«Vade-mécum ecuménico» recorda orientações para a participação na vida sacramental, em particular a Comunhão
Cidade do Vaticano, 04 dez 2020 (Ecclesia) – O Vaticano publicou hoje um “guia prático” para bispos, com indicações para o diálogo entre comunidades cristãs e sobre a participação na vida sacramental, em particular a Comunhão.
“O compromisso ecuménico do bispo não é uma dimensão opcional do seu ministério, mas um dever e uma obrigação”, pode ler-se no ‘vade-mécum ecuménico’ intitulado ‘O bispo e a unidade dos cristãos’.
O texto, aprovado pelo Papa, sublinha que os católicos vivem “uma verdadeira comunhão com outros cristãos” através do “Batismo comum”, mas admite que “a questão de administrar e receber os sacramentos, e especialmente a Eucaristia, nas celebrações litúrgicas de cada um permanece uma área de tensão significativa”.
A participação de outros cristãos nos sacramentos católicos é permitida em situações de “grave necessidade” e de forma “excecional”, como recorda o documento, que pede a cada bispo que fala um “discernimento pastoral” das situações.
“Os sacramentos nunca podem ser partilhados por mera boa educação. A prudência deve ser exercida, para não causar confusão ou escândalo aos fiéis”, pode ler-se.
Quanto aos chamados “casamentos intereclesiais”, os bispos diocesanos são chamados a autorizá-los e “às vezes, a dispensar o rito católico para a cerimónia de casamento”.
Entre as várias recomendações práticas deixadas aos responsáveis diocesanos está o convite a “encontrar e ouvir as experiências das famílias intereclesiais”.
O Vaticano desafia os bispos a serem pessoas de “diálogo, que promove o compromisso ecuménico”, apelando a uma “abordagem ecuménica” no uso dos media, para divulgar eventos e notícias.
Cada diocese deve estabelecer uma Comissão Ecuménica e “garantir que haja um curso obrigatório de ecumenismo em todos os seminários e Faculdades de Teologia”.
Outra proposta é o estabelecimento de “uma comissão diocesana ou regional de diálogo, envolvendo leigos e especialistas em Teologia”.
O ‘vade-mécum’ fala da perseguição contra cristãos em várias partes do mundo, evocando o “ecumenismo do sangue” de que o Papa Francisco tem falado, convidando a rezar regularmente pela unidade entre as Igrejas, organizando também “peregrinações ou procissões ecuménicas”.
O documento aborda duas dimensões do ecumenismo, a “renovação da Igreja na sua própria vida e estruturas” e o “compromisso com outras comunidades cristãs no ecumenismo espiritual”.
Em conferência de imprensa, o cardeal Kurt Koch, presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos, referiu que este documento quer ser uma “bússola” para o exercício da “responsabilidade ecuménica dos bispos”.
O ‘vade-mécum ecuménico’ é publicado no 25.º aniversário da encíclica ‘Ut unum sint’, do Papa São João Paulo II, sobre a unidade dos cristãos, e no 60.º aniversário da instituição do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos.
O cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos, desafiou, por sua vez, os responsáveis diocesanos a dar “exemplo de colaboração com os irmãos em comunhão imperfeita com a Igreja Católica”, em campos como “a utilização das igrejas, a luta contra a pobreza, o exercício da caridade”.
Já o cardeal Luis Antonio G. Tagle, prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, destacou a importância da “amizade criada pelos bispos com os líderes e os membros das comunidades não-católicas” para superar preconceitos.
O cardeal Leonardo Sandri, prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, admitiu que existem “muitas dúvidas” que são colocadas por parte dos responsáveis católicos, considerando que o novo documento oferece “indicações muito preciosas, sobretudo na perspetiva do caminho que as Igrejas do Oriente e do Ocidente têm de percorrer juntas, na busca da unidade”.
OC