Documento de estudo aborda relação entre «primado e sinodalidade»
Cidade do Vaticano, 13 jun 2024 (Ecclesia) – O Vaticano publicou hoje um documento intitulado ‘O Bispo de Roma’, que apresenta uma reflexão sobre a jurisdição do Papa, a nível ecuménico, sublinhando necessidade de superar divisões
“A questão do primado já não é vista apenas como um problema, mas também como uma oportunidade para uma reflexão comum sobre a natureza da Igreja e a sua missão no mundo”, pode ler-se.
O documento de estudo divulgado pelo Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos (Santa Sé) aborda a questão do “primado e sinodalidade nos diálogos ecuménicos e nas respostas à encíclica ‘Ut Unum Sint’”, de São João Paulo II.
Segundo o Vaticano, o ministério petrino do bispo de Roma é “intrínseco à dinâmica sinodal, assim como o aspeto comunitário que envolve todo o Povo de Deus e a dimensão colegial do ministério episcopal”.
A questão do primado do Papa é um dos principais temas de diálogo entre as várias Igrejas Cristãs.
Embora várias reconheçam que bispo de Roma tum um primado de “honra”, a principal discordância reside na jurisdição desse primado – as comunidades fundadas pelos primeiros discípulos de Jesus consideram-se, em muitos casos, com a mesma dignidade de Roma.
“Alguns argumentam que, desde a Igreja primitiva, o cristianismo foi estabelecido em sedes apostólicas principais que ocupavam uma ordem específica, sendo a sede de Roma a primeira”, indica o documento de estudo divulgado pela Santa Sé.
Para os católicos, o primado do Papa não é apenas de honra, mas de pleno poder de governo.
O documento de estudo “O Bispo de Roma” é o primeiro a resumir “todo o debate ecuménico sobre o serviço do primado na Igreja”, desde o Concílio Vaticano II (1962-1965); a sua publicação foi aprovada pelo Papa Francisco, em março de 2024.
São João Paulo II, na encíclica ‘Ut Unum Sint’, de 1995, convidada as várias Igrejas cristãs a discernir caminhos através dos quais o ministério do Bispo de Roma se “possa realizar um serviço de amor reconhecido por uns e outros”.
O novo documento do Vaticano, que surge após três anos de trabalho, resume cerca de 30 respostas e 50 documentos do diálogo ecuménico sobre o assunto.
O Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos regista que os contributos recolhidos “deram um contributo significativo para a reflexão sobre a questão do primado e da sinodalidade”, mostrando “acordo sobre a necessidade de um serviço de unidade a nível universal”.
O texto destaca os apelos recebidos em favor de uma “maior atenção e valorização do contexto histórico que condicionou o exercício do primado em diferentes regiões e épocas”.
Os dogmas do primado e da infabilidade papal foram proclamados durante o Concílio Vaticano I, a 18 de julho de 1870.
Na ‘Pastor Aeternus’, Pio IX define como dogma que, “com base nos testemunhos do Evangelho, o primado da jurisdição sobre toda a Igreja de Deus foi prometido e conferido ao beato Apóstolo Pedro por Cristo, o Senhor, de maneira imediata e direta”. O novo documento do Vaticano admite que estas definições dogmáticas “constituem um grande obstáculo para os outros cristãos”, registando pedidos para que “a Igreja Católica procure novas expressões e vocabulário que, embora fiéis à intenção original, sejam integrados numa eclesiologia de comunhão e adaptados ao atual contexto cultural e ecuménico”. Apontando ao século XXI, vários contributos destacam “a interdependência mútua entre primado e sinodalidade em todos os níveis da Igreja, e a consequente exigência de um exercício sinodal do primado”. Questões como o exercício do primado a nível regional e universal surgiram, em particular, no diálogo ortodoxo-católico. “Uma maior ênfase no ministério do Papa na sua Igreja particular, a Diocese de Roma, poria em evidência o ministério episcopal que ele partilha com os seus irmãos bispos e renovaria a imagem do papado”, indica o texto. |
Segundo o Vaticano, os “diálogos ecuménicos em curso permitiram compreender melhor, à luz das práticas do primeiro milénio, que sinodalidade e primado são realidades correlativas, complementares e inseparáveis”.
Uma das propostas lançadas passa pela promoção da “comunhão conciliar”, através de encontros regulares entre responsáveis das Igrejas de todo o mundo, “a fim de tornar visível e aprofundar a comunhão que já partilham”.
O relatório de síntese da primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, que decorreu no Vaticano, em outubro de 2023, sublinhava que “a dinâmica sinodal traz nova luz também ao ministério do bispo de Roma”.
“A articulação de sinodalidade, colegialidade e primado não deve ser interpretada de forma estática ou linear, mas de acordo com uma circularidade dinâmica, numa corresponsabilidade diferenciada”, referiram os participantes.
OC