Padre Manuel Ribeiro, Diocese de Bragança-Miranda
Vivemos tempos conturbados, tempos onde é difícil estarmos a sós connosco mesmos, em parar para cuidar de nós, para retemperar forças, para nos posicionarmos em ordem a um bem maior e em parar para respirar a vida, particularmente, a vida de Deus e na comunhão com Ele.
Por isso, promovemos um retiro no Santuário do Imaculado Coração de Maria, em Cerejais. Este quis ser uma oportunidade singular para pararmos, para respirarmos e para ressignificar a nossa vida e as nossas opções fundamentais, particularmente no que à dor e ao luto dizem respeito.
Seguindo uma metodologia assente no silêncio, na escuta da Palavra e no diálogo íntimo com Deus, com o obejctivo último de trabalharmos a dor e o seu processo à luz do Evangelho, compreendendo-o e aceitando-o como uma plena configuração a Cristo Jesus, este retiro foi um tempo privilegiado para nos questionarmos sobre o luto e como nos posicionamos diante e perante ele. Perguntas como: que me aconteceu? O que é o luto? O que é a morte? Só há luto quando há morte? Fazer o luto é esquecer? Com o tempo passa a dor, a memória ou a saudade? É normal sentir-me ‘zangado’, esquecido e abandonado por Deus? O que nos diz a esperança cristã e a doutrina da Santa Igreja?
Devemo-nos permitir ser nós mesmos. E deixar que isso aconteça é, por si, a meta última deste momento de silenciamento e de escuta, de confronto e de enfrentamento, de cura e de aceitação, de amor e de perdão. Este retiro, na verdade, quis ser provocador de encontros: do encontro vital comigo mesmo, com a minha dor e como os ‘eus’ do meu eu; e do encontro fundante e fundamental no amor misericordioso de Deus.
Sabemos que a espiritualidade desempenha um papel basilar no processo da perda e do luto. Aqui encontramos um ambiente propício para o (verdadeiro) re-encontro com Deus. Não somente na procura de encontrar n’Ele o consolo e o conforto que necessito, mas, essencialmente, aprender a viver sob o horizonte da Esperança que nos projecta para futuro com alegria e entusiasmo.
Ousemos parar nesta Santa Quaresma. Não tenhamos medo de ter medo e, muito menos, não tenhamos medo de ter medo de chorar. Que este Tempo Santo seja para nós uma ocasião privilegiada para abrir o nosso coração em ordem ao consolo e à paz que somente no Sagrado Coração de Jesus podemos encontrar. Ouse entregar-se a Deus. Ouse ter a Paz.