«O ecumenismo real e importante será aquele que venha a atingir as comunidades cristãs e cada cristão» sublinha o secretário da Comissão da Doutrina da Fé A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos constitui oportunidade para tecer algumas considerações em relação à vida do movimento ecuménico em Portugal. A sua história é suficientemente conhecida. Nela ocupa lugar de destaque, sem dúvida, o Conselho Português de Igrejas Cristãs (COPIC), constituído pela Igreja Presbiteriana, a Igreja Lusitana (comunhão Anglicana) e a Igreja Metodista, mais recentemente também pela Igreja Ortodoxa. Esse Conselho foi, por assim dizer, a primeira iniciativa organizada e institucionalizada do ecumenismo no nosso país. Mais tarde, estabelece-se uma relação também institucional entre a Conferência Episcopal Portuguesa (através da Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé) e o Copic, iniciando-se uma série de encontros ecuménicos, dos quais se realizou, no passado dia 5 de Janeiro, o XXXI. Esses encontros têm sido, sem dúvida, o principal contexto do desenvolvimento do ecumenismo em Portugal. A certa altura, por impulso de alguns grupos juvenis, instituiu-se o Fórum Ecuménico Jovem, que tem vindo a desenvolver iniciativas relevantes e que começa a deixar rasto muito positivo, sobretudo na relação ecuménica entre comunidades cristãs concretas. Houve, ainda, a intenção de criar, em todas as dioceses, um secretariado para o ecumenismo, ou algo semelhante. Nalguns casos, resultou, noutros ainda não. Em certos casos, após um momento inicial de entusiasmo, esse dinamismo arrefeceu. De qualquer modo, o grupo ecuménico do Porto, por exemplo, é a prova de que esse trabalho constitui um dos elementos mais importantes no relacionamento ecuménico. De facto, se o ecumenismo se ficar simplesmente pelo encontro, mais ou menos esporádico, de alguns “líderes” eclesiais, nunca chegará a ter efeitos, dos quais o mais importante é a construção da unidade, pela relação amigável e colaborante das diferentes confissões. O ecumenismo real e importante será aquele que venha a atingir as comunidades cristãs e cada cristão. Por isso, é necessário incrementar práticas locais e muito concretas de encontro, para que cresça a relação entre as Igrejas envolvidas. Nisso se enquadrará, também, a educação ecuménica do povo de Deus, no nosso país maioritariamente católico. Quanto ao presente e futuro do ecumenismo, gostaria de apontar alguns elementos, que surgiram, em grande parte, no último encontro ecuménico realizado. Em primeiro lugar, será necessário dar maior visibilidade a esses encontros, para que os cristãos e toda a população portuguesa tomem conhecimento da aproximação em curso entre algumas das Igrejas que vivem em Portugal. A publicação de documentos conjuntos poderá ajudar a essa finalidade. Depois, será importante incrementar o ecumenismo de base, a nível local. Para isso, será fulcral dinamizar os organismos diocesanos. Estabelecemos que, ano a ano, será feito um investimento específico numa diocese à escolha, na qual se realizará, no final do ano, a celebração ecuménica nacional, por ocasião da Semana de Oração. Este ano, será no Porto, onde a actividade ecuménica já está organizada há anos. Em terceiro lugar, é importante fomentar a formação ecuménica dos cristãos de todas as confissões. Para além de se pressupor que isso acontece na formação habitual da Faculdade de Teologia e de outros Institutos ou seminários, será solicitado a cada Núcleo da referida Faculdade que organize, anualmente, uma jornada ecuménica, que envolva participantes de diversas Igrejas. No contexto dessa formação, será aprofundado o papel das recomendações da Charta Oecumenica para o nosso caso português. Da parte da Conferência Episcopal, está em projecto a reedição do Directório Ecuménico, juntamente com uma publicação recente do Cardeal Kasper. Por último, será de salientar a importância da integração progressiva da Igreja Ortodoxa, assim como dos cristãos greco-católicos, neste movimento, o que virá a transformar as características do ecumenismo. Nesse contexto concreto, será importante a capacidade de acolhimento e de acompanhamento, por parte das Igrejas que já se encontravam no nosso país. Penso que, quer pelos projectos quer pelos desafios, o ecumenismo em Portugal possui saúde suficiente para poder crescer e dar frutos de peso, ao longo dos próximos anos. João Duque, Sec. Com. Episcopal da Doutrina da Fé