Único modelo educativo plausível é «não haver modelo», diz Marçal Grilo
Lisboa, 14 Fev (Ecclesia) – Defender o ensino privado, envolver a família no processo educativo e confiar na sociedade civil foram algumas das recomendações feitas hoje, em Lisboa, pelos antigos ministros da educação Roberto Carneiro, Marçal Grilo e Júlio Pedrosa.
Numa iniciativa intitulada «Que serviço público de educação queremos para Portugal?», Marçal Grilo manifestou-se “contra o monopólio estatal da rede escolar” e expressou a sua “aversão” aos modelos únicos e às “grandes reformas”.
Para o ministro do 13.º Governo (1995-1999, PS), “o modelo é não haver modelo”, opção que estimula “a riqueza da diversidade e da autonomia das escolas”, ainda que alguns estabelecimentos prefiram ser “dependentes” do ministério, dado que dessa forma “limitam o seu grau de responsabilidade” no processo educativo.
Roberto Carneiro lembrou que até ao século XIX o serviço público de educação era “imposto de cima para baixo”, mas agora a maioria da população prefere escolher a escola e o projecto educativo para os filhos.
“Não é o Estado que deve impor o modelo único”, acentuou o ministro do 11.º Governo (1987-1991, PSD), acrescentando que a pluralidade deve ser exercida dentro das escolas públicas e privadas.
Dirigindo-se às cerca de 200 pessoas presentes no encontro organizado pelo Fórum para a Liberdade de Educação, o antigo ministro declarou que “é preciso confiança na sociedade civil” para ultrapassar o actual “estado de subdesenvolvimento”.
Referindo-se à formação dos professores, um dos problemas “mais graves”, Roberto Carneiro mostrou-se convencido de que “há escolas superiores de educação a mais”.
Júlio Pedrosa, que dirigiu a tutela durante o 14.º Governo (1999-2002, PS), assinalou que a melhoria dos resultados na educação exige que a comunidade escolar conte com maior envolvimento das famílias e municípios, entre outras entidades.
“Não tenho uma experiência que alinhe pelo discurso negativo que perpassa nos discursos públicos sobre a educação”, afirmou, sublinhando que essas posições esquecem o “caminho histórico” e “desvalorizam os desenvolvimentos que se fizeram”.
“Estamos a fazer em 30 ou 40 anos o que outros países fizeram em 200”, realçou Roberto Carneiro, recordando que a educação se “gere por ciclos longos”, não se podendo esperar que as reformas tenham “efeitos imediatos”.
Marçal Grilo insistiu na “exigência” que deve ser colocada a todas as pessoas e instituições envolvidas no processo educativo, tendo igualmente salientado a influência da família: “Se conseguirmos que todos os pais digam aos filhos ‘se não estudas, estás tramado’, a educação muda”.
A escola é também chamada a transmitir atitudes: “Os conhecimentos básicos são essenciais” mas “é muito importante” incentivar os estudantes a serem “independentes, autónomos, responsáveis, com capacidade de liderança”, afirmou.
Depois de advogar que os professores devem ser colocados pelos estabelecimentos de ensino e não pelo “sistema centralizado do concurso nacional”, o antigo ministro frisou que Portugal precisa “de mais escola e menos sindicato”, sendo necessário “dar mais voz” aos docentes.
A “importância excepcional do pré-escolar” e o estabelecimento de parcerias entre escolas e empresas foram também mencionados por Marçal Grilo, que recordou os condicionalismos enfrentados pelos ministros da educação, como por exemplo as reivindicações dos professores e os limites orçamentais.
RM