Responsável pelo Departamento para a promoção da unidade dos cristãos e diálogo inter-religioso, do Patriarcado de Lisboa, recorda os primeiros encontros ecuménicos em Portugal, alguns em casa da sua avó, e os laços de amizade que os líderes religiosos constroem «para lá das relações institucionais»
Lisboa, 19 jan 2023 (Ecclesia) – O padre Peter Stilwell, responsável do Departamento para a promoção da unidade dos cristãos e diálogo inter-religioso, no Patriarcado de Lisboa, sublinhou, em declarações à Agência ECCLESIA. a importância da “liberdade religiosa” na construção social.
“A liberdade religiosa é um elemento fundamental para se assegurar um tecido harmonioso dentro de uma sociedade que é plural, que tem quadros de valores que, não sendo contraditórios, nem sempre coincidem, e as sociedades precisam, para que haja decisões consensuais sobre questões importantes, que haja um reconhecimento que há certos valores que todos nós assumimos como fazendo parte do nosso património nacional. E isso passa, sem dúvida, pela importância das religiões”, refere o sacerdote.
O responsável destaca a importância de espaços de encontro e diálogo de várias Igrejas, como o projeto ‘A Fé dos Homens’, na rádio e televisão pública de Portugal.
“Pelo que percebo, é relativamente rara. E eu creio que a comunicação social tem um impacto muito grande na vida das pessoas. Este diálogo, onde todos aprendemos uns com os outros, e o impacto sobre a população e sobre a cultura geral de um país, onde é normal que haja perspetivas diferentes, histórias diferentes, quadros de valores que não coincidem totalmente, mas onde se encontram pontos de encontro e pontos de divergência e mostram que é possível dialogar sobre essas divergências e dar as mãos naquilo em que trabalhamos em comum. Tudo isso, creio que contribui para a saúde do tecido social”, observa.
O padre Peter Stilwell destaca que para lá das relações institucionais, o diálogo acontece “sobre coisas práticas” e constrói-se com relações de amizade.
“Houve um encontro recente, em fins de setembro, sobre as religiões e as migrações, percebendo como é que as religiões podem contribuir para ajudar os migrantes a integrarem-se na sociedade portuguesa e com testemunhos muito interessantes daquilo que as várias comunidades estão a fazer”, exemplifica.
Mas também no tempo da pandemia, o padre Peter Stilwell recorda que, dada a capilaridade das comunidades religiosas, foi possível fazer um trabalho informativo sobre “vacinação, acolhimento, cuidados a ter, o uso de máscara”, que mostram como as Igrejas, em “colaboração com o Estado” podem responder a desafios comuns.
O responsável enaltece ainda o diálogo e os “laços de amizade” que o trabalho conjunto vai construindo: “Somos amigos, e se surge um problema de tensão, alguma questão, facilmente pegamos no telefone, falamos uns com os outros, e resolvemos isso, em vez de deixar que as coisas vão fermentando até chegarem a um momento de explodir”.
“Por exemplo, agora no Natal, o xeque David Munir e outros dirigentes da Comunidade Islâmica quiseram estar presentes na Missa do Galo, na Sé, em Lisboa, num gesto muito bonito, por um lado, de respeito para com Jesus Cristo, que é respeitado pelo mundo muçulmano, e também como gesto de comunhão, de encontro e de fraternidade com a Igreja Católica”, valoriza.
Convidado a olhar para o início dos diálogos ecuménicos em Portugal, o padre Peter Stilwell recorda a sua chegada a Portugal, em 1965, e a entrada no Seminários dos olivais, em Lisboa, coincidindo com a última sessão do Concílio Vaticano II.
“Sabíamos que essa era uma das metas, um dos objetivos do Papa João XXIII. Se antes não percebíamos bem o que é que isso significava, o espírito de ecumenismo estava a fazer-se sentir”, recorda.
Em Portugal nos encontros ecuménicos passaram pela casa da avó do padre Peter Stilwell.
“Tínhamos com o pastor Dimas de Almeida alguém da área presbiteriana, tínhamos o Luís Pereira, que era da Igreja Lusitana da Comunhão Anglicana, e tínhamos alguns padres dos inglesinhos que eram o seminário de formação de padres para a Inglaterra. A minha família tinha fortes contactos com esses, com os padres professores dos inglesinhos, e o curioso é que essas pessoas juntavam-se na casa da minha avó, ou pelo menos algumas vezes juntavam-se em casa da minha avó”, recorda, lembrando ter participado em alguns desses momentos.
A conversa com o padre Peter Stilwell vai estar em destaque no programa ECCLESIA, emitido este sábado, às 06h00, na Antena 1, e no programa 70×7, de domingo, que é emitido na RTP2 às 07h30, no âmbito da Semana de Oração pela Unidades dos Cristãos.
PR/LS