Ecumenismo/Portugal: Religiões devem unir-se contra «discursos de ódio» – João Luís Fontes 

Historiador, que integra vários projetos de diálogo entre comunidades religiosas, sublinha desafios levantados por nova vagas de migrações 

Foto: Agência ECCLESIA/OC

Lisboa, 05 jan 2024 (Ecclesia) – O historiado João Luís Fontes, que integra vários projetos de diálogo entre comunidades religiosas, em Portugal, assume que a nova vaga de migrações traz desafios, criticando “ideologias” que politizam credos e promovem a intolerância. 

“Este é um dos grandes desafios que temos: não demonizar o outro, não despersonalizar o outro para o transformar numa coisa e poder legitimar discursos de ódio e discursos de violência. Acho que é sobretudo um desafio para levarmos mais a sério o diálogo intercultural e inter-religioso”, refere o convidado da entrevista semanal conjunta ECCLESIA/Renascença. 

O professor e investigador da Universidade Nova de Lisboa, um dos rostos do Fórum Ecuménico Jovem, comenta a mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz, celebrado no início do novo ano, e as propostas para o Jubileu 2025, que vai ter uma marca ecuménica. 

Para o responsável, é importante pensar o diálogo entre comunidades de fé “a um nível pastoral que chegue mais à vista e ao coração das pessoas”, na sua vida “concreta”. 

“Há uma reconciliação que tem de acontecer por dentro, e essa às vezes é mais difícil, porque muitas vezes calam-se os conflitos, mas as tensões, as memórias doridas do passado, as construções identitárias que muitas vezes se radicalizam, levam precisamente a estes os conflitos e que se mantêm na memória das pessoas”, indica. 

João Luís Fontes elogia o papel do Papa Francisco na promoção do diálogo e da paz, sustentando que “a Igreja deve ser uma Igreja que escuta, que acolhe e que está atenta àquilo que se passa no mundo”. 

“As religiões têm um papel fundamental, até para dizer que isso é possível, porque muitas vezes as pessoas trazem memórias muito sofridas, muito difíceis, de conflito, de perseguição, e fazer brotar daí o perdão e a reconciliação”, acrescenta. 

O entrevistado reconhece que os apelos do Papa à desmilitarização chegam em “contracorrente”, mas defende que se trata de uma reflexão que aponta a “outro caminho” para resolver os conflitos e os problemas da humanidade. 

Questionado sobre o facto de atos de violência serem justificados com a religião, o investigador reconhece que “em muitos casos ainda se encontram discursos legitimadores” da guerra. 

“Às vezes encontramos, sobretudo popularmente, muito difundida esta ideia de que este religioso suporta o conflito e a hostilidade”, prossegue. 

A entrevista aborda ainda temas como a celebração conjunta da Páscoa, num ano em que se celebra o 1700.º aniversário do primeiro concílio ecuménico, em Niceia, e gestos ecuménicos em vista do Jubileu, como a criação de uma Comissão dos Novos Mártires, não só da Igreja Católica, mas de todas as confissões cristãs. 

Ângela Roque (Renascença) e Octávio Carmo (ECCLESIA) 

Partilhar:
Scroll to Top
Agência ECCLESIA

GRÁTIS
BAIXAR