Educação: Bispo de Beja pergunta se vale a pena «gastar os melhores anos da juventude» a estudar

Alguns finalistas ficam «revoltados» quando verificam que não têm emprego, diz D. António Vitalino

Beja, 16 mai 2011 (Ecclesia) – O bispo de Beja tem dúvidas de que o estudo na universidade seja a melhor opção para os jovens, não só pela falta de trabalho mas também pelos conteúdos lecionados.

Na nota semanal transmitida pela Rádio Pax, D. António Vitalino assinala que “a precariedade atingiu todos os setores de atividade” e questiona se “valerá a pena estudar” e “gastar os melhores anos da juventude” no ensino superior.

“Embora se costume dizer que o saber não ocupa lugar, no entanto muitos estudam apenas com motivações económicas”, ficando “espantados, alguns até revoltados, quando deparam que o mercado do trabalho não os absorve”, afirmou o prelado no texto intitulado ‘Finalistas do ensino, principiantes do trabalho’.

O sistema de ensino, que antes constituía alternativa para os recém-licenciados, mesmo quando não tinham “capacidades e habilitações pedagógicas”, e o funcionalismo público, afetado por “pesados cortes de pessoal e de remunerações”, fecham cada vez mais as portas aos finalistas, constata o bispo de Beja.

O prelado questiona também os programas das disciplinas: “Por vezes, sinto que, além de alguns cursos superiores pouco terem a ver com o mercado de trabalho, as nossas escolas não educam, no sentido profundo do termo, não dotam os alunos das ferramentas de sabedoria, que é mais importante que os conhecimentos transmitidos”.

Se as matérias transmitidas correspondessem às necessidades, os estudantes “estariam preparados para enfrentar o mundo real”, descobririam “novas possibilidades de desenvolvimento em tempo de crise”, contribuindo “para o bem comum”, ainda que “nem sempre com a remuneração adequada ao investimento feito” no curso, afirmou.

O presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana congratula-se com o facto de “cada vez mais jovens” concluírem cursos superiores: “Temos de estar gratos pelas possibilidades que hoje temos, há alguns anos impensáveis para a maioria”.

“Esta generalização do ensino veio aumentar a concorrência, mas isso é um bem, que nos deve tornar mais criativos, em vez de nos quedarmos em lamentos ou invejas”, frisou.

A nota enquadra-se nas bênçãos de finalistas que decorrem este mês em diversas dioceses, incluíndo Beja, celebrações que António Vitalino considera serem “de muita alegria e de muito barulho”.

“Não sei se as homilias ou reflexões proferidas por essa ocasião, muitas bem oportunas, são escutadas e entendidas”, disse o prelado, salientando que todos os participantes “aguardam alguma mensagem da parte da Igreja”.

António Vitalino espera que os finalistas resistam “à tentação da mentira, da injustiça, da corrupção”, pois nesse caso “mais valia não ter estudado”, e realçou que “os verdadeiros sábios compreendem que não vale tudo, mas há valores morais que são prioritários, mesmo e sobretudo em tempos difíceis”.

RM

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