Ecologia: «Inteligência coletiva» das plantas é exemplo para a humanidade, perante crise climática, diz bióloga portuguesa

Margarida Zoccoli defende que paróquias e escolas católicas devem ser «exemplo irrepreensível» de compromisso ambiental

Foto: Lusa/EPA

Lisboa, 09 nov 2025 (Ecclesia) – A bióloga Margarida Zoccoli defendeu, na véspera do arranque da COP30, que a humanidade tem “muito para aprender com as plantas” e a sua “inteligência coletiva, face aos problemas, para superar a crise climática.

“As plantas estão sempre fixas, elas resolvem todos os seus problemas só com a inteligência coletiva e nós temos muito para aprender com as plantas”, refere a convidada da entrevista semanal conjunta Ecclesia/Renascença, emitida e publicada aos domingos.

A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30) vai decorrer entre os dias 10 e 21 de novembro, na cidade brasileira de Belém, no Pará.

“Se houvesse uma verdadeira consciência do estado do planeta, as pessoas agiriam de outra forma”, assinala Margarida Zoccoli, investigadora em alterações climáticas.

Para a especialista, as escolas e paróquias católicas “deveriam ser exemplo irrepreensível” na promoção de uma conversão ecológica ativa, sublinhando que a mensagem cristã fundamenta esta responsabilidade.

“O que nos diferencia dos outros seres vivos é a responsabilidade, e a obrigação de cuidar dessa criação que nos foi dada”, precisou, antes de recordar o magistério do Papa Francisco, “muito claro ao exigir que os cristãos tenham um papel ativo e visível”.

A docente, que é também entusiasta do movimento ‘Lixo Zero’, foi questionada sobre a necessidade de reforçar a literacia ambiental nas escolas e famílias, propondo a implementação da “sociocracia”, um método de decisão consensual.

Ao contrário das votações por maioria, que “geram sempre oposição”, a sociocracia avança “mais devagarinho”, mas sem recuos, permitindo “encontrar soluções que depois não são contrariadas por ninguém”.

A investigadora destacou o papel da encíclica ‘Laudato Si’ (2015), considerando que se viveu “uma espécie de revolução nesta matéria”, nas comunidades católicas

Margarida Zoccoli sente que a mensagem está a ser “bem acolhida” e destacou iniciativas como o Movimento ‘Laudato Si’ , a Rede Cuidar da Casa Comum e a recente certificação ‘Eco Igrejas’ em Portugal.

Para a bióloga, é fundamental “voltar a trazer a cultura do cuidado para as escolas, para as comunidades”.

“Neste momento estamos habituados a reagir; treinamos a reação e temos de voltar a valorizar a ação. E a ação neste momento é urgente”, vincou.

Foto: Ricardo Fortunato/RR

Sobre a metodologia ‘Lixo Zero’, que a sua escola na Casa Pia de Lisboa está a implementar por desafio do Brasil, explicou que o objetivo é “desviar de aterro 90%” dos resíduos.

No entanto, lamentou que em Portugal ainda só se esteja “timidamente a ousar falar em Lixo Zero”.

A nível nacional, Margarida Zoccoli criticou a demora na implementação das políticas ambientais, como a recolha de biorresíduos, obrigatória há quase dois anos.

“Ainda é residual, diria eu, a recolha de orgânicos, e à minha porta ainda não se faz”, exemplificou.

Para a investigadora, “se as políticas forem adequadas, as pessoas são levadas a agir de outra forma”.

Confrontada com o negacionismo climático de algumas potências internacionais, Margarida Zoccoli afirmou optar pela esperança, distinguindo-a do otimismo.

“Eu não estou otimista neste momento, mas tenho esperança”, partilhou.

“Otimismo é esperar que corra bem. Esperança é fazer tudo para que corra bem, independentemente do resultado”, disse ainda.

Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

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