Iniciativa anual centra-se, em 2019, no tema da Justiça
Lisboa, 18 jan 2018 (Ecclesia) – Milhões de cristãos em todo o mundo iniciam hoje a Semana de Oração pela Unidade, iniciativa anual que tem este ano propostas vindas da Indonésia, sobre o tema da Justiça, para encontros de reflexão e celebrações.
O Papa assinala o arranque do maior acontecimento global do movimento ecuménico com uma oração na Basílica de São Paulo fora de muros, esta tarde, com a participação de representantes das várias igrejas e comunidades cristãs, presentes em Roma.
“Devemos rezar para que todos os cristãos voltem a ser uma só família, de acordo com a vontade divina, que quer que todos sejam um”, disse Francisco, esta quarta-feira, no Vaticano.
“O ecumenismo não é opcional. A intenção é amadurecer um testemunho comum e concertado na afirmação da verdadeira justiça e no apoio aos mais fracos, através de respostas concretas, adequadas e eficazes”, acrescentou, a respeito do oitavário de 2019.
A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos realiza-se em todo o mundo, há mais de 100 anos, e este ano tem reflexões preparadas pelos cristãos da Indonésia, país de maioria muçulmana, onde os batizados representam 10% da população, com o lema ‘Procurarás a justiça, nada além da justiça’, tirado do livro do Deuteronómio.
“No meio da diversidade de etnias, linguagem e religião, os indonésios têm vivido pelo princípio de gotong royong, que é viver em solidariedade e com colaboração. Isso significa ter partilha nos diversos campos da vida, no trabalho, nas tristezas e festividades, vendo todos os indonésios como irmãos e irmãs”, pode ler-se na proposta, divulgada em conjunto pelo Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos (Santa Sé) e a Comissão Fé e Constituição (Conselho Mundial de Igrejas).
Em Portugal, a cidade do Porto acolhe celebração nacional, a 25 de janeiro, pelas 21h30, na Igreja Ortodoxa Russa, reunindo Conselho Português de Igrejas Cristãs e a Comissão Episcopal Missão e Nova Evangelização da Igreja Católica.
Na celebração, será lançado “o Roteiro Ecuménico” 2019, com propostas mensais dinamizadas pelas várias Igrejas, assinala um comunicado enviado à Agência ECCLESIA pela Comissão Ecuménica do Porto.
Várias cidades acolhem encontros de oração, ao longo desta semana, dando maior visibilidade a uma dinâmica ecuménica que tem como referências, em Portugal, um fórum juvenil e celebrações inspiradas na espiritualidade da comunidade de Taizé (França).
A Paróquia de São Nicolau, na Baixa lisboeta, acolhe há vários anos uma “proposta de experiência orante”, nas noites de sexta-feira, pelas 20h00, com o ritmo de Taizé.
Rui Aleixo evoca à Agência ECCLESIA a história destes encontros, que começaram com a preparação do Encontro Europeu de Jovens que Lisboa acolheu, no final de 2004, e que hoje são recebidos por muitas pessoas, no seu ritmo próprio.
“É uma forma de oração contemplativa, mas muito contemporânea, que tem atraído muita gente, ao longo das gerações”, constata, e continua a atrair “pela forma democrática e ecuménica com que se apresenta”, ou seja, “ninguém fica excluído”.
O silêncio e a repetição de cânticos curtos, inspirados na Bíblia, marcam estes momentos de oração, abertos a todas as confissões cristãs, centrando-se no que une as várias Igrejas.
Carla Almeida, de Santo António dos Cavaleiros, participou no encontro da última sexta-feira, destacando a “calma” que estes momentos lhe transmitem, com palavras e cânticos “inspiradores”.
“Estarmos aqui passa uma mensagem muito simples, comum”, refere, numa simplicidade que ajuda a construir a “unidade” entre os cristãos.
Rui Faustino, da Paróquia de Pena, participa “sempre que pode” num momento que é marcado por um “clima de intimidade” e “recolhimento”.
Gustavo Faria vive no Concelho de Santarém e recorda a primeira viagem à localidade de Taizé, na Semana Santa de 2000, que “virou” a sua vida, uma experiência que vai repetindo, agora com a família, porque “não há nada mais simples do que o silêncio”.
“No silêncio não há nada que nos vista”, explica, admitindo que este momento “incomoda”, porque obriga a deixar cair as “máscaras”.
Andreia Tuna, de São João da Talha, participa nestas orações há vários anos, confessando o “encanto” com esta proposta, que facilita o contacto consigo e com Deus.
“Eu sinto muito a gente dos jovens, uma Igreja de partilha entre os jovens, de encontro com os outros. Taizé acaba por fazer esta ponte”, acrescenta.
A Semana de Oração pela Unidade dos Cristão está no centro da próxima emissão do Programa ECCLESIA, na Antena 1 da rádio pública, este domingo, pelas 06h00.
LS/OC
O ‘oitavário pela unidade da Igreja’, hoje com outra denominação, começou a ser celebrado em 1908, por iniciativa do norte-americano Paul Wattson, presbítero anglicano que mais tarde se converteu ao catolicismo.
O ecumenismo é o conjunto de iniciativas e atividades tendentes a favorecer o regresso à unidade dos cristãos, quebrada no passado por cismas e ruturas. As principais divisões entre as Igrejas cristãs ocorreram no século V, depois dos Concílios de Éfeso e de Calcedónia (Igreja copta, do Egito, entre outras); no século XI com a cisão entre o Ocidente e o Oriente (Igrejas Ortodoxas); no século XVI, com a Reforma Protestante e, posteriormente, a separação da Igreja de Inglaterra (Anglicana). |