Ecumenismo avança apesar das dificuldades

Cardeal Walter Kasper espera a «plena unidade» com as Igrejas do Oriente O diálogo entre as várias Igrejas cristãs tem conhecido desenvolvimentos positivos, apesar das divergências históricas que dificultam, muitas vezes, o desejado caminho para a unidade. A convicção é manifestada pelo homem do Papa para o diálogo ecuménico, Cardeal Walter Kasper, no início da semana de oração pela unidade dos cristãos. Para este responsável, é possível verificar o crescimento de um “ecumenismo de vértice”, nos grandes encontros de líderes das Igrejas, e do “ecumenismo de base”, no quotidiano das várias comunidades eclesiais. Estas duas realidades estão interligadas, segundo o Cardeal Kasper, “como duas faces da mesma moeda”. O presidente do Conselho Pontifício para a promoção da unidade dos cristãos refere à SirEuropa (www.agensir.it) que o ano de 2006 ficou marcado por vários passos em frente: foi retomado o diálogo teológico com as Igrejas Ortodoxas, o Papa visitou a Turquia, o Arcebispo Ortodoxo de Atenas veio a Roma e o Primaz da Igreja Anglicana visitou Bento XVI. Apesar das divergências dogmáticas que permanecem com as Igrejas do Oriente sobre o ministério do Papa e das diferenças de cultura e mentalidade, o Cardeal Walter Kasper acredita que o caminho está mais fácil, classificando como “histórica” a visita do Primaz grego, Christodoulos. Já na relação com as Igrejas da Reforma, têm crescido os desentendimentos em relação a temas como “a homossexualidade, o divórcio e a eutanásia”. A convicção que permanece, contudo, é de que é possível “chegar à unidade perfeita” com as Igrejas do Oriente e “colaborar com grupos importantes presentes nas Igrejas protestantes”. O próprio Bento XVI, no discurso que proferiu perante aos participantes na sessão plenária do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos, a 17 de Novembro de 2006, manifestava “grande esperança pelo caminho futuro” no diálogo com as Igrejas Ortodoxas, apelando ao “respeito pelas legítimas variedades teológicas, litúrgicas e disciplinares”. Quanto às Comunidades eclesiais do Ocidente, o Papa não foi tão optimista, assinalando que “surgiram várias importantes problemáticas, que exigem um aprofundamento e um acordo”. “Subsiste, acima de tudo, a dificuldade de encontrar uma concepção comum sobre a relação entre o Evangelho e a Igreja e, a este propósito, sobre o mistério da Igreja e da sua unidade, assim como sobre a questão do ministério da Igreja”, assinalou. Surgiram, por outro lado, “dificuldades no campo ético, com a consequência que as diferentes posições assumidas pelas Confissões cristãs, sobre as correntes problemáticas, reduziram a sua incidência orientativa diante da opinião pública”. Liderança de Bento XVI O Papa presidirá, no próximo dia 25 de Janeiro, a uma cerimónia ecuménica com a presença de representantes das Igrejas e Comunidades eclesiais cristãs de Roma. A tradicional celebração das II Vésperas da Festa da Conversão de São Paulo, na Basílica romana consagrada a este Apóstolo, encerra a semana de oração pela unidade dos cristãos. Ao longo do ano passado, Bento XVI confirmou a sua intenção de estar na linha da frente do diálogo ecuménico, com especial destaque para as relações católico-ortodoxas. Ao receber o Primaz Ortodoxo grego no Vaticano – a primeira visita oficial do género desde 1054 -, o Papa abriu caminho para desenvolvimentos significativos no campo das relações entre cristãos da Igreja Católica e da Igreja Ortodoxa”. 952 anos após o “cisma” que separou o Oriente e o Ocidente cristãos, Bento XVI e o Primaz grego assinaram uma declaração comum, na linha daquela que foi assinada entre o Papa e o Patriarca Ecuménico de Constantinopla, Bartolomeu I, dando continuidade ao diálogo católico-ortodoxo – uma das prioridades deste pontificado – ao mais alto nível. O dinamismo ecuménico de Bento XVI viveu um ímpeto especial no final de 2006, com a assinatura de três declarações comuns – às duas já referidas soma-se a que foi firmada com o Primaz Anglicano, Rowan Williams, em Novembro passado. Menos de 24 horas depois da sua eleição, o Papa disse que eram necessários “gestos concretos” para promover qualquer avanço no ecumenismo. Eles têm sido muito visíveis nos tempos mais recentes e poderão deixar adivinhar um passo futuro, que inclua o desejado e aguardado encontro com Alexis II, Patriarca Ortodoxo de Moscovo. Apesar da importância que poderia ter uma plataforma de entendimento com a Rússia, parece claro que o Papa já identificou qual o principal tema em que se deve concentrar o diálogo católico-ortodoxo: a questão da autoridade da Igreja, sobretudo o que diz respeito ao papel do próprio Bispo de Roma na comunidade eclesial universal, tendo consciência da tradição de sinodalidade nas Igrejas Ortodoxas. Na viagem à Turquia, Bento XVI manifestou abertura para uma discussão relativa às formas de exercício do ministério petrino, mas a declaração conjunta assinada com Bartolomeu I deixava nas mãos da Comissão Mista Internacional Teológica – que regressou aos trabalhos no passado mês de Setembro, em Belgrado – a missão de aprofundar as questões levantadas pelo debate em volta do tema “Conciliariedade e Autoridade na Igreja” a nível local, regional e universal. Por isso mesmo, já se aposta na presença do Papa e do Patriarca de Constantinopla na próxima sessão de trabalho desta Comissão bilateral, que decorrerá na Itália. Uma mudança fundamental, seja qual for o próximo “grande” gesto ecuménico, começa a ganhar forma: o diálogo teológico católico-ortodoxo já não discute a legitimidade de um primado universal, mas sim a forma de exercitá-lo. Por outro lado, a Conferência Mundial Metodista, reunida de 20 a 24 de Julho do ano passado, aprovou a adesão da Igreja à Declaração conjunta católico-luterana sobre a Doutrina da Justificação, de 1999, dando assim um passo significativo nas relações com a Igreja Católica. O Cardeal Kasper disse, na altura, que esta assinatura representava “um dos maiores feitos do diálogo ecuménico” e citou Bento XVI para falar deste acordo entre as três Igrejas como “uma plena e visível unidade na fé”. O Conselho Metodista Mundial agrupa Igrejas metodistas de 132 países, com um total de 75 milhões de fiéis, aproximadamente. Todas as partes confessam, agora que “somente por graça, na fé na obra salvífica de Cristo, e não por causa de nosso mérito, somos aceites por Deus e recebemos o Espírito Santo, que nos renova os corações e nos capacita e chama para as boas obras”.

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Agência ECCLESIA

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