Educação: Bíblia devia ser ensinada nos currículos escolares, defende Inês Pedrosa

Ciclo de conversas «A Bíblia, coisa curiosa», na Casa Fernando Pessoa terminou com balanço «muito positivo»

Lisboa, 15 abr 2011 (Ecclesia) – A escritora Inês Pedrosa afirmou esta quinta-feira à Agência ECCLESIA que “nas disciplinas dos currículos escolares devia estar integrado o conhecimento da Bíblia, enquanto texto de referência cultural”.

“A Bíblia molda-nos, mesmo que a desconheçamos”, por estar “nos fundamentos das instituições que temos e dos modos de organização mental, sentimental e até social”, assinalou a diretora da Casa Fernando Pessoa, em Lisboa.

“A nossa identidade” passa pela Bíblia, sublinhou a romancista, acrescentando que “quem não tem educação religiosa não tem acesso ao conhecimento desta parte importante da cultura”.

Inês Pedrosa considera que a Bíblia deve saltar “os muros das instituições religiosas” porque também “merece literariamente” essa aproximação, em virtude de conter “todos os géneros literários”.

O ciclo ‘A Bíblia, coisa curiosa’, organizado pela Casa Fernando Pessoa e pelo padre José Tolentino Mendonça, terminou esta quinta-feira com um encontro dedicado à relação da poesia com o texto sagrado para os cristãos, com a participação dos poetas Armando Silva Carvalho, Adília Lopes, Mário Avelar e Pedro Braga Falcão.

Para Inês Pedrosa, a iniciativa foi um despertar “para que as pessoas entendam a Bíblia como objeto de sabedoria, estético, literário e de aprofundamento de tudo o que há de mais empolgante na natureza humana”.

A responsável declarou-se “feliz” com a “qualidade das intervenções” – o número de setembro da revista “Pessoa”, editada pela instituição que dirige, vai ser dedicada a este ciclo – e com a adesão do público.

“Conseguimos sempre ter sala cheia”, assinalou, acrescentando que as pessoas saíram das sessões “com ânimo e novas formas de encarar a vida”, combatendo o risco de as interpretações da Bíblia ficarem “fechadas no campo dos eruditos” e passarem ao lado de crentes que “vão à missa mas não conhecem os textos bíblicos em profundidade”.

Tolentino Mendonça também fez um “balanço muito positivo”: “Escolher um lugar emblemático da cidade para abrir o texto bíblico em várias abordagens, todas elas culturais e artísticas, é um serviço precioso”.

“Há alguma coisa da Bíblia que só um músico pode interpretar; há alguma coisa da Bíblia que só um mestre da vida interior, como um psicanalista, pode colher; há alguma coisa da Bíblia que só um poeta pode vislumbrar”, afirmou, numa alusão aos saberes convocados para as três sessões que começaram a 31 de março.

A procura de “diálogos e cruzamentos de olhares, arriscando novos territórios para ler o texto sagrado” vai continuar, no âmbito do projeto ‘Bíblia, Comunicação & Arte’, promovido pelo Centro de Estudos de Religiões e Culturas, da Universidade Católica Portuguesa.

“Queremos apostar muito nesta espécie de peregrinação pela cidade, pela sociedade civil, pelo mundo da cultura”, lendo o texto bíblico como “magna obra aberta”, disse Tolentino Mendonça.

No encontro desta quinta-feira, que contou com uma audiência de cem pessoas, Pedro Braga Falcão qualificou a Bíblia de texto “poético na sua mais profunda essência” e chamou a Cristo “o poeta da eternidade”.

Armando Silva Carvalho mencionou alguns dos poemas que escreveu sob a influência bíblica e Adília Lopes referiu-se ao livro de Daniel como um texto que “parece cinema”.

Mário Avelar apontou para “uma espécie de contaminação da palavra bíblica” na sua poesia e o padre e biblista João Lourenço, que abriu a sessão, realçou que a Bíblia “sabe da palavra que narra e do silêncio que fala”.

RM

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