Conferência do cardeal português assinalou encerramento das celebrações do 55.º aniversário da UCP
Lisboa, 26 mai 2023 (Ecclesia) – O cardeal português D. José Tolentino Mendonça disse hoje na sede da Universidade Católica Portuguesa (UCP), em Lisboa, que só uma “antropologia integral” pode defender a humanidade da ditadura do algoritmos.
“Estamos no olho de uma tempestade e teremos de encontrar uma via de equilíbrio, que ainda não vemos claramente”, referiu o prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação (Santa Sé), na conferência de encerramento das comemorações do 55.º aniversário da UCP.
Perante centenas de pessoas, o colaborador do Papa apresentou uma conferência intitulada ‘Que Recursos Espirituais para Enfrentar o Futuro?’.
A intervenção destacou a urgência de “ativar e redescobrir” os recursos espirituais e humanos, que podem “fazer ressurgir” a humanidade, como instrumentos primários de socorro” para “operacionalizar a esperança e plasmar o futuro”.
“O recurso principal é sempre a pessoa humana”, apontou o prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação.
Nesse sentido, assinalou que, “em nenhum momento a vida humana é descartável”, pedindo “renovado apreço e reencontrada veneração” por cada pessoa.
“Uma universidade não é uma empresa, não é uma indústria de ideias”, advertiu ainda.
Para o cardeal e poeta, outros recursos espirituais para o futuro são o “espanto”, de quem se reconhece frágil, a “relação”, a capacidade de “aceitar o risco” e a “esperança”.
D. José Tolentino Mendonça sustentou que “a ciência não tem de pôr de lado a dimensão do mistério”.
O cardeal madeirense apontou a uma “revolução tecnológica, civilizacional e antropológica” em curso, que “visa alterar a configuração da experiência do mundo”.
“Qualquer porção do real pode agora ser traduzida numericamente”, observou, para falar de “uma vida desmaterializada” e “incrivelmente veloz”, sem restrições de tempo nem limites de espaço.
A intervenção aludiu a uma sucessão de crises, que alimentam a “crise antropológica”, com “elementos e desafios inéditos na história humana”.
“Estamos no turbilhão de uma mudança epocal”, insistiu D. José Tolentino Mendonça.
Para o cardeal e poeta, a história da humanidade pode ser retratada como uma “conversa”, tanto no nível académico como no trabalho quotidiano, porque em todas as circunstâncias, “a palavra partilhada permanece um reduto”.
“Não seríamos o que somos sem a conversa”, sustentou o responsável da Santa Sé, para quem este encontro de palavras permite uma “abertura de horizontes”.
O conferencista saudou os participantes no encontro, nos quais identificou as “redes de amizade e esperança” fundamentais para a Universidade, em “tempos de grande incerteza”, marcados pela “globalização da esperança e do medo”, que ameaçam a “casa comum”.
D. José Tolentino Mendonça apelou à criação de redes, nas várias áreas do saber, mantendo a sua “matriz universalista”, que lhe permite integrar “novas fronteiras do conhecimento”.
“Precisamos da ousadia de realizar alianças entre saberes”, defendeu.
A intervenção encerrou-se com uma evocação dos 55 anos de história da UCP, que se “tem destacado como instituição qualificada, credível e inovadora”.
Isabel Capeloa Gil, reitora da UCP, iniciou a sessão saudando um amigo que “regressa a casa”, dado que D. José Tolentino Mendonça foi docente e vice-reitor da Universidade Católica.
A responsável falou em “tempos interessantes”, com desafios e oportunidades acelerados pela pandemia, considerando que “os desenvolvimentos políticos e económicos em curso não são otimistas”.
Para a reitora da UCP, é necessário “repensar o mundo a partir de uma lógica de fraternidade social”, como pede o Papa, promovendo um diálogo assente no património de “humanidade comum”.
“Este é, inegavelmente, um momento crítico”, também para a universidade, acrescentou Isabel Capeloa Gil, questionando a ideia de conhecimento como “produto fabril”.
“O nosso mercado é, primordialmente, um mercado do espírito, um mercado de ideias”, precisou.
A responsável evocou a comunidade académica, com mais de 20 mil estudantes, docentes e colaboradores, empenhada em “cultivar a sede de saber, orientados para o bem comum”
O evento foi encerrado pelo cardeal-patriarca de Lisboa e magno chanceler da Universidade, D. Manuel Clemente, que apelou à “conjugação de saberes”.
OC
No final do evento, D. José Tolentino Mendonça disse à Ecclesia e Renascença que a JMJ Lisboa 2023 representa uma ocasião para “Portugal abrir as portas ao futuro que os jovens representam”.
“Penso que raramente Lisboa será tão bela como com um milhão e meio de jovens pelas ruas, como mensageiros credíveis de uma esperança”, apontou. |