Lisboa, 26 ago 2011 (Ecclesia) – O bispo do Porto sublinhou esta quinta-feira o “princípio geral de que quem mais ganha é quem mais contribui”, e defendeu que a participação dos mais ricos na recuperação da economia não implica o pagamento de novas taxas.
A contribuição “pode significar mais investimento, criação de postos de trabalho e ampliação de mercados”, sustentou D. Manuel Clemente em entrevista à TVI, acrescentando que “há muita maneira” de as riquezas serem postas “a render em benefício de todos”.
O prelado escusou-se a comentar a criação de um imposto sobre as pessoas mais ricas por se tratar de uma questão com vantagens e desvantagens e afirmou que está “muito atento” ao cumprimento da promessa feita pelo Governo de poupar as pessoas com menos recursos.
O também presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais diz que é “visível” o agravamento da “quantidade de pessoas com muita dificuldade em satisfazer as suas necessidades básicas” mas salientou que a resposta “vai sendo dada”.
“O problema de fundo, e mais complexo, é a reconstrução das vidas: o que é que vão fazer as pessoas que ficam desempregadas a meio da vida ativa? Este tipo de dificuldades é que requer soluções novas”, apontou.
As críticas que a Igreja Católica dirigiu ao anterior Governo, chefiado por José Sócrates, foram “afirmações pontuais”, relacionadas nomeadamente com o financiamento de instituições de solidariedade social e escolas particulares.
Os atuais governantes “têm por si o facto de terem deixado carreiras, geralmente universitárias e bem remuneradas, para acorrer a um serviço público de enormíssima responsabilidade, num momento particularmente grave e com uma grande dependência internacional”, referiu o historiador.
Depois de pedir ao Executivo e às “forças sociais” para serem “muito claros e objetivos”, mantendo a população informada, o prelado realçou que o momento atual exige que a sociedade esteja unida: “A solidariedade quer dizer isto: temos de ser todos para tudo”.
A discussão sobre a interrupção voluntária da gravidez, assunto também abordado na entrevista, precisa de um “debate muito mais alargado” antes da eventual realização de um novo referendo: “É absolutamente necessário refletirmos como é que nos posicionamos face ao direito à vida”, o “primeiro dos direitos humanos”.
“No último referendo grande parte de nós não se pronunciou exatamente sobre a questão da vida mas sobre se a mulher que abortava devia ou não ser presa”, o que constituiu um “desvio na orientação do debate”, considerou D. Manuel Clemente, para quem a atual lei “não serve” e deve ser revista “democraticamente”.
Referindo-se à ordenação sacerdotal das mulheres, o bispo do Porto explicou que “há uma questão antropológica em aberto”: a “valorização do feminino e do masculino como uma igualdade complementar”.
Questionado sobre se há obstáculos teológicos que impeçam a ordenação, D. Manuel Clemente respondeu que no cristianismo as matérias “de Deus e do homem interpenetram-se profundamente”, pelo que “se a questão é antropológica, então também é teológica”.
RM