Ecumenismo: «A fé vivida na diversidade e na unidade ao mesmo tempo dá uma dimensão diferente àquilo que é estar na cidade» – Pastora Rute Salvador, da Igreja Evangélica Presbiteriana

Patriarcado de Lisboa organiza ciclo de quatro diálogos cristãos sobre «Crer, na cidade», com a participação das diversas tradições cristãs

Lisboa, 24 abr 2025 (Ecclesia) – A pastora Rute Salvador, da Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal, defendeu a importância da fé para estruturar a sociedade, falando a propósito do ciclo de “quatro diálogos cristãos”, do Patriarcado de Lisboa, que se iniciam hoje.

“A fé vivida na diversidade e na unidade ao mesmo tempo dá uma dimensão diferente àquilo que é estar na cidade. A cidade de hoje não é o que seria sem a espiritualidade, sem a vivência religiosa, sem a vivência cristã”, afirmou, em declarações à Agência ECCLESIA.

“Crer, na cidade” é o nome da iniciativa que convida as diversas tradições cristãs para um ciclo de encontros sobre a atualidade do Credo, com a participação da Igreja Católica, Igreja Ortodoxa, as Igrejas do Conselho Português de Igrejas Cristãs (COPIC), comunidades e organizações várias inscritas na Aliança Evangélica Portuguesa.

O padre Peter Stilwell, diretor do Departamento das Relações Ecuménicas e do Diálogo Inter-religioso do Patriarcado de Lisboa, refere que uma das preocupações da iniciativa se prendeu com juntar organizações e movimentos que “tornam presente” o “sentido de cuidado pela cidade no seu dia a dia”.

“[O] patriarca pretendia escutar estas sensibilidades de quem tem a experiência quotidiana e depois fazer uma proposta, eventualmente subscrita por quem quisesse, de um olhar cristão sobre a cidade”, indicou.

Alfredo Abreu, da Associação AMIGA, que tem um olhar atento sobre a cidade vulnerável, destaca que tem na fé cristã o “motor principal do crescimento” da própria humanidade, realçando que é disso que a cidade necessita.

“A cidade precisa que os cristãos não apenas encontrem esse espaço comum, mas hajam também, de forma comum, a favor da humanização da cidade”, realçou.

O também fundador do movimento “Serve the City”, que junta voluntários e pessoas em situação de sem-abrigo e isolamento em jantares comunitários, considera que é “absolutamente importante reconhecer o valor sagrado de cada pessoa e isso nem sempre acontece”.

“Há muita gente esquecida e eu penso que o pior pecado e a pior doença da cidade é mesmo invisibilidade. Nós fomos criados para pertencer e quando não pertencemos, nós definhamos”, disse.

“Pelo contrário, quando pertencemos, ainda que por momentos, ainda que em ocasiões pontuais, nós florescemos”, assinala Alfredo Abreu, dando o exemplo do ‘Serve the City’, que organiza muito a sua ação à volta da mesa, “onde toda a gente se senta de igual para igual”.

Segundo o também membro da Aliança Evangélica Portuguesa, “a fé cristã não é separável da mesa”: “Nós também celebramos a Eucaristia, cada um à sua maneira, que é a chamada de Jesus à sua mesa. E foi nessa mesa que ainda somos chamados a estar, que somos convidados dele”.

“Crer, na cidade” é, de acordo com a pastora Rute Salvador, também uma forma de Igrejas Cristãs estarem juntas, falarem e partilharem o que fazem e sentem, ainda para mais havendo na sociedade portuguesa, por razões históricas, “um grande desconhecimento sobre as várias denominações cristãs”.

“Ver que diferentes Igrejas cristãs conseguem estar juntas, partir e conversar e trabalhar, a partir daquilo que os une e que é essencial e que é a fé em Jesus Cristo, e não estão centradas em debater as suas diferenças ou a tentar provar que têm mais razão um do que o outro, é essencial para o amadurecimento da fé e o reconhecimento pela sociedade”, salientou.

A pastora Rute Salvador, da Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal, observa que há umas décadas, iniciativas que aconteciam em conjunto, ao nível ecuménico, eram “a exceção”, e que, neste momento, “tendem a ser a normalidade”.

“E isso é fundamental para dar testemunho do que é a fé cristã na cidade”, considera.

Além das celebrações em conjunto entre as Igrejas Cristãs, que já acontecem, a pastora Rute Salvador defende que “falta dar o passo”, isto é, realizar outras iniciativas em conjunto, como de intervenção social.

“O cuidar do outro, o tornar a vida dos mais desfavorecidos da cidade um pouco melhor, é uma forma de ser congruente com a fé cristã que professamos”, entende.

“Não é uma forma de nos tornarmos mais perfeitos, não é para ficarmos mais próximos de Deus, mas é uma forma de mostrarmos que isso faz parte de nós, porque ser cristão também é isso. E isto falta, muitas vezes, fazer em conjunto”, acrescenta a pastora Rute Salvador.

O primeiro encontro dos quatro diálogos cristãos acontece hoje, pelas 21h30, na igreja de São Maximiliano Kolbe, em Chelas, com o tema «Creio em Deus Pai», incidindo sobre «Criação – Bondade da natureza e responsabilidade humana».

Os outros três diálogos realizam-se no dia 1 de maio, sobre “Creio em Jesus Cristo”, no anfiteatro do Colégio São João de Brito, no Lumiar; no dia 8 de maio, com o tema “… por nós foi Crucificado”, na paróquia de Nova Oeiras; e no dia 15 de maio, debate-se sobre “Creio no Espírito Santo”, na paróquia de Rio de Mouro.

A iniciativa surgiu a propósito da celebração dos 1700 anos do Concílio de Niceia, em que se formulou a primeira versão do ‘Credo’ que hoje todas as confissões cristãs professam.

HM/LJ

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