Educação Cristã: Esperança e Profecia

Nota Pastoral da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé

Semana Nacional da Educação Cristã
5 a 12 de outubro de 2025

 

Foto: Matteo Pettenuzzo

Do futuro incerto…

Os cristãos são portadores de um olhar de esperança sobre o futuro. Participam da confiança de que fala São Paulo: mesmo que sejam imensas e densas as sombras que se abatem sobre o presente, elas não têm comparação com a glória futura; é na esperança que somos salvos, não uma esperança gerada por nós, mas germinada, em nós, pelo Espírito a partir do seio da própria Trindade (Cf. Rm 8, 18.24). A Trindade que, na pessoa do Filho, antecipou o sentido definitivo da História e projetou toda a criação para o que há de vir: a participação na felicidade para todos preparada. Esta esperança é a fonte da identidade e da liberdade autênticas: sabemos quem somos; sabemos donde provimos; sabemos para onde vamos.

Trata-se de uma esperança que habita a pessoa, antecipando-se nela como um frescor no ‘calor tórrido’ dos dias das nossas vidas. O futuro, para os cristãos, é, por isso, luminoso, aguardado com essa esperança que assoma ao coração como presença antecipadora do amanhã de Deus.

 

…ao futuro que se torna esperança

Dos cristãos espera-se que cultivem a genuína esperança, nas suas vidas e nas dos que com eles partilham a história. Não apenas a utopia de um mundo diferente, mas a esperança: a confiança no Senhor da História, connosco presença atuante das alegrias e dos sonhos humanos antecipados.

Em Ano Jubilar, a Educação Cristã é chamada a ser voz e expressão ousada e criativa daquele olhar profético e de esperança, reorientando os olhares para o mapa do coração da pessoa e da vida humana, com particular foco para quantos olham com medo, sem confiança e sem horizonte!

O educador, chamado a ser ‘embaixador da esperança’, é um semeador e cultivador de um renovado olhar e de uma renovada atitude. Traz, dessa terra distante que é o futuro, a luz que brilha como esperança e conduz os seus educandos à sua autêntica fonte que não é cada um de nós, mas Aquele em quem se realizou, de modo definitivo e antecipando, o futuro último, o amor que, verdadeiramente, redime. O papel insubstituível do educador cristão evidencia-se nesta singular tarefa de abrir ao amor, quando tudo seduz para a autossuficiência e um bastar-se a si mesmo. É, assim, grande e permanente, o desafio de procurar e regressar à autêntica nascente da redenção, fonte perene da esperança.

 

Educar na esperança como profetas do Amor

A esperança cristã assegura-nos que provimos do Amor e para o Amor nos encaminhamos. Lembra Bento XVI que “nunca é tarde demais para tocar o coração do outro, nem é jamais inútil. A nossa esperança é sempre essencialmente também esperança para os outros; só assim é, verdadeiramente, esperança também para mim.” (Spe Salvi, 48)

Habitado por esta certeza, o educador não é um adivinho do amanhã, mas alguém que ‘fala em nome’ de Deus, que ama e Se define a Si Mesmo como Amor. O educador é a voz com que Deus antecipa, no agora, a Vida que pretende oferecer-nos a todos. A todos, em particular aos que ‘nada’ parecem ser! É profeta do amor e do sonho de Deus!

Peregrinos de esperança, em Igreja sinodal, os educadores cristãos, perante as tribulações pessoais e sociais, educam para a fraternidade, para a justiça, para a paz e confiam na presença do Ressuscitado, que sempre protege, guia e reacende a Igreja na esperança. Ir ao encontro das pessoas para anunciar a salvação e partilhar a alegria do encontro com Cristo permanece como missão1.  Em todas as realidades educativas, quanto anseiam os nossos educandos por este anúncio e por aquela Vida plena!

 

A alegria como fruto da Esperança 

No contexto do Ano Jubilar, os frutos da esperança tornam-se ainda mais visíveis e necessários para a missão educativa das famílias, dos párocos, dos catequistas, dos professores da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica, dos professores das Escolas Católicas e dos demais educadores católicos. A esperança jubilar gera frutos concretos, como a alegria que contagia, o perdão que reconcilia, o serviço que transforma, a gratidão que congrega e a perseverança que sustenta.

