar a fé, para fortalecer a esperança e o sentido feliz da vida e para construir a alegria de sermos irmãos e membros de um mesmo Povo e de uma só Família – a Família e o Povo de Deus Começaram já as Catequeses Paroquiais e iniciaram-se nas Escolas as Actividades escolares e lectivas em que se integram por direito dos alunos e das famílias, direito consagrado em lei, as aulas de Educação Moral e Religiosa Católica e de outras Confissões Religiosas. O princípio do ano escolar é um tempo propício, favorável e imprescindível no percurso pedagógico, no processo educativo das Escolas e no itinerário catequético das Comunidades cristãs. As famílias vivem este tempo com encanto, com interesse e com esperança, porque aqui se situa o horizonte de uma necessária e saudável complementaridade entre as famílias e tantos outros agentes educativos que se completam nesta missão única e comum – a missão de educar. As crianças e os jovens centram na Escola e na Comunidade os seus sonhos, expectativas e projectos, conscientes e confiantes de que aí cresce o seu futuro e aí se constrói a sua felicidade. A Igreja e o Estado sabem que lhes compete, segundo a sua missão específica, partilhar com as famílias este “suave peso de educar”. Ninguém desconhece que é na educação que se decide o futuro da sociedade e o rumo da civilização e que é pela qualidade da acção educativa e dos valores que aí se alicerçam e edificam que uma Comunidade transporta em si um futuro digno, justo, solidário e feliz. Situa-se neste compromisso de trabalho e neste imperativo de qualidade e de verdade o contributo inadiável e insubstituível da Igreja, dado com alegria, generosidade e competência nos vários campos da acção educativa. Convoco as famílias, os catequistas, os animadores juvenis e os professores para esta bela missão – a missão de educar, assumida como um suave peso, acolhida como um dom e vivida com inesgotável entusiasmo. Peço que ninguém se dispense, se desmotive ou desanime nesta imensa e apaixonante missão de educar, sempre tão exaltante e indispensável quanto complexa e difícil. Ide com alegria e com perseverança. A educação não se faz com pressa nem com agitação. Exige serenidade, trabalho e persistência.. O educador cristão deve aprender a pedagogia vivida na escola dos discípulos de Jesus, o Mestre, deixando-se moldar pelos critérios do Evangelho e pelos paradigmas das Bem-aventuranças e encontrando em cada novo dia de Escola ou de Catequese a alegria, a coragem e o gosto de educar. O educador cristão deve procurar na oração, na escuta da Palavra e na celebração da fé e dos sacramentos ouvir Deus e viver de Deus para depois falar de Deus, da sua vida e do seu amor, àqueles a que é enviado a ensinar e a educar. 2. Compreendemos por isso que a oração do sacerdote, do educador e dos pais tenha muitas vezes o tom da voz do profeta Habacuc na primeira Leitura desta Eucaristia. O aparente silêncio de Deus inquietou sempre os profetas e foi, mesmo nos nossos dias, uma provação dolorosa dos santos. Às vezes parece que a resposta de Deus tarda demasiado e a luz da manhã e a esperança de um novo dia demoram muito a chegar. Mas o Senhor tranquiliza o profeta dizendo-lhe: “Põe por escrito esta visão e grava-a em tábuas com clareza, de modo que a possam ler facilmente. O justo viverá e Israel não deve temer”. (Hab. 2, 2-4) E Jesus no Evangelho, hoje proclamado, fortalece a fé dos vacilantes: “ Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: Arranca-te daí e vai plantar-te no mar…” ( Lc.17,6). Educar é sempre um acto de fé a exigir e a merecer uma consentânea e coerente vida de fé. Também nós catequistas e educadores precisamos de rezar e implorar:”Aumenta, Senhor, a nossa fé” (Lc.17,5). No campo imenso da educação uma pequena semente basta para realizar prodígios, para mudar caminhos, para converter vidas, para dar sentido à existência de tantas pessoas. Educar é semear. Semear a boa semente. Multiplicar esta semente. Semear a mensagem do Evangelho. Não falta terra fértil nas Famílias, nas Escolas e nas Catequeses. A Igreja olha com confiança e com gratidão os educadores, os catequistas e animadores de jovens e envia-os em missão para comunicarem saberes, competências e valores, cimentados em vidas dadas à causa da educação e ao serviço de todas as crianças e jovens. São igualmente para nós, catequistas e educadores, as palavras de S. Paulo na segunda Leitura:”Exorto-te a que reanimes o dom de Deus que recebeste. Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza. Não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor” (2Tim.1,6-8). 3. Educar é também um acto de comunicar. Colocar os meios de comunicação social ao serviço da educação não é uma forma redutora de ver a função das novas tecnologias, o valor do génio inventivo do nosso tempo nem o espaço que por direito próprio pertence à comunicação social. Consiste em estabelecer pontes de diálogo, de harmonia , de beleza e de bem entre duas das mais importantes componentes da vida de cada pessoa e do nosso futuro humano, social, cultural e religioso onde o transcendente e o sagrado tenham lugar e espaço. A Igreja ao convidar-nos ao longo desta semana para uma reflexão mais aprofundada sobre a relação entre a educação e as comunicações sociais quer manifestar grande apreço pela escola e pela comunicação social e por quantos aí trabalham. A comunicação social não pode esquecer-se de que é uma das muitas escolas que todos nós frequentamos e de que a todos deve ajudar a crescer humanamente de forma íntegra, digna e feliz. O fascínio que os meios de comunicação social exercem sobre nós torna-se ainda mais sensível nas crianças e nos jovens. Os meios de comunicação social são para as crianças e para os jovens quase tão naturais e necessários como o ar que respiram. Merecem-nos, também, por isso mais respeito, maior atenção e esforço constante para que sejam saudáveis. Urge promover neste âmbito uma sadia ecologia humana onde a existência de cada criança e de cada jovem se desenvolva com equilíbrio e com dignidade. 4.A missão de educar e a missão de comunicar aproximam-se e unem-se sempre que uma e outra reconheçam e compreendam que estão ao serviço do bem, da beleza e da verdade. Não são actos abstractos, actividades neutras ou tarefas indiferenciadas. A pessoa humana não é apenas um destinatário da educação, um consumidor de comunicação social ou um objecto de informação. A pessoa humana seja ela uma criança, um jovem, um adulto, um idoso, um deficiente ou um doente é para nós cristãos imagem e semelhança de Deus que de nós fez santuários de verdade, testemunhas da sua bondade e beleza e construtores de um mundo justo, verdadeiro, bom e belo. Educar é para o cristão falar de Deus e da mensagem do Evangelho de Jesus, o Filho de Deus. Educar é falar com Deus na oração dos educadores, das famílias e das comunidades. Educar é, finalmente, revelar uma coerência de vida no testemunho de pais e de educadores na certeza de que se aprende sempre mais nos exemplos do que nas palavras. É o mesmo Deus que nos envia em missão para que nos dediquemos com alegria e entusiasmo ao serviço da educação cristã na família, na catequese, nos grupos de jovens e no ensino escolar. A educação não pode silenciar Deus, não deve esquecer Deus, porque sempre que isso acontece é a vida humana que perde sentido e a sociedade que se desencontra do seu rumo histórico. 5. Celebra-se nesta semana, no próximo dia 13 de Outubro, o nonagésimo aniversário da última aparição de Nossa Senhora aos pastorinhos de Fátima que com o milagre do sol iluminou os céus da serra de Aire. Iluminai Senhora, Mãe de Jesus e nossa Mãe, os horizontes da educação em Portugal e dai-nos sabedoria e fortaleza, ciência e conselho para sermos verdadeiros, sábios e santos educadores cristãos. Confiamo-Vos, Mãe, as nossas Famílias, Catequeses e Escolas. Abençoai, nossa Mãe e Padroeira, as crianças, os jovens, os pais, os catequistas e os professores ao longo deste ano que agora começa. Ámen. Igreja Matriz de Esgueira, 7 de Outubro de 2007. +António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro