Economia: Portugal precisa de um primeiro-ministro disponível «para aprender com os erros», diz professor universitário

Crise atual é «trágica demonstração dos perigos de deixar a condição humana entregue a si própria»

Lisboa, 11 jan 2013 (Ecclesia) – Portugal precisa de um primeiro-ministro “sempre disponível para se adaptar a novas circunstâncias e para aprender com os erros”, sustenta João Meneses, coordenador do Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenção Prioritária da Mouraria, do Município de Lisboa.

“Seria necessário um primeiro-ministro com outro tipo de espessura, que percebesse a importância da esperança, do crescimento económico, dos consensos políticos, de se renegociar com a troika”, acentua o professor do ISCTE-IUL em artigo publicado na mais recente edição do Semanário ECCLESIA.

Depois de referir que o Executivo dirigido por Pedro Passos Coelho tem um “perfil dogmático e liberal”, o fundador da Tese, Associação para o Desenvolvimento, salienta que “a intenção anunciada, desde o início da legislatura, de ‘ir além da troika’ arrisca tornar-se numa fatalidade para o país”.

“Portugal (e as próprias metas estabelecidas pela troika) dificilmente resistirá à asfixia da classe média e do investimento, ao êxodo massivo de talento para o estrangeiro e à deterioração acentuada do Estado-providência”, assinala.

Para João Meneses o que tem valido ao país é “que, no meio (e à margem) da atuação do governo, há exemplos, cada vez mais globais e eloquentes, de portugueses empreendedores de sucesso, de novas iniciativas de participação cívica, e de modos de vida alternativos”.

“O meu conselho para 2013 é que os procuremos [exemplos] com atenção – porque, como disse recentemente Bento XVI, ‘se cai uma árvore, faz muito ruído, mas se mil flores se abrem, acontece no maior dos silêncios’”, aponta.

O autor considera que após o fim da “utopia socialista”, baseada num “projeto de sociedade coletivista e de Estado máximo” que se revelou “‘anti natura’ e cerceador do talento, da criatividade e da iniciativa”, o século XXI marcará o termo da “utopia liberal”.

“As desventuras de um sistema financeiro mal regulado que, em 2008, estiveram na génese da atual crise económica e social, constituíram mais uma trágica demonstração dos perigos de deixar a condição humana entregue a si própria”, frisa.

Para João Meneses o ideário de “‘Estado mínimo’, libertário e individualista, revela-se produtor de desigualdades e desequilíbrios humanos, sociais, económicos e ambientais injustos e insustentáveis”.

“Se os seres humanos fossem anjos, certamente ambos os modelos de sociedade seriam viáveis. Porém, como não são, só nos resta como solução uma verdadeira social-democracia, assente simultaneamente no papel do Estado, na iniciativa empresarial de mercado, na sociedade civil auto-organizada, e na ética individual – domínio no qual a Igreja tem um papel decisivo”, sustenta.

João Meneses sublinha que “a evolução dos últimos séculos, desde logo ao nível dos direitos humanos e sociais, dificilmente encontrará noutro modelo de organização política melhor defesa e continuidade”. 

RJM

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