Neste ano de graça, somos chamados a testemunhar que a esperança cristã não dececiona, antes abre horizontes, cura feridas e faz-nos educadores que anunciam, com a vida, que Deus faz novas todas as coisas. Educar com esperança é preparar os corações para acolher o futuro como um dom e uma responsabilidade, firmes na fé e ativos no amor e cheios de alegria.

A alegria é um dom precioso que brota desta esperança enraizada em Cristo. Não é uma emoção passageira, mas uma certeza serena de que Deus caminha connosco, mesmo nas dificuldades. Em cada gesto educativo, em cada partilha de fé, somos chamados a ser sinais vivos dessa mesma alegria que nasce da confiança no amor fiel que Deus é. Ao educarmos com esperança, despertamos nos nossos educandos o desejo de um mundo mais justo, fraterno e cheio de sentido. A nossa missão não se esgota na transmissão de conteúdos, mas é movimento e envolvimento de, no Espírito, sermos testemunhas do que professamos e ensinamos, de acender corações entusiastas com a vida em abundância. Só a esperança dá essa leveza e esta sabedoria para educar com alegria e gratidão autênticas.

 

Chamados a ser profecia de esperança e de amor

A Educação Cristã conhece e enfrenta inúmeros desafios, como sejam a cultura do imediato e a fragilidade dos vínculos humanos, entre muitas outras realidades que as famílias, as comunidades e as escolas vivem.  O Papa Leão XIV lembra ainda as questões que se levantam com o recurso às tecnologias, designadamente à Inteligência Artificial2 (IA).
Embora reconhecendo que possa ser “usada de maneiras positivas e nobres”, não deixa de alertar para as suas consequências no desenvolvimento das crianças e dos jovens.

No seguimento dos seus apelos, cabe aos educadores contribuir para que o recurso à IA por parte das novas gerações se guie pelo “sentido humano”, salvaguarde o bem da pessoa e preserve a abertura à beleza e à verdade.

É precisamente neste cenário que somos chamados a ser irmãos, a ser profecia de esperança e de amor, a ser gestores da esperança e não do “medo e desespero, preconceitos e rancores”3.

Ser educador cristão é ousar acreditar que cada pessoa é imagem de Deus e portadora de um futuro cheio de sentido; é cultivar a esperança onde tudo parece descartável e anunciar o amor de Cristo através da escuta, do testemunho e do compromisso com a verdade e com a justiça. A Educação Cristã torna-se sinal profético: não se conforma com o mundo como está, mas educa e ajuda a transformá-lo à luz do Evangelho. Ser educador cristão é, portanto, resistir ao desânimo e semear com fé, mesmo sem ver de imediato os frutos, na certeza de que, no tempo de Deus, o amor floresce sempre.

Estas atitudes implicam-nos com os outros e a fazer juntos, seja na planificação de trabalhos, seja na articulação de responsabilidades e seja na celebração do bem que é feito. Por sermos povo em caminho, somos profetas e testemunho da comunhão (re)criadora.

A nossa gratidão e louvor a todos os educadores cristãos pela sua vocação, pela sua imprescindível inteligência humanizadora, criatividade educativa e delicadeza do acolhimento de quantos lhes são confiados.

À Virgem Maria, Mulher e Mãe da Esperança, confiamos as alegrias e os sonhos dos educadores, dos educandos e das suas famílias, na certeza de que escutará os seus anseios e acolherá, no seu coração, a vontade de serem vida fraterna, partilha generosa e dom de serviço e de paz.

 

Lisboa, 30 de setembro de 2025

S. Jerónimo, Presbítero e Doutor

 

Os Bispos da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé

 

1 Cf. Papa Leão XIV, Mensagem à 40.ª Assembleia-Geral do Conselho Episcopal Latino-Americano.
2 Cf. Papa Leão XIV, Mensagem aos participantes na 2.ª conferência anual de Roma sobre inteligência artificial, ética e governança corporativa.
3 Cf. Papa Leão XIV, 59.º Dia mundial das Comunicações Sociais.

 

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