Docente de EMRC e subdiretor no Agrupamento de Escolas da Damaia pede maior liberdade aos professores para que façam o seu trabalho, não só de lecionação mas de acompanhamento de cada aluno que, tantas vezes, precisa ser mais acompanhado do que instruído
Lisboa, 16 set 2024 (Ecclesia) – O professor Luís Coelho, docente de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC), disse que a integração de nacionalidades em ambiente escolar facilita a integração social e que, apesar de receber 29 nacionalidades na escola onde leciona, não encontra ‘guetização’.
“A experiência que nós temos é que se ao início eles tentam se juntar por grupos linguísticos, porque se compreendem, procuramos contrariar essa tendência e, ao longo dos anos, não sentimos conflitos entre grupos que falam chinês ou crioulo, por exemplo. As escolas têm sido espaços de integração muito importantes e se não fossem as escolas, aí sim, provavelmente teríamos situações muito piores”, dá conta o docente da Escola Básica 2 3 Professor Pedro D’Orey da Cunha, na Damaia.
Docente há mais de 20 anos, e apesar de ter funções de subdireção no Agrupamento de Escolas da Damaia, insiste em estar na sala de aula a cada ano.
“É algo que me orgulha, estar junto de alunos, com eles e para eles, dando-lhes o meu pequeno contributo naquele que será o seu processo formativo, de crescimento pessoal e humano”, regista.
O docente lamenta que os ambientes escolares sejam tantas vezes retratados a partir dos conflitos, que admite existirem, e menos pelos projetos que os estabelecimentos de ensino desenvolvem para o acompanhamento dos alunos procurando uma formação holística.
“Não só por questões da língua, mas há inúmeros projetos que existem de acolhimento com alunos com necessidades educativas, de inclusão, de projetos na área das expressões, de música, que deveriam ser apresentados e valorizados, até porque a escola não é só e apenas estudar para que no fim tenha uma média muito boa para poder entrar num curso – isso é fundamental mas olhamos para a educação integral do ser humano e do jovem”, explica.
Os alunos que frequentam o Agrupamento de Escolas da Damaia, indica o docente, provêm de contextos “economicamente frágeis”, têm pais “com falta de tempo” que “muitas vezes saem para trabalhar às 5h da manhã e regressam à meia-noite”.
“Eles procuram, acima de tudo, alguém que os compreenda e entenda as suas situações. E é isso que eu pessoalmente, e que tentamos que todos os professores também deste agrupamento, fazer. Não pomos de parte as nossas funções mas procuramos compreender que, em determinada altura, aquele aluno não está para aprender a multiplicação e que precisa de outra atenção. É dessa forma que os procuramos cativar também para que não desistam”, traduz.
Perante os desafios que diariamente, e ao longo do ano os professores enfrentam, Luís Coelho gostaria de ver os ambientes escolares mais estáveis e os professores mais libertos para fazerem o seu trabalho.
“As entidades responsáveis não olharam para a realidade do seu corpo docente, em termos de idade e de funções desempenhadas, e os professores, sobrecarregados de tarefas, foram desistindo; os mais velhos na docência têm pouca margem para a mudança, não se investiu na renovação e apesar de termos professores, eles estão em outras funções”, apresenta.
Luís Coelho gostaria de ver o papel do professor e a escola mais respeitados, quer na relação com os pais como na estrutura escolar.
“As direções, em vez de pensarem em metodologias para envolver mais os alunos e os professores estão constantemente a responder a inquéritos, a pedidos de esclarecimento, a queixas que os pais fazem, e portanto acho que tem de haver aqui um olhar para a escola, não no geral, mas para cada escola concreta, como um espaço onde é preciso dar liberdade aos professores, aos assistentes operacionais, a todos aqueles que vivem nas escolas”, pede.
O docente fala ainda do papel do professor de EMRC na escola ajudando em projetos não específicos de lecionação: “Temos a sorte de ter um grupo coeso que se tem mantido ao longo dos últimos anos e isso, de facto, dá a garantia de podermos trabalhar de uma forma mais tranquila e sermos suporte para a estabilidade daquilo que é a vida da escola, nomeadamente em serviços que são essenciais na escola, quer no tutorial específico de alguns alunos, como na garantia do processo tecnológico escolar”.
A conversa com o professor Luís Coelho pode ser acompanhada este sábado, na Antena 1, pelas 06h00.
LS