Ecologia: Nova encíclica «antecipa-se muito bem à cimeira de Paris»

Diretor da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa destaca empenho do Vaticano em «marcar a agenda»

Lisboa, 16 jun 2015 (Ecclesia) – O diretor da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa (UCP) acredita que a nova encíclica do Papa sobre a Ecologia vai dar força a uma nova abordagem política sobre “um problema que afeta a todos”.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, José Miguel Sardica realça que com este texto Francisco se “antecipa muito bem à cimeira de Paris” sobre as alterações climáticas, que está agendada para o mês de dezembro.

Segundo aquele responsável, “à Santa Sé cabe marcar a agenda, cabe apelar e cabe sobretudo, ter a margem de influência que o Papa tem de marcar o debate”, quer público quer político, à volta de qualquer questão que seja estrutural para a sociedade e o bem-comum.

Neste prisma, José Miguel Sardica considera que a encíclica poderá “obrigar os decisores políticos a, pelo menos quando se sentam à mesa para decidir sobre as quotas que cada país tem em termos ambientais, terem um alerta de uma autoridade internacional importante sobre uma questão que não tem cor política, regime ou idade”.

Para o comentador da Agência ECCLESIA, “o Papa tem toda a razão” em debruçar-se sobre esta temática, já que hoje veem-se “tantas cimeiras, sobre aquecimento em geral, sobre quotas, sobre industrialização, sobre os países A, B ou C, cimeiras sobre tudo e mais alguma coisa, o G6, o G7, o G qualquer coisa, mas não se vê inverter as coisas”.

“Ou seja, pensar o desenvolvimento político e económico pensando que a montante temos recursos finitos, temos recursos naturais que apesar de todas as economias verdes não são maximizáveis ao ponto para chegarem a todos”, concretiza aquele responsável.

Até dezembro, em Paris, vão decorrer uma série de eventos destinados a definir um novo acordo climático global pós-2020, centrado na redução de emissões para limitar o aumento médio de temperatura em 2º.

José Miguel Sardica salienta que quando se fala em Ecologia, “desde os oceanos aos rios, ao ar, às águas, tudo isso são questões que estão para lá da política”, está em causa o “futuro” da humanidade.

Questões que, a não serem convenientemente resolvidas, “serão provavelmente a causa de muita tensão e se calhar de algumas guerras durante este século XXI em geral”, complementa.

Outro dado destacado pelo docente é que, com este documento, o Papa retoma “uma doutrina social da Igreja que sempre olhou para o cosmos, para o mundo natural no sentido muito respeitoso e no sentido de fazer com que o Homem se realize, respeitando os outros seres”.

Como aliás fez o seu “ilustre antecessor medieval, São Francisco de Assis”, quando em 1225 compôs o celebre Cântico das Criaturas, ao irmão Sol, à irmã Lua”.

Uma obra que já “num tempo em que não havia indústria”, realça José Miguel Sardica, exortava a sociedade a “não se servir do mundo à sua volta mas a inserir-se harmoniosamente nos seus recursos”.

A nova encíclica do Papa Francisco, intitulada “Laudato si, sobre o cuidado da casa comum”, é o 298.º documento do género na história da Igreja Católica e vai ser apresentada esta quinta-feira no Vaticano.

A encíclica, grau máximo das cartas pontifícias, tem um âmbito universal, onde o Papa empenha a sua autoridade como sucessor de Pedro e primeiro responsável pela Igreja Católica.

LS/JCP/OC

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Agência ECCLESIA

